Crítica d'O Destino de Júpiter
A (des)genialidade incompreendida dos Wachowski
O ano é 1999, pré-bug do milênio, e você provavelmente fez a pergunta: O que é a Matrix? Essa coisa louca, que bombou na época, veio do filme de mesmo nome, escrito e dirigido pelos irmãos Andy e Lana Wachowski (esse segundo ainda chamado pelo seu nome masculino de Larry).
Matrix foi uma obra que revolucionou em diversos sentidos, principalmente na área de efeitos especiais e em conceitos narrativos, sendo responsável por unir, em uma mesma história elementos diversificados da ficção científica, literatura, HQ’s, animes, literatura, religião e muitos outros.
Seu sucesso de crítica e bilheteria deixou um grande legado para a história cinematográfica e um triunfo para seus próprios criadores. Ou não. O problema de se ter um filme como Matrix no currículo, é que as pessoas acabam elevando todos os níveis de análise para seus futuros trabalhos.
E 15 anos depois, o que temos? O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending), o mais recente trabalho e primeira criação original da dupla desde Matrix, que também traz os conceitos wachowskianos de unir várias culturas e estilos em uma mesma narrativa para criar um produto original. Porém, dessa vez as coisas não funcionam muito bem, e a película acaba se tornando, na verdade, uma grande salada de frutas científica (gênero original criado por este redator).
Sua trama traz a personagem titular Júpiter Jones, interpretada (e sejamos sinceros, uma atuação bem esdrúxula) pela atriz Mila Kunis, ao melhor estilo “sabe de nada inocente”, que nasce na terra, porém, acaba descobrindo que é a reencarnação da rainha do universo que tem direito de governar o planeta. Logo, todos querem sua cabeça, e apenas uma pessoa em toda a Via Láctea pode salvá-la da tirania dos vilões intergaláctico e dragões espaciais: Caine, o soldado lobo-mutante com orelha de elfo e botas antigravidade, interpretado por Channing Tatum (sim, tem tudo isso no filme, e muito mais). Nesta sinopse de poucas linhas eu consegui explicar praticamente uns 2% de filme.
Parece muita loucura, e é mesmo. O Destino de Júpiter não é um filme fácil de se entender no começo. Com meia hora de cinema, você praticamente não sabe nada o que está acontecendo em tela. Com mais meia hora de cenas, você começa a entender uma coisa ou outra. Com mais meia hora, você percebe que tudo aquilo que viu até agora, talvez não seja tão importante quanto curtir a bela imagem que vídeo proporciona e as lutas que podem rolar no embate final. Ou seja, o que sobressai no longa nada mais é do que a liberdade poética adquirida pelos Wachowski na era pós-Matrix; e o filme, se torna um grande videoclipe de música clássica.
Mila Kunis, que outrora nos abrilhantou com uma grande coadjuvante em Cisne Negro, claramente atua como se não acreditasse no papel e história que está fazendo. Channing Tatum é o herói-galã que faz tudo, menos mostrar que realmente gosta da moça principal.
Apesar de tudo, temos alguns pontos bem interessantes criados pelos irmãos em seu novo universo, como conceitos políticos e aristocráticos postos em uma escala espacial, o jogo do poder entre famílias e a religião posta como produto científico. Na história, a questão da reencarnação é explicada como um realinhamento de genes no DNA dos seres (ou mais ou menos isso), e a grande chave para a busca do poder infinito, é poder controlar o tempo e aumentar a duração do tempo de vida. Para isso, a grande sacada do filme é matar o “escolhido” e usar a terra como celeiro para criar humanos que servirão de combustível para as necessidades de um grande plano. Mas espera aí, o escolhido, utilizar humanos como combustível? Isso não parece um pouco familiar?
O Destino de Júpiter, no final, acaba sendo uma versão “hardcore” de Matrix, só que sem aquele impacto platônico e efeitos visuais que marcaram época. Os Wachowski, que trabalham tão bem com a filosofia em suas obras, acabam deixando ela de lado em prol da ação, sons fortes, explosivos e câmeras rodopiando por todos os lados. Assim, o longa não encontra seu “espaço”. Não sabe se vai ser o grande blockbuster do verão ou aquele grande filme cult que vai deixar perguntas no ar e reflexões para as próximas gerações.
Numa temporada com grandes lançamentos na telona, inclusive com os principais concorrentes ao Oscar (que neste ano estão muito bons), O Destino de Júpiter acaba sendo um peixe fora d’água e uma paródia de si mesmo.
A dona do planeta!