Crítica do filme Elsa & Fred
Atuações que compensam um roteiro pouco criativo
Há pouco mais de um mês postei aqui no Café o caso entre o amargo Oren e a doce Leah, ambos viúvos e com perspectivas distintas sobre como dar continuidade à própria vida. Ela, tão meiga e carismática, consegue amolecer o coração do vizinho carrancudo que até então não fazia questão de ser alegre e realizar qualquer atividade prazerosa.
Esse é o tipo de enredo que me faz ativar o modo paranoico: deve existir, em algum canto desse mundinho, uma biblioteca com número limitado de histórias-base das quais são produzidos “novos” títulos dentro dos mesmos moldes. O espaço de consulta onde os roteiristas encontram o material que disfarça a falta de criatividade com inspiração forjada em copy-paste.
Precisamente com o mesmo formato, “Elsa y Fred” é um filme hispano-argentino lançado em 2005 e que terá seu remake estadunidense estreando em nossas telonas na próxima quinta-feira. O que não significa que seja desperdício de tempo, pois os ingredientes que temperam esse clichê até que o transformam em algo digno de apreciação.
Christopher Plummer faz o papel de vovô Fred da vez, com sua filha e genro interesseiros lhe dando razão para se sentir cada dia mais desapontado e sem ânimo. Mudar-se para o apartamento, com janelas que o expõe aos olhares pouco discretos de Elsa (Shirley MacLaine), tem efeito devastador na vida do senhorzinho hipocondríaco que sempre optou pelo rigoroso planejamento de suas ações.
Aos poucos Elsa vem se aproximando e bagunçando o que vem pela frente, perseverante e atrevida, com objetivo de tornar suas experiências mais significativas e intensas. Preservada a negligência da mentalidade adolescente num corpo de vovó, ela carrega o antigo sonho de ir até Roma recriar a cena da Fontana di Trevi de “A Doce Vida”, clássico filme de Federico Fellini.
Admiráveis são os métodos que a velhinha utiliza para persuadir seu vizinho e o resto da humanidade, colorindo suas falas com pequenas mentiras que tornam seus relatos mais empolgantes e a colocam numa posição de maior virtude. A narração da vez em que Pablo Picasso pintou um retrato dela jovem, entre outras invenções, nos coloca em constante dúvida sobre o que é real ou fantasioso na autobiografia de Elsa.
Esses pontos descrevem ambas as produções, porém a mais recente é dotada de melhores piadas e maior qualidade na atuação dos atores. Se é comum que os críticos apedrejem releituras, acredito que seja um tanto difícil com relação a Elsa & Fred, pois os diálogos ficaram mais enxutos e capazes de fazer rir com mais facilidade.