Câmara de Espelhos
Um olhar sobre o outro olhar: afinal, como os homens veem as mulheres?
Cineasta Dea Ferraz exibe "Câmara de Espelhos" em Recife
Premiada em importantes festivais na América Latina, com os títulos “Sete Corações” (2015) e “Alumia” (2009), Dea Ferraz exibe “Câmara de Espelhos” pela primeira vez no Recife, após grande repercussão no último Festival de Brasília.
A exibição do longa acontecerá em Mostra Especial do Janela Internacional de Cinema do Recife, no Cinema São Luiz, na segunda-feira (31), às 19h35. Na sequência, haverá debate com a diretora do filme. Na quinta-feira (3), Dea Ferraz também participará da mesa "Um cinema tomado por mulheres", a partir das 16h, no hall do São Luiz.
Construída dentro de uma caixa preta, a obra recorta o discurso masculino banal do dia a dia e expõe as violências sutis às quais são submetidas a mulher e sua imagem espelhada pela sociedade. Primeiro longa-documentário autoral de Dea Ferraz, a película é produzida pela Parêa Filmes, Ateliê Produções e Alumia Conteúdo em associação com a Janela Projetos por meio de incentivo do Funcultura/Governo de Pernambuco e recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) da Ancine e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).
Qual a imagem social da mulher? Como o mundo constrói a identidade feminina? Quem é a mulher num mundo historicamente patriarcal e machista? Partindo dessas premissas e dialogando fortemente como o momento sócio-político brasileiro, “Câmara de Espelhos” joga luz nos discursos subliminares das rodas masculinas e reposiciona a violência implícita que as palavras carregam. Depois de “Sete Corações” (2015), o novo longa-documentário da diretora recifense Dea Ferraz é o que ela considera sua obra mais autoral até aqui.
Resultado de uma pesquisa sobre os filmes-dispositivo e a tradição da linguagem documental, “Câmara de Espelhos” nasce de um anseio pessoal da realizadora: questionar lugares de violência e invisibilidade nos quais as mulheres vivem diante do consumo de imagens, inclusive delas mesmas.
Funcionando por meio de um dispositivo específico, a de uma caixa preta mal acabada com regras e modus operandi constantes, o longa-documentário propõe a reflexão a partir de uma imagem-símbolo que desvela sentidos, falas e microespaços de poder."‘Câmara de Espelhos’, para mim, é a possibilidade de jogar luz nesse discurso subliminar, aparentemente banal, que parece invisível e que tantas vezes deixamos passar porque ‘não é tão grave’, como dizem alguns. Com o filme, tento dizer é gravíssimo", afirma Dea Ferraz, que divide o roteiro com a montadora Joana Collier.
Convidados a participar de um “jogo” em que, espontaneamente, emitem suas opiniões e reflexões dentro de uma sala de estar rodeada por uma caixa preta, ao todo 14 homens, divididos em dois grupos, participam como voluntários de uma conversa informal que remete a uma mesa de bar tipicamente masculina, também com suas regras, formatos e discursos pré-estabelecidos.
"‘Câmara de Espelhos’, para mim, é a possibilidade de jogar luz nesse discurso subliminar, aparentemente banal, que parece invisível e que tantas vezes deixamos passar porque ‘não é tão grave’, como dizem alguns. Com o filme, tento dizer é gravíssimo"
A partir da relação “personagem-personagem”, sem a participação efetiva da diretora e mediante apenas a instrução sonora, os homens interagem entre si e comentam a exibição de vídeos sobre os mais diversos temas, desde aborto, passando por sexo e casamento até violência. Graças ao aspecto aberto do dispositivo, o doc. trouxe nuances e expectativas inesperadas. “Não há nenhum contato dos homens com a direção.
E o fato de termos as câmeras "escondidas" - eles não sabiam a posição específica de cada câmera, mas sabiam que estavam sendo filmados - causou um deslocamento de atuação que gosto muito. Eles atuam entre si, uns para os outros, mais do que para as câmeras objetivamente”, antecipa Dea. “Não imaginei que o documentário seria tão violento. Na verdade, imaginava que seria difícil trazer à tona esse discurso naturalizado do machismo para dentro de uma sala cheia de câmeras e com o consentimento dos personagens, mas o que vi e vivi foi muito mais forte do que poderia imaginar”, conta.
Fonte das imagens Janela Internacional de Cinema do Recife
Um olhar sobre o outro olhar: afinal, como os homens veem as mulheres?