Crítica do filme O Tigre e o Dragão: Espada do Destino
O legado continua na Netflix
Pelo que vale a pena lutar?
A Netflix ligou há algum tempo o botão do saudosismo, ressuscitando várias séries que fizeram sucesso no passado. E a fórmula vem dando certo, visto que agora o serviço de streaming também está visando os investimentos para os seus filmes próprios.
O Tigre e o Dragão: Espada do Destino é o primeiro longa lançado pelo serviço focado no mercado da nostalgia – área que está em alta ultimamente com várias franquias da cultura pop voltando à tona, como Star Wars, Os Caça Fantasma, Exterminado do Futuro e tantas outras.
Jogado há anos no limbo por questões judiciais e de financiamento, a continuação direta do épico chinês O Tigre e o Dragão, vencedor de quatro Oscars (incluindo melhor filme em língua estrangeira), finalmente ganhou vida e está disponível para todos os assinantes. Desta vez quem dirige é Yuen Woo Ping, famoso coreografo de lutas e cenas de ação, como de Matrix; o escritor John Fusco, de O Reino Proibido, fica responsável pelo roteiro, o qual novamente é baseado na chamada pentalogia Garça-Ferro, série de cinco livros escritos pelo chinês Wang Du Lu (1909-1977).
A franquia é chamada assim (Crane-Iron Series) porque junta os nomes do seu primeiro e último capítulo, os quais são: 1) Crane Frightens Kunlun, 2) Precious Sword, Golden Hairpin, 3) Sword Force, Pearl Shine, 4) Crouching Tiger, Hidden Dragon e 5) Iron Knight, Silver Vase.
O primeiro filme O Tigre e o Dragão, lançado nos anos 2000 e dirigido por Ang Lee, é a adaptação do quarto livro. Já a continuação da Netflix adapta o quinto livro: Vaso de Prata, Cavaleiro de Ferro.
Nessa nova história, o mundo vive na iminência da guerra, após 18 anos da morte do mestre das artes marciais Li Mu Bai. A protagonista Yu Shu Lien, novamente interpretada por Michelle Yeoh, retorna a capital para prestar suas condolências a morte do Sr. Te, guardião da lendária espada de Li Mu Bai, a Destino Verde. Sem o seu protetor, a espada fica vulnerável, e Hades Dai, o novo vilão, fará de tudo para obter a arma mais poderosa desta era. Assim, Shu Lien precisa reunir novos guerreiros para proteger a Destino Verde – lutadores que estejam prontos para morrer pela causa.
O Tigre e o Dragão: Espada do Destino a princípio retoma a mesma premissa do seu antecessor e o mesmo MacGuffin – termo inventado por Alfred Hitchcock para designar o objeto central de uma história – neste caso a espada Destino Verde. Temos as mesmas tentativas de roubo, os mesmo conflitos internos das personagens, as questões de honra e as delicadas lutas extremamente coreografadas. Porém, o novo filme de Wuxia (gênero cinematográfico chinês que mistura fantasia e artes marciais), tem bons momentos e cenas de ação que são dignas do estilo.
Há, por exemplo, a velha passagem do mestre ensinando o aprendiz: Yu Shu Lien manda sua pupila, Vaso de Prata, atravessar o furo de uma moeda que está balançando em forma de pêndulo em uma árvore, estando de costas. Ao melhor estilo Yoda/Luke, a aprendiz se revolta, dizendo que é impossível. Yu Shu Lien, na maior calma possível, entra em harmonia com seu espírito e resolve teste na primeira tentativa.
Novos personagens são apresentados, cada um com personalidade e estilo de luta diferente, formando praticamente uma equipe de “Vingadores” das artes marciais, e que tornam a trama maior e mais dinâmica. Um deles é a adição ator Donnie Yen, famoso por filmes como O Grande Mestre (Ip Man).
Yen e os demais lutadores errantes somam a drama não apenas nas cenas de ação, mas também na história em geral. Já Michelle Yeoh está mais uma vez impecável, parecendo que não envelheceu nem um ano. A atriz passa toda a força de sua personagem, seja na esgrima ou no relacionamento com os demais. Ela é a verdadeira representação do Caminho de Ferro, filosofia do guerreiro apresentada no filme.
É interessante ver que o mesmo aspecto de diversificação de gêneros que consagrou o primeiro filme também se mantém na sua continuação. Ou seja, não são apenas lutas nos telhados e busca pela espada lendária, mas principalmente questões dramáticas que tornam O Tigre e o Dragão: Espada do Destino uma sequência à altura, único fato que justifica uma sequência do clássico 16 anos depois, além do dinheiro e do aumento de assinantes.
Infelizmente, a obra literária não possui ainda tradução para o português nem para o inglês, então, se você quer se aprofundar na mitologia criada por Wang Du Lu terá que aprender mandarim ou torcer para a Netflix produzir mais filmes desse universo.
Confira o trailer deste filme dirigido por Woo Ping Yuen