Netflix com preço de TV a cabo | O consumidor vai pagar ou vai voltar ao pirata?
Foi se o tempo em que a Netflix era a grande salvadora da humanidade, a revolução do mundo do entretenimento, que viria para aniquilar o grande império das locadoras e trazer a esperança mundial de filmes e séries incríveis para os mais necessitados que não precisariam mais apelar para a ilegalidade. Hoje, a Netflix virou a vilã da história.
De tempos em tempos, a polêmica dos preços exagerados dos streamings volta à tona. Tirando raras exceções como a Amazon, que raramente é criticada (já que ela cobra só R$ 9,90 pelo pacote Prime, que inclui o Prime Video), muitas das companhias deste vasto segmento já foram alvo de longos debates no Twitter.
Não é para menos, já que há uma enorme discrepância entre quase R$ 10 no combo da Amazon (que custa ainda menos na assinatura anual) e o valor de R$ 55,90 do plano família da Netflix, que começa a valer a partir de hoje (22). Trata-se de um aumento de 20% no valor da assinatura, porcentagem que será aplicada em todos os planos Netflix.
Apesar do choque pelo número exagerado, é importante a gente pensar o que levou a Netflix a tal preço e se o problema está mesmo no aumento, na nossa mentalidade, na condição do povo brasileiro, na falta de concorrência ou em todos esses fatores ao mesmo tempo. Vamos com calma para entender como chegamos até aqui.
Era uma vez o fim da TV a cabo...
Eu não sei vocês, mas eu ainda lembro como muitas pessoas argumentavam que a Netflix iria matar não apenas as locadoras, como também seria o fim das TVs por assinatura. O argumento era óbvio, já que a Netflix era muito barata, oferecia muitos filmes e entregava um diferencial importantíssimo: a comodidade.
De fato, essa previsão tinha um excelente fundamento e acabou se concretizando em partes. Hoje, as locadoras são memórias distantes e quase tão raras que logo estarão estampadas apenas em livros de história e quadros de museus. O mesmo vale para as lojas especializadas em filmes nos formatos de mídia física.
Segundo os dados da Anatel, o total de acessos das TVs por assinatura caiu 8,3% de maio de 2020 para maio de 2021, o que representa quase 1,3 milhão de assinaturas canceladas em 12 meses. Ao longo dos últimos cinco anos, o total de acessou caiu de quase 19 milhões lá em 2016 para menos de 14 milhões em 2021.
Não é o fim da TV por assinatura, mas certamente é um tombo enorme todos os meses. Só para fins comparativos, segundo os dados da FGV, no ano passado, a Netflix contava com mais de 17 milhões de assinantes no Brasil, ou seja, um único serviço de streaming superava todos acessos de todas as operadoras de TV por assinatura.
O que isso significa? Nada além do óbvio: há mais pessoas dispostas a pagar cerca de R$ 20 ou R$ 30 num streaming do que consumidores com orçamento abastado o suficiente para investir cerca de R$ 100 num plano básico de uma TV por assinatura (plano que sequer conta com o acesso através de uma plataforma online).
Vale notar que não estamos falando de pacotes com canais específicos de filmes (como HBO e Telecine), mas de pacotes com vários canais “abertos” (os famoso canais grátis que chegam até sua casa sem você precisar pagar nada) e com os canais mais baratos (os quais você paga e ainda tem que assistir centenas de comerciais).
Com a impossibilidade de escolher o que assistir e quando assistir, a TV por assinatura perdeu muito nessa batalha e abriu não apenas uma brecha, mas uma cratera enorme para os serviços de streaming. O que antes era uma possível ameaça por parte da Netflix, hoje é um problema gigante com os tantos concorrentes digitais.
Para tentar competir, várias operadoras de TV por assinatura criaram suas versões de streaming, como é o caso do SKY PLAY, que oferece então essa possibilidade de desfrutar dos canais e conteúdos de forma digital. O problema é que muitas vezes é preciso desembolsar um valor bem mais alto para não ter uma experiência tão boa.
O Tsunami dos Streamings
Com o lento declínio das TVs por assinatura, muitas emissoras que têm seus próprios canais com conteúdo ao vivo viram que já havia passado da hora de nadar sozinhas, uma vez que a parceria com as TVs impactou em seus lucros. A brilhante solução de todas as companhias foi criar seus próprios streamings.
Algumas empresas já estavam nesse segmento há um bom tempo, como é o caso da HBO e do Telecine, sendo as pioneiras em cobrar valores astronômicos para dar acesso aos conteúdos digitais. Por muito tempo, ambas insistiam no modelo de liberar o streaming apenas para quem contratava seus pacotes dentro das TVs por assinatura.
Deu certo por um curto tempo, depois deu errado por um longo tempo. Prova disso é a porta que elas abriram para novos usuários contratarem seus respectivos pacotes de streaming: a HBO GO e o Telecine Play. O problema é que nenhuma queria lucrar menos, com isso era preciso desembolsar quase R$ 35 por cada assinatura.
De lá para cá, a gente viu não apenas uma onda, mas um verdadeiro tsunami de novos streamings, afinal todo mundo quer sua fatia nessa fortuna do entretenimento. Hoje, várias emissoras já têm seus respectivos serviços: Globoplay (que por sinal é a dona do Telecine), Disney+, STAR Premium (que é a antiga FOX e é da Disney), STAR+ (mais uma variante da FOX que deve ser lançada em breve), MGM, Paramount+ e Noggin – só para citar alguns canais que viraram apps.
Todavia, a brincadeira não parou por aí. Aliás, antes até mesmo de algumas marcas famosas criarem seus streamings, nós vimos outros serviços na área: Looke, STARZPLAY, Crunchyroll, MUBI, Apple TV+ e mais outros tantos focados em nichos específicos.
O resultado dessa história você já conhece: há tantas opções, que se somarmos o valor de todos esses serviços, o montante supera alguns pacotes de TV por assinatura. Pois é, parece que o mundo não apenas dá voltas, mas ele tomba!
A TV a cabo 2.0 chegou!
Assim, surgiu uma nova categoria que tenta misturar o melhor dos dois mundos: a TV por assinatura totalmente digital. No Brasil, o principal nome dessa onda é a DirecTV GO. Pois é, há muito tempo, numa galáxia não tão distante dos streamings, havia a operadora DirecTV, que foi engolida pela SKY.
Hoje, a DirecTV GO é a ressurreição do serviço que era adorado por muitos, mas com uma nova proposta: uma TV por assinatura totalmente digital (que, portanto, depende de internet) com vários canais ao vivo (sendo possível incluir Telecine, HBO e outros), mas também com um catálogo por demanda, ou seja, vídeos que você pode dar play a qualquer momento, como num streaming mesmo.
E o melhor: a DirecTV GO não chega nem perto do valor de uma TV por assinatura tradicional. No momento desta publicação, a DirecTV GO tinha o custo de R$ 69,90 por mês ou R$ 699 por ano. É barato? Não é, mas é mais acessível do que as TVs tradicionais e custa pouca coisa mais do que a Netflix (apesar de que aqui há prós e contras para serem debatidos).
A TV por assinatura totalmente digital tem a vantagem de não exigir um aparelho dedicado, já que você pode usar o mesmo modem e roteador que já tem em casa. No caso das TVs a cabo ou via satélite tradicionais, é preciso comprar um aparelho separado ou emprestar um (com um valor cobrado mensalmente) pelo esquema de comodato.
A DirecTV GO chegou de mansinho no Brasil e chamou muito a atenção neste ano ao oferecer um pacote com HBO sem acréscimo de valor, sendo que os assinantes podem ter acesso à HBO por 2 anos sem pagar nenhum adicional. E, mais recentemente, o mesmo combo dá o acesso ao HBO MAX.
Por que a Netflix aumentou o valor?
A Netflix não revela um motivo para o aumento repentino em seus planos, mas este é o primeiro aumento após quase dois anos sem reajustes de valor. Aí, você deve estar se perguntando: Quanto custa a Netflix em 2021? Bom, atualmente, a Netflix tem os seguintes planos:
- Básico: resolução 480p / reprodução em apenas um aparelho – R$ 25,90
- Padrão: resolução 1080p / reprodução em dois aparelhos – R$ 39,90
- Premium: resolução 4K com HDR / reprodução em quatro aparelhos – R$ 55,90
Bom, o detalhe é que muitos assinantes reclamaram e isso deve resultar em muitos cancelamentos de assinaturas, o que é perfeitamente normal, já que a Netflix tem uma série de restrições em seus pacotes (como a resolução 4K que só está disponível no combo de R$ 55,90) e que o preço não faz sentido frente à concorrência.
Serviços como Amazon Prime Video, HBO MAX e Disney+ oferecem a resolução 4K e possibilidade de ver em vários aparelhos por preços muito mais acessíveis. Assim, considerando os preços e a oferta de outros conteúdos bem atraentes, não é de se assustar que as pessoas realmente cancelem a Netflix e optem por outros streamings.
Por outro lado, a Netflix tem sua razão de elevar os preços e manter essa divisão específica entre os diferentes pacotes. Explico: na teoria, o plano Premium pode ser usado por 4 pessoas que moram na mesma casa – ou seja, é um plano familiar –, mas na prática as pessoas pegam esse valor e dividem com outros amigos, de modo que o valor ficava na faixa dos R$ 11 reais.
É claro que tudo isso é teoria, porque nada impede que ainda mais pessoas usem um mesmo login e o preço fique ainda mais acessível, algo que também funciona com outros pacotes da Netflix. Dessa forma, o reajuste para ser uma forma de a empresa compensar essa divisão de logins.
Qual streaming é o melhor? Como assinar tudo isso?
Toda essa questão da Netflix nos leva ao debate da enorme gama de streamings que “dificultou a vida” do consumidor, já que os filmes e séries que antes estavam em um ou dois serviços, agora estão espalhados em dez apps diferentes.
É óbvio que ninguém é obrigado a usar todos os apps do mundo, mas a realidade é que as pessoas muitas vezes querem consumir conteúdos que não estão em seus atuais serviços de streaming. Assim, resta duas opções: assinar vários serviços ou optar pela ilegalidade, algo que ainda é muito forte no Brasil.
Aí surge a questão, afinal, qual é o melhor streaming? A Netflix continua com toda essa moral ou a saída de vários títulos do catálogo a tornou numa opção menos atraente? A resposta para essa questão depende apenas de cada consumidor, já que isso varia conforme os gostos pessoais.
Já a resposta para “Como assinar todos os streamings?” é bastante simples: basta ter muito dinheiro, o que não é realidade de uma grande parcela da população, aliás, provavelmente apenas uma minoria tem condições para bancar dois ou três streamings, o que fica ainda mais inviável se forem serviços com o valor da Netflix.
Assim, o que devemos ver a partir de agora com essa polêmica da Netflix é uma enorme quantidade de usuários optando pelos serviços concorrentes. A própria Amazon já até publicou um tweet dando as boas-vindas aos novos assinantes.
Além disso, é possível mesmo que muita gente deixe de assinar os streamings e voltem (ou continuem) apelando para os conteúdos de forma ilegal. Seja como for, é inegável que todo esse tsunami de conteúdos digitais deve resultar numa grande bagunça.
Agora, conta aí, o que você achou dessa mudança repentina dos valores da Netflix? Você vai continuar como assinante? Ou já está estudando a opção de outros serviços? Seja como for, desejo boa sorte na escolha dos seus streamings favoritos!