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Alucinações do Passado | Trailer oficial e sinopse

Jacob (Tim Robbins) é um ex-soldado no qual a Guerra do Vietnã deixou marcas profundas e irreversíveis. Constantemente, Jacob vê seres estranhos ameaçando-o de morte, com suas lembranças familiares do passado se misturando a alucinações desconexas de algo que aconteceu na guerra e alterou radicalmente sua percepção da realidade. Contando apenas com o apoio de sua namorada, Jezebel (Elizabeth Peña), e de seu amigo Louis (Danny Aiello), Jacob tenta descobrir a causa verdadeira de seus delírios.

Crítica do filme Fantasmas | Mistérios sem muitos critérios

Eu adoro um bom suspense com pitadas de terror, o que me motiva a embarcar em sugestões de filmes — sejam novos ou velhos — com algum tom de mistério.

Foi numa dessas conversas sobre títulos marcantes do gênero que minha querida namorada sugeriu de darmos uma chance pra uma obra cheia de mistérios, lá de 1998, chamada “Fantasmas”.

Com Ben Affleck, Liev Schreiber e Peter O’Toole no elenco e uma história sobre toda uma população que desapareceu da noite para o dia, este longa já tinha motivos de sobra para me prender a atenção, mas as maiores surpresas vieram mesmo no desenrolar da coisa.

O roteiro conta a história de duas irmãs, Lisa (Rose McGowan) e Jennifer (Joanna Going), que resolvem passar uns dias na cidade de Snowfield. Ao chegar lá, elas se deparam com uma cidade vazia, onde sobrou apenas alguns cadáveres — que morreram de formas inusitadas — e três policiais, que não são necessariamente os melhores detetives do mundo.

Com uma abordagem no melhor estilo video game, “Fantasmas” avança de um “mistério um tanto simples” para uma grande ameaça. Os protagonistas não são os mais gabaritados para resolução do caso, o que aumenta a sensação de impotência e deixa a trama apropriada para mais momentos assustadores. Embarque no trem da curiosidade e vamos falar mais do filme.

Atmosfera convincente

Não há dúvidas de que “Fantasmas” é um filme deveras curioso para a época em que foi lançado, ainda mais para espectadores que têm uma grande bagagem de experiências com jogos. É inevitável ver o filme e não ligar algumas cenas com a construção de sequências similares com as de games como “Resident Evil” ou “Silent Hill”.

A história de Dean Koontz não necessariamente toma como base os roteiros dos jogos (até porque alguns saíram depois do filme), mas a direção de Joe Chappelle tem alguma semelhança com os video games. Isso não é bom ou ruim do ponto de vista de filmagem, mas é um fator que contribui positivamente para o desenrolar da história de suspense e terror.

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O estopim que dá fogo para todo o mistério que vem na sequência é importante, mas certamente é a fotografia caprichada — com direito a muita névoa, ambientes com iluminação precária e cenários antigos — que dá o tom para o roteiro impressionar a plateia. Isso somado, é claro, à trilha cheia de nuances, a qual deixa o espectador bastante apreensivo.

Apesar de ser um filme datado, a maquiagem e os efeitos da época não são de todo ruim. Com direito a criaturas bizarras e cenas fortes que chocam pelo nível de nojeira, o longa faz questão de estampar os perigos que residem em Snowfield. Há referências óbvias a filmes como “Enigma de Outro Mundo”, mas isso não é de forma alguma prejudicial.

Entra em cena também os personagens (com atuações razoáveis) que dão consistência à investigação. Ben Affleck em toda sua jovialidade é o maior destaque, sendo um policial destemido e xereta. As irmãs que estão de passagem pela cidade também trabalham legal, ainda mais por transmitirem o medo de quem jamais imaginaria enfrentar tamanhas ameaças.

Fio condutor um bocado instável

Se por um lado, o roteiro de “Fantasmas” acerta no ponto do suspense, com toda essa atmosfera bem construída, por outro, ele acaba tropeçando nas próprias características que apresenta como base. Isso não desmoraliza a construção geral da trama, mas certamente deixa o espectador um tanto espantado com a mudança repentina no tom de abordagem.

O filme começa como um grande mistério, cheio de cenas assustadoras e um clima de enigma constante. Todavia, após avançar um tanto e ter uma lógica a ser seguida, a pegada do script tende muito mais para ação e nojeira, do que para o terror genuíno que poderia ser desenvolvido aqui.

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Ok, nem toda história tem os requisitos básicos para ser um grande terror, mas aqui havia o potencial para tal desenvolvimento do horror pautado no suspense. Dá a impressão de que o roteirista não sabia continuar o mistério e amarrou as pontas como deu para chegar ao clímax.

A história de “Fantasmas” pode funcionar e ser compreendida, porém é válido ressaltar que o filme demora em dar explicações, sendo que os mais atentos podem questionar várias coisas antes de elas serem devidamente resolvidas pelo roteiro. Um bom filme de suspense no geral, ainda mais pelo vilão que é surpreendente (e rende debate), mas não espere nada genial ou de outro mundo, já que algumas ideias são recicladas.

Crítica do filme Invocação do Mal 2 | O Terror em sua forma mais assustadora

Com tantos filmes de terror tomados por clichês estreando quase todos os meses, a gente fica até impressionado quando sai de uma sessão e pode dizer de boca cheia “esse sim deu medo de verdade”.

Não por acaso, muitos amigos que me acompanharam na pré-estreia de “Invocação do Mal 2” tiveram impressão similar desta nova obra de James Wan. Alguns mais suscetíveis aos truques cinematográficos ficaram até meio abalados com as cenas aterrorizantes, o que apenas evidencia as qualidades do filme.

Pois bem, apesar de o título sugerir uma continuação direta, esta sequência não faz uma ponte direta com o antecessor, tampouco exige que o expectador tenha visto o primeiro filme. Em “Invocação do Mal 2”, os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren vão para Londres com o objetivo de ajudar a família Hodgson a combater espíritos malignos que assombram sua casa.

Chegando lá, os investigadores descobrem que um antigo morador da casa voltou do mundo dos mortos para atormentar as crianças e tirar o sono da mãe que já sofre bastante para criar os quatro filhos. Em uma fase um tanto duvidosa, os profissionais ficam receosos de que o caso seja apenas uma encenação e precisam conseguir provas para que a igreja ajude os integrantes desta família.

Tensão do começo ao fim

Pensando em quem não viu o primeiro filme e até para dar uma incrementada na fama dos Warren, “Invocação do Mal 2” começa retratando uma curiosidade bem interessante sobre os detetives. Em uma cena bem montada, o longa leva os espectadores a um caso que não tem ligação direta com a trama principal, mas que deixa um gostinho de medo já marcante nos primeiros minutos de filme.

A partir disso, o filme dá uma descontraída para nos levar até Londres, longe de onde o casal de detetives costumava atuar em suas investigações. O clima é bem diferente no Reino Unido e a montagem com cenas antigas para levar a plateia para a época do caso é convincente. Não demora muito para sermos convidados a entrar na casa dos Hodgson. A partir disso, a paz e o sossego deixam a sala de cinema.

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A história segue de forma lenta até que os Warren entrem em evidência novamente, mas a ausência do casal acaba sendo benéfica, uma vez que o filme consegue desenvolver a trama sem depender dos poderes de Lorraine Warren e da coragem de Ed Warren. Além disso, essa abordagem mais focada na família britânica dá espaço para novos personagens e atores.

Com montagens simples e cenas que não parecem oferecer perigo, o filme deixa o público tenso e atento à telona. 

O roteiro se apresenta muito coerente, algo até bem evidente considerando o trabalho em conjunto dos irmãos Hayes (responsáveis por roteiros de filmes como “A Casa de Cera”, “Terror na Antártida” e “Invocação do Mal”), em parceria com James Wan (diretor do filme) e David Leslie Johnson (que escreveu o texto de “A Órfã”).

Contudo, ainda que a história se mostre muito interessante, o sucesso do filme só é alcançado graças ao esforço da novata Madison Wolfe (que interpreta a menina Janet Hodgson), da talentosa Frances O'Connor (a mãe Peggy Hodgson) e do jovem Benjamin Haigh (no papel do caçula Billy Hodgson).

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Apesar da inexperiência de alguns dos talentos mais juvenis, a inocência das crianças é explorada de forma inteligente, deixando a plateia com dó dos pequeninos, ao mesmo tempo em que a produção consegue pregar boas peças. Com montagens bem simples e cenas que não parecem oferecer perigo, o filme deixa o público tenso e atento à telona.

Referências claras e genialidade pontual

James Wan é um sujeito peculiar, que já mostrou sua familiaridade com o suspense e o terror desde que tomou as rédeas de “Jogos Mortais”. De lá para cá, o diretor australiano se mostrou ainda mais empenhado e criativo em filmes do gênero, incluindo aí “Sobrenatural” e “Invocação do Mal”.

Há uma construção de tomadas demoradas, em que a plateia é levada para perto da cena, fugindo dos clichês.

Em “Invocação do Mal 2”, Wan se reafirma como inovador ao apresentar boas ideias (ainda que algumas sejam inspiradas por outras obras) para impressionar o público. Há várias situações em que fica claro que o diretor pegou referências até mesmo de jogos como Silent Hill, como a cena no porão que está cheio d’água.

Outros títulos como “Horror em Amityville” e “O Exorcista” também marcam presença entre as principais bases para a composição de roteiro e visual de “Invocação do Mal 2”. Isso não é um problema de forma alguma, sendo até admirável ver que o diretor não poupou esforços para fazer a plateia ficar receosa quanto ao obscuro, com base no sucesso de outras grandes obras.

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Aliás, se tem uma característica que vale destaque aqui é a capacidade do diretor em prender a atenção do espectador na telona. Diferente de outros filmes em que alguns clichês óbvios só assustam pelo volume alto e a mudança súbita de câmera (a tal da técnica de jump scare), aqui há uma construção de tomadas mais demoradas, em que a plateia é levada para perto da cena.

Muitos planos-sequência convincentes, o abuso excessivo da escuridão (e brincadeiras com luz e sombra), o posicionamento de câmera irregular, uma cena em primeira pessoa, a trilha sonora de arrepiar e efeitos especiais de qualidade — com direito a criaturas que amedrontam qualquer um — garantem o sucesso da película.

O resultado não poderia ser diferente. “Invocação do Mal 2” se mostra um terror de primeira do começo ao fim, mantendo a plateia tensa e levando o público a pegar interesse pelo gênero. O longa eleva o nível e solicita que novas obras sigam uma cartilha que fuja do óbvio. Esperamos pelo próximo caso dos Warren com muita ansiedade.

Crítica do filme Pixels | Homenagem meia-boca com muitos clichês

Os estúdios de Hollywood já exploraram os jogos inúmeras vezes nos mais variados tipos de filmes. Temos aquelas adaptações toscas que não se parecem em nada com os games, algumas versões mais coerentes (caso de Silent Hill) e, agora, temos um filme com Adam Sandler que tenta prestar uma homenagem aos títulos mais antigos.

Sinceramente, eu não tenho nada contra o Adam Sandler, aliás, eu até defendo a boa vontade dele em alguns casos. Ele já fez alguns (poucos) filmes legais em sua carreira, mas parece que ninguém disse pra ele que seus dias de comediante acabaram há algum tempo. E aí que ele resolveu trazer toda sua turminha de volta para encarar uma parada dura.

No filme Pixels, acompanhamos a invasão de seres extraterrestres que decidiram vir à Terra após receber um arquivo em vídeo com imagens de jogos de arcade clássicos e interpretá-lo como uma declaração de guerra. Os alienígenas resolvem atacar nosso planeta usando esses jogos como modelos para suas várias ofensivas.

Para tentar impedir o caos, o presidente Will Cooper (Kevin James) busca ajuda de seu melhor amigo Sam Brenner (Adam Sandler), que era um campeão dos fliperamas nos anos 1980. Agora, Brenner — que é um instalador de produtos eletrônicos — deve liderar uma equipe de jogadores veteranos (Peter Dinklage e Josh Gad) e salvar o mundo.

Piadas bem manjadas, mas alguma coisa se salva

Primeiramente, é preciso colocar em pauta que estamos tratando de um filme de comédia escrachada, que não tem nenhum compromisso com a realidade e tenta passar as coisas de forma muito bem-humorada. Nisso, a gente já tem certeza, já que é o Adam Sandler comandando a turma e vamos combinar que ele nunca foi um grande herói.

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Só que a insistência em fazer as mesmas piadas do arco-da-velha é justamente o que deixa o filme chatinho. As tentativas cretinas dele de dar em cima de Michelle Monaghan são apenas um reflexo dos clichês que ele tanto exercitou em sua carreira. Aliás, essa parte de forçar um relacionamento entre os dois é um bocado desnecessária num filme que se pretende homenagear games.

Felizmente, um dos integrantes da equipe (Josh Gad) acaba salvando o dia com seu jeito extrovertido. O personagem é bem caricato e até exagerado ao ponto de amar uma personagem de videogame. Entretanto, na maioria das cenas, ele acaba roubando os holofotes, com direito a um disparate de frases que caracterizam bem as broncas de generais americanos.

Outro personagem que ajuda muito é Eddie (Peter Dinklage), que banca de bonzão e tem trejeitos muito engraçados. É o tal do cara chato que acaba ficando legal ao exagerar no orgulho. Sem esses dois atores, certamente o filme poderia ser bem mais um romance com Adam Sandler tentando pagar de legal com piadas idiotas. Ainda bem que não foi tão desastroso.

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A história do filme é bem fantasiosa e até absurda em alguns pontos, mas acaba ficando divertida com a introdução de personagens adorados que marcaram época na década de 1980. Acontece que o roteiro força demais a barra em alguns pontos, com direito a personagens que viram seres reais na Terra. Alguns apelam para a fofura, outros para a sensualidade, mas essa ideia acaba não colando muito bem.

Enfim, Pixels não é um bom filme de comédia, tampouco um filme que se preza a homenagear de verdade os jogos. Dá pra ver alguma boa vontade em tentar conciliar o mundo real com jogos antigos, mas não ficou muito legal não, exceto pela presença de alguns ícones (como Donkey Kong e Pac-Man) da década de 1980. Se você faz questão de ver no cinema, vá sem esperar muita coisa e aproveite a pipoca.

Crítica do filme Sobrenatural: Capítulo 2 | Espíritos ainda mais medonhos

O feriado de carnaval é sempre proveitoso para colocar a longa lista de filmes em dia. Desta vez, além de conferir Silent Hill: Revelação pela segunda vez, aproveitei a folga para ver outro filme de terror que me despertava a curiosidade.

É claro que estou falando de Sobrenatural: Capítulo 2, a tão aguardada continuação do filme que estreou em 2011 e nos apresentou as entidades que assombravam a família Lambert. Pois bem, após os eventos do primeiro filme, todos sabemos que nem tudo acabou bem.

No segundo filme, somos apresentados ao segredo misterioso de infância que os deixou perigosamente ligados ao mundo dos espíritos. Contudo, em vez de manter a trama focada apenas no passado, esta sequência nos mostra eventos atuais que possibilitam compreender como a família lidou com a morte de Elise.

Considerando que o início desta história teve boas sacadas e inimigos capazes de deixar até os mais corajosos amedrontados, nós percebemos a difícil missão que James Wan e Leigh Whannell tinham em mãos. Entretanto, é possível adiantar que o segundo capítulo segue uma linha de terror ainda mais assustadora e explica os pormenores desta história macabra. Um terror que vale a pena!

Boas explicações eram necessárias

É difícil que uma continuação consiga superar sua precursora, mas Sobrenatural: Capítulo 2 é uma exceção à regra. O filme que mostra o rumo dos Lumberts segue bem os eventos finais da trama do primeiro título, detalhando as dificuldades que passam ao se reportar à polícia e esclarecer o que aconteceu com Elise.

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Entretanto, o roteiro não pretende apenas contar os fatos posteriores, mas visa explicar o que aconteceu no passado, principalmente sobre o espírito que se apossou de Josh. Essa ideia de complementar a história é totalmente válida, pois as criaturas que vimos no primeiro longa-metragem não são apenas entidades genéricas e sem propósito.

É justamente nisso que está o triunfo do filme. A narrativa sobre o espírito que causou todo o mal a esta família já é apresentada logo de cara e só fica melhor conforme o roteiro vai se desenrolando. A verdade é que as primeiras cenas podem deixar alguns espectadores até meio perdidos, mas, aos poucos, as peças do quebra-cabeça vão se encaixando e a trama pode ficar muito interessante, graças aos tantos detalhes acrescentados ao roteiro.

Muito mais assustador

Uma coisa que me surpreendeu em Sobrenatural: Capítulo 2 foi a pegada mais incisiva no terror. Houve um acréscimo benéfico na parte de verba, o que resultou em entidades muito mais realistas e tenebrosas. Chega de inimigos com maquiagens mal feitas. Aqui, só temos espíritos mais escabrosos e que são focados constantemente em frente à câmera.

Outro aspecto que ajuda muito no desenvolvimento do filme é a forma como as entidades se exibem aos personagens. Em vez de ficarem apenas no plano espiritual, as almas perdidas aparecem em plena luz do dia e interagem com os protagonistas. É como se eles não tivessem mais medo de ficar escondidos.

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Muitas situações foram programadas para deixar as pessoas ainda mais encabuladas. Cenários realmente escuros – muitos são ambientes abandonados e que trazem uma grande carga histórica e espiritual – e com muitos objetos amaldiçoados são o palco perfeito para o desenrolar da história.

Os barulhos de passos, batidas na parede, móveis se arrastando, portas batendo e outros tantos são válidos, mas a sonoridade do filme ganha destaque por outros elementos. Assim como no primeiro filme, graças aos barulhos de piano distorcido, rangidos bem agudos e notas musicais fora de afinação, todos na sala ficam apreensivos e levam sustos repetidas vezes.

Apesar de ter uma trama convincente e algumas novidades interessantes, Sobrenatural: Capítulo 2 não é uma obra perfeita. Há locais de gravação que não foram adequadamente preparados para a história, bem como faltou capricho no desenrolar de alguns acontecimentos. Ainda bem que isso não atrapalha em quase nada este título de terror que é ainda mais sinistro que seu antecessor.

E que venha Sobrenatural: Capítulo 3!

Crítica do filme Silent Hill: Revelação | As trevas são reais neste inferno 3D

Adaptações de videogames para as telonas são sempre polêmicas. Tirando uma ou outra obra (como o primeiro Silent Hill), a grande maioria acaba se revelando uma grande porcaria.

Com “Silent Hill: Revelação”, a história não é muito diferente nesse sentido. Muitos fãs gostaram do que viram, outros tantos acharam péssimo o resultado. Os críticos – que não entendem nada do jogo – acabaram criticando o roteiro e a execução do filme.

Bom, eu vi o filme lá em 2013, quando ele finalmente saiu aqui no Brasil (aliás, grande mancada lançar com quase um ano de atraso) e, na época, acabei achando meia boca. Entretanto, eu resolvi dar uma segunda chance para o título e até comprei a versão em Blu-ray para conferir a parte 3D do longa-metragem.

Hoje, pretendo comentar sobre os prós e contras do filme, falar como ele se aproxima do jogo (o Silent Hill 3 é o game utilizado de base para o desenvolvimento da história) e qual foi meu veredito após ter visto uma segunda vez a obra de Michael J. Bassett. Seja você um fã do título da Konami, um apreciador do gênero de terror ou apenas um cinéfilo, esta crítica pode ser mais interessante do que você imagina.

Conectando os pontos

A primeira coisa que é preciso ter em mente antes de sair descendo o pau no filme diz respeito a proposta do diretor (que também é o roteirista) deste longa-metragem. A missão em “Silent Hill: Revelação” não era nada simples, pois era preciso tomar uma decisão para agradar o público:

  • Criar uma adaptação fiel ao jogo (e ignorar o primeiro filme, o que agradaria os fãs de SH3);
  • Fazer uma continuação direta do primeiro filme (e deixar de lado tudo do game, talvez até pensando em uma história bem diferente, o que era um tiro no escuro);
  • Usar elementos do jogo e criar um elo com o primeiro filme (equilibrando as duas coisas e agradando um público muito maior).

Como você sabe, Bassett optou pela última opção, o que foi a coisa mais difícil a se fazer. O terceiro game da série pode ser considerado uma continuação do primeiro, o que, na teoria, poderia facilitar as coisas. Acontece que o longa-metragem lá de 2006 já teve diversas discrepâncias ao sair dos consoles e ir para as telonas, o que deixou tudo ainda mais complicado.

Para atrair a atenção dos fãs do game, o filme começa já pela cena no parque de diversões – tal qual no jogo, trazendo referências claras como o coelho Robbie. Logo em seguida, para mostrar que esta é uma continuação do primeiro filme, o roteiro começa a desenvolver a trama dando pistas de como Sharon (que agora se chama Heather) conseguiu escapar de Silent Hill.

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O título também comenta sobre a mudança de nome, da cor de cabelo, mostrando detalhes sobre como seu pai (nosso amigo Sean Bean está de volta e morre somente no mundo dos sonhos) manteve controle sobre a situação por tantos anos, introduz as roupas do jogo e apresenta diversas similaridades com o game. Tudo até aqui é muito bem equilibrado e faz sentido.

Para incutir o terror, o filme alterna algumas cenas reais e do mundo bizarro de Silent Hill. É importante notar que essas cenas estão apenas na mente de Heather, já que ela não está na cidade e portanto nada ali é real. Várias coisas que ela vê são apenas influências de sua memória quando ela ainda estava na cidade amaldiçoada – vale notar que o pai dela mente e fala que ela apenas sofreu um acidente, situação em que a mãe dela morreu.

Hora de contar a história do jogo

Não demora muito para que conheçamos o detetive Douglas Cartland. Ele é o mesmo personagem (com roupagem e aparência muito semelhantes) e tem a mesma missão do jogo: levar Heather até a Ordem de Valtiel. As situações em que eles se encontram são bem parecidas, mas começam a aparecer algumas diferenças quando não é o detetive que dá pistas mais claras sobre Silent Hill para Heather.

Em vez do apoio de Cartland, a personagem principal do filme acaba obtendo a ajuda de Vincent Smith (que também se assemelha ao homem que vemos no game). As anotações sobre Silent Hill e outros detalhes são encontrados no diário e nos recortes de jornais que Harry da Silva (a alteração de sobrenome já é algo que veio do primeiro filme) guardou em sua casa junto com o Selo de Medatron – este item aparece nos jogos Silent Hill 1, 2, 3 e Downpour, às vezes com outros nomes.

Bom, a relação entre Heather e Vincent é talvez a maior cagada de “Silent Hill: Revelação”. Primeiro existe a questão de ele não ser um personagem tão importante na trama do jogo, depois temos a questão que transformam ele apenas em um garoto apaixonado (no jogo, ele é alguém importante na Ordem). Ele vira melhor amigo da filha de Harry, mas serve apenas para contar toda a trama para a garota (algo que deveria ser feito por Cartland).

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Os diálogos entre os dois são atropelados – só que é válido ter tais falas para construir a personagem da Heather ou o filme não iria para frente mesmo – e as atuações não convencem muito. O pior é que tem uma fala em que o Vincent resolve contar tudo que sabe e não dá tempo nem de o espectador digerir as informações.

Os dois vão na direção de Silent Hill, mas resolvem parar e dar uma boa descansada. Quando Heather acorda no outro dia, ela só atravessa a rua e praticamente já está na cidade amaldiçoada, algo que não convence, porque já poderiam ter ido diretamente sem parar no caminho. Mas ok, quem não se atenta aos detalhes não vai nem notar esse pequeno deslize.

Quanto à cidade, não dá pra reclamar muito. O segundo filme não faz questão de explorar os ambientes, focando apenas nos cenários relevantes para a história, mas há de fato uma ou outra sequência que nos permitem perceber que estamos na mesma cidade do título anterior. Para quem não viu o longa anterior, há algumas boas explicações (ainda que tenha coisas distorcidas, o que pode ser considerado um furinho de roteiro), o que aumenta o mistério em torno da cidade.

Tão logo entramos nos locais mais sombrios e inóspitos, já percebemos que a equipe criativa caprichou no clima do filme e tentou aproximar o máximo possível do que vemos em Silent Hill 3. Há muitos ambientes escuros, que reservam espaço para os monstros aparecerem de surpresa e diversos cenários apresentados relembram o que já conhecemos no game. Ponto para a produção cinematográfica!

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Voltando aos personagens, além do Vincent e do Douglas, conhecemos Leonard Wolf e Claudia Wolf – há uma explicação para ela estar aqui e tudo está conectado ao primeiro filme. Os dois trazem semelhanças às versões do título para consoles, o que é excelente. A atuação de ambos é bem limitada, mas a Claudia, em especial, fica devendo muito com umas falas pobres e previsíveis.

No âmbito dos monstros, não há muito o que reclamar. Os bichos são bem assustadores, com referências claras aos tipos que têm no jogo. O destaque novamente fica para o Cabeça de Pirâmide, que é assustador e muito sinistro. É legal que aqui ele deixa de ser o vilão e passa a ser o salvador da pátria, algo que faz muito sentido se levarmos em conta que ele é carrasco da Alessa.

Misturando as coisas e acrescentando o 3D

Para finalizar, é preciso falar sobre alguns aspectos que deixam “Silent Hill: Revelação” muito interessante. A primeira delas são algumas referências que nos permitem conectar o clima geral do filme ao que temos no jogo. O aniversário de Heather é citado em algumas situações – e é claro que todo fã vai se lembrar da música do game. O coelho sinistro, o parque de diversões, o shopping e outros tantos locais ajudam a montar o filme de forma coerente.

Não são poucas as cenas em que vemos recapitulações do primeiro longa-metragem. Algumas cenas foram refeitas, outas reaproveitadas, mas tudo ajuda a fortalecer a conexão entre os títulos. A presença de alguns puzzles até que funciona legal no filme, mas é claro que não é a mesma experiência do jogo, pois tudo é bem mastigado aqui para deixar o ritmo da trama interessante.

É válido citar ainda algo que me empolgou muito ao rever o filme: os efeitos tridimensionais. Tem gente que não gosta de 3D, tem filme que fica bem ruim em 3D, mas no caso desta obra as cenas foram programadas para funcionar desta forma. As simulações são realistas, as espadas passando em frente aos olhos dão medo e as cinzas caindo na frente da TV também são válidas para dar uma experiência rica ao filme.

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Por fim, é importante comentar sobre um dos aspectos que fazem Silent Hill ser uma das sagas mais geniais de todos os tempos: a trilha sonora. Sério, o trabalho de Jeff Danna (responsável pelas músicas do primeiro filme) e Akira Yamaoka (o mestre das trilhas dos games) é perfeito!

No fim das contas, considero que o resultado do filme está mais para bom do que para ruim. Ele poderia assustar mais e ter menos furos, mas não acho justo apenas xingar o filme sem ter argumentos plausíveis, já que há um bom equilíbrio aqui.

Considerando a dificuldade em tentar unir tanta coisa e agradar a tanta gente, Bassett fez um trabalho de qualidade. Podem me julgar, mas como fã da série, não fiquei decepcionado, até porque Silent Hill: Revelação não atrapalha em nada os games. E gostei de ver Travis Grady aqui, o que reafirma o empenho do diretor.