Crítica do filme Isolados | Terror psicológico nacional

Isolados” é um filme nacional de suspense com doses de terror psicológico, e só isso já é o suficiente para prestar atenção ao título, já que é raro vermos esse gênero nas produções brasileiras.

Lauro (Bruno Gagliasso), residente de psiquiatria, e sua namorada Renata (Regiane Alves), artista plástica e ex-paciente da clínica onde ele trabalha, saem de férias para uma casa no alto da região serrana carioca. No caminho, Lauro ouve boatos sobre ataques violentos que vêm acontecendo na região, e as vítimas são mulheres, que estão sendo barbaramente assassinadas. Lauro prefere esconder o fato de Renata, que é muito sensível e se impressiona facilmente. 

Sem saber do que está acontecendo, ela se torna mais vulnerável. Lauro percebe sinais de que os assassinos estão cada vez mais perto e a solução é manter Renata presa na casa, mas o isolamento torna a situação insustentável e a luta pela sobrevivência desencadeia uma trama repleta de suspense, onde a realidade e a loucura se misturam. José Wilker interpreta o Dr. Fausto, uma espécie de mentor de Lauro, Silvio Guindane e Orã Figueredo vivem os policiais locais encarregados das investigações dos crimes, enquanto Juliana Alves é Luzia, a governanta da casa.

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Toda essa situação de isolamento faz com que o filme seja extremamente angustiante, e o ritmo quebrado em que a história se desenvolve colabora ainda mais para isso. O problema (ou não) é que todos os clichês de filme de suspense/terror também estão presentes, como o clássico momento de silêncio, olhar pela janela e subitamente algum barulho acontece mais que nem era nada. São elementos necessários para manter o clima, então é bom você assistir com vontade de se assustar, e preferencialmente sozinho.

A ambientação está perfeita, toda a iluminação calculada com maestria, mantendo apenas os rostos iluminados mesmo quando eles estão imersos na escuridão. Mas o clima de paranoia e situações extremas não convencem tanto, apesar do notável esforço dos atores.

Os efeitos e a trilha sonora são um personagem em si, ditando todos os momentos de tensão e pânico. Em determinados momentos sem diálogo, a música assume esse papel de uma forma excelente. Enquanto que em outros, os sons são demasiadamente altos, algo que pode incomodar mais do que assustar ou criar tensão.

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Esse é um filme para ser visto com vontade, comprando a história e tentando entender a situação dos personagens. É possível que você perceba a grande sacada do filme antes do final, mas isso tira o mérito do risco em produzir um gênero que não é muito popular por aqui. Esperamos que continuem investindo nessas produções, e que a qualidade continue a aumentar.

Crítica do filme Rio, Eu te Amo | Queixo-me às rosas, mas que bobagem...

Pois é. Todo mundo já sabe das maravilhas da cidade maravilhosa, tanto que falar bem do rio já é um clichê e, de certa maneira, uma verdade redundante. É a mesma coisa que convencer as pessoas que a Angelina Jolie é uma teteia. Tarefa fácil. Mas não se engane, Rio, Eu Te Amo é sim um filme sobre a beleza do Rio de Janeiro, sobre como as pessoas se hipnotizam com as coisas que só tem lá... Só que ele conta sobre a magia (as vezes literal) da cidade, um lance de química mesmo. E é uma maneira diferente e nova (pelo menos pra mim) de dizer sobre a Rio 40 graus, purgatório da beleza e do caos. 

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Um projeto de peso

O filme faz parte do projeto do produtor, roterista e diretor francês, Emmanuel Benbihy, intitulado Cities of Love. O intuito é reunir cineastas de diferentes estilos para rodar curtas-metragem utilizando, como tema principal, cidades históricas e memoráveis espalhadas pelo mundo. Até o momento, três filmes foram concluídos Paris, Je T'Aime, New York, I Love You e o dessa crítica, Rio, Eu Te Amo. Outros dois encontram-se em produção, um sobre Shanghai e outro sobre Jerusalém.

Pois bem, Rio, Eu Te Amo tem onze diretores que conduzem seus roteiros de maneiras individuais e com pouca relação entre si, tendo como pano de fundo comum somente a cidade do Rio de Janeiro. Os onze são apenas os melhores diretores que temos hoje no Brasil e uma cambada de gente genial do mundo todo. Figuram entre eles, Carlos Saldanha (A Era do Gelo 2 e 3), Fernando Meireles (Cidade de Deus), José Padilha (Tropa de Elite) e vários outros (quem quiser saber sobre eles clica aqui). 

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O elenco não fica atrás: Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro,  Harvey Keitel, Emily Mortimer e John Turturro sãos só uns dos camaradas que atuam do jeitinho que eles sabem fazer: impecavelmente bem.

Uma linguagem individual para a mesma palavra

O tema central do filme é claro que é o amor, e também o carinho que cada um dos diretores tem pela cidade. Digamos que é um retrato de experiências vividas que resultaram em poesia (uns mais que outros). O mais bacana no filme é que ele tem a identidade de cada diretor, e cada um faz a sua pira sem se prender a regras. É nítido que eles realmente querem falar a sua linguagem própria.

Um quesito a ser destacado, é que nada soa como uma propaganda da cidade para atrair turistas, ou simplesmente para elogiar e falar bem. As histórias falam de pessoas que estão de passagem ou vivem no Rio e de alguma maneira acabam se identificando com a identidade do lugar, assim criam as suas próprias histórias a partir das características da cidade maravilhosa. A leitura disso é muito clara e fácil, e apesar de serem os estereótipos óbvios (pão de açúcar, mulheres, praia, mar, favela, meninos de rua e obviamente futebol), eles entram em cena de maneira inusitada e bem humorada.

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"Ta bom demais. Vamos deixar ruim?"

Não quero influenciar a opinião de ninguém, mas justamente o ponto onde o filme ganha destaque, é onde ele se fragiliza. Em primeiro lugar fica nítido que são vários esquetes de diretores diferentes, contando histórias adversas. Isso até que é uma ideia bacana, porém todo fim de cena tem um fade out, escurece, fade in, e isso cansa porque torna previsível que um acabou e ta começando outro. Enfim, o filme é UM filme e não uma coletânea de curtas, tanto é que eles até tentaram cruzar uma história na outra, mas não funcionou muito bem e deixou o filme bem pior por conta disso.

Outro ponto positivo para o filme, mas que não foi bem trabalhado e acaba enchendo o saco, é o fato de ele não ter sido feito como uma propaganda da cidade, para atrair turistas ou qualquer coisa assim. Apesar disso, parece que ele foi feito para os cariocas, exclusivamente. Tá, tá legal, é uma homenagem ao Rio e a quem mora lá. Mas poxa, o filme vai ser reproduzido em salas de cinema por todo o Brasil e também do mundo... Então, me convide pra viver, pelo menos por aquelas duas horas, dentro da cidade. Na minha modesta opinião faltou uma experiência que me cativasse e me fizesse entrar dentro no calor do Rio de janeiro, mesmo estando no congelante inverno da Sibéria.

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Capeta em forma de gurí

Com um elenco impecável não posso deixar de falar um pouquinho dos atores... Ou melhor, vou falar de um só que se destacou e desbancou todo mundo, e sinceramente me deixou de queixo caído.  Em uma das histórias, dois personagens (interpretados por Nadine labaki e por Harvey Keitel) conhecem um moleque que não tem família e que não se afasta do orelhão porque espera um telefonema de Jesus. Nadine filmou na estação Leopoldina e tudo - a estação, o menino, o telefonema ao invés da carta - lembra Central do Brasil, de Walter Salles. "Gosto muito do filme de Walter, mas foi só ao chegar ao set que me dei conta das implicações", ela diz. E o grande premio de melhor ator vai para Cauã Antunes, que rouba a cena (de Harvey Keitel!), e é um menino de 6 anos. "Fizemos um casting intenso, mas ele foi o primeiro que encontrei. Ele era exatamente o que queria, mas segui testando os outros garotos. Cauã não consegue ficar parado, foi muito difícil filmar com ele, mas valeu a pena."

Solta o batidão

Aaaaa, mas como falar do Rio sem citar a música? Chico, Cartola, Vinicius, Gil, Noel... Precisa falar mais alguma coisa? Todos eles batem cartão na trilha sonora. Pra mim foi a melhor parte do filme, e também o que me fez chorar. “Vida, te sinto mais bela, e fico na espera, me sinto tão só...” aí já tinha sujado a poltrona do cinema com lágrimas. Até me sinto mal de dedicar à trilha sonora somente um parágrafo, mas eu não sei mais o que dizer além de afirmar que é linda di duê. 

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Além do filme pintar nas telonas, e devido ao fato de ter muitos patrocinadores uma das contrapartidas para a arrecadação da grana foi de se apropriar de ações pela cidade, assim como licenciar produtos com a marca. O Boticário lançou uma linha de fragrâncias, a Devassa criou latinhas com a identidade visual do Rio e a Nextel criou um plano de telefonia também entitulado “Rio, Eu Te Amo”. Serão 2 anos de eventos e ações envolvendo arte, música, esporte, cinema, literatura e cidadania. Se tiver de bobera no rio, você pode ir em algum desses eventos. Saca só o que rolando: http://rioeuteamo.net/acoes

Dê uma chance

 Rio, Eu Te Amo é muito fácil de ser desgostado, principalmente porque não é convidativo e fala tanto de uma realidade específica que chega a se enclausurar nela. Mas de uma chance, no meio disso tudo é possível  se apaixonar.

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Crítica do filme O Doador de Memórias | Uma bela fotografia em um filme mediano

Primeiramente é preciso entender que esse é mais um dos milhões de filmes adaptados de um livro que vendeu muito e agora as livrarias usam o pôster do filme na capa. “O Doador de Memórias” é a primeira parte de uma quadrilogia escrita por Lois Lowry, mas essa adaptação engloba um pedaço do segundo livro. Além de ser um drama de ficção científica, é para adolescentes. Sem querer generalizar, mas com isso já é possível formar uma ideia do que esperar. 

O Doador de Memórias (no original, The Giver), conta com a direção de Phillip Noyce, e um elenco de astros como Meryl Streep e Jeff Bridges, e iniciantes que não decepcionam como Brenton Thwaites e Odeya Rush (essa Mila Kunis israelense melhorada geneticamente ), e Taylor Swift, mas felizmente ela aparece pouco. 

A sinopse é mais ou menos essa: Em um mundo perfeito, onde não há mais guerras, racismo, tristezas ou doenças, todos são membros de uma comunidade e são encarregados de uma função específica, que é decidida pelos anciãos quando o cidadão chega aos 16 anos de idade.

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Jonas (Brenton Thwaites) é selecionado para ser o novo Receptor de Memórias da sua comunidade, uma pessoa que tem a missão de guardar todas as memórias indesejáveis do passado e tristezas dos habitantes. Contudo, Jonas acaba por descobrir que algo ocorreu no passado para que o mundo se tornasse essa falsa utopia, e uma verdadeira distopia. E obviamente ele não se conforma com isso, e vai fazer o necessário para fazer tudo voltar a ser como deveria.

A estética do filme é marcante, pois no começo tudo é em preto e branco, e todo mundo é mais ou menos parecido, porque se não fosse talvez o seu vizinho ficasse com inveja, e inveja é ruim. Todos seguem uma rotina, mas a felicidade é plena. Quando Jonas passa a receber o treinamento do Doador, o único que ainda tem memórias de como o mundo realmente é, ele começa a se “lembrar” das cores. 

A primeira cor que ele “lembra” é o vermelho, que por sinal é a cor dos cabelos da sua amiga Fiona (Odeya Rush), e por quem ele vai acabar se apaixonando assim que “lembrar” o que é o amor. Então o filme começa a ter tons avermelhados, além do preto e branco, e progressivamente vai ganhando todas as cores. É como se o filme fosse mostrado pelos olhos de Jonas. As memórias que ele recebe são sempre sequências lindas e imersivas, capazes de convencer que foi você quem vivenciou aquilo.
 

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Porém, o filme acaba perdendo esse ritmo envolvente. Parece que quanto mais as emoções e percepções se tornam claras para Jonas, menos interessante as coisas ficam. Além disso, em um mundo com câmeras em todos os lugares, regras conhecidas e praticadas por todas diariamente, uma ordem imposta a todos e cumprida com satisfação, e mesmo assim quase todos os personagens vão contra as regras, e ninguém faz nada para impedi-los até a parte final do filme. 

E por falar em final, ele é totalmente anticlimático, talvez por acabar onde o segundo livro está começando. Acontece que depois da metade do filme, fica tudo muito óbvio e você simplesmente vai parar de se importar. A trilha sonora é composta por diversas canções pop, com bandas como One Direction, mas essas músicas não combinam com o estilo do filme, apenas são “jovens”. 

As ideias propostas são muito interessantes, mas o filme acaba sendo óbvio e superficial. Se você for um fã dos livros vai querer conferir como eles estragaram uma história que você gostou ficou a adaptação.

Crítica do filme Hércules | Feitos épicos e exageros com um semideus entre nós

Baseado na graphic novel "Hércules: As Guerras Trácias", esse filme foi dirigido por Brett Ratner e estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson, no papel do semideus que empresta o nome ao título.

Ao contrário do que os trailers sugerem e do que você provavelmente está esperando, o foco do filme não são os famosos “Doze Trabalhos”. Os primeiros minutos são cenas mostrando como Hércules conseguiu o seu manto do Leão de Neméia, matou a Hidra de Lerna e o Javali de Erimanto, e todos os seus outros feitos épicos. A questão é que nem tudo é como parece, e as lendas talvez sejam um pouco exageradas. 

Apesar de todo o mito sobre os feitos de Hércules, o filme tenta mostrar seu lado humano, e principalmente que ele não estava sozinho durante seus trabalhos. Hércules é conhecido como filho de Zeus, e por isso possui uma força extraordinária, mais é muito mais humano do que aparenta. Durante o filme, descobrimos que ele tinha uma esposa e filhos, e que não queria ouro e fama, apenas ficar com sua família, mas eles são assassinados e ele não consegue se lembrar como, sendo atormentado por esse passado.

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Mas como já foi dito, Hércules nunca lutou sozinho. Ele se torna um mercenário, lutando por quem pagar mais, e ao seu lado estão Autolycus (Rufus Sewell), um ladrão manjador que obviamente adora ouro, mas é um excelente lutador. Ele é um orfão assim como Hércules, e os dois cresceram juntos. Amphiaraus (Ian McShane), um velhinho cheio de cicatrizes e que é capaz de prever o futuro, de certa forma e as vezes, e por isso mesmo luta sem medo de morrer. 

Tydeus (Aksel Hennie), mais animal do que homem, não fala nada nunca. Foi encontrado ainda bebê por Hércules em uma cidade devastada pela guerra, sendo o único sobrevivente. A sensacional Atalanta (Ingrid Bolsø Berdal), uma amazona arqueira que também perdeu toda sua família, e que nunca erra uma flecha. Iolaus (Reece Ritchie), sobrinho de Hércules, serve como bardo do grupo, contando e aumentando muito os feitos de Hércules, colaborando ainda mais com as lendas do “semideus”.

Após ouvir os feitos do filho de Zeus, o Rei da Trácia Lord Cotys (John Hurt) contrata Hércules e seus colegas para treinar seu exército de camponeses, na intenção de torná-los mais eficientes em suas conquistas. Todas as cenas de luta são impressionantes e muito bem executadas, com várias chances para Hércules demonstrar sua força, mas principalmente liderar e trabalhar com sua equipe de forma magistral. Vemos que eles lutam com mais estratégia e inteligência do que apenas força bruta.

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The Rock pode não ser um excelente ator, mas ele é bastante carismático e o papel combinou muito bem com ele. E apesar de interessantes, os outros personagens não acrescentam tanto à história, servindo mais para enaltecer o personagem principal. Apesar de tentar desmitificar as lendas e histórias com um tom mais “realista”, o filme entretêm e não cansa, com vários momentos de descontração sem exagero e o tempo certo de duração. 

O roteiro não é nada genial, tenta introduzir uma virada bastante óbvia, mas como já foi dito, é suficiente para divertir bastante. E apesar de ter violência, as crianças vão adorar o filme pela simplicidade e lutas impressionantes. A chance de ter uma continuação é bem grande.

O 3D como sempre não é nada demais, provavelmente é melhor assistir sem aqueles óculos horríveis, mas as cenas pensadas para essa tecnologia são bem decentes. De qualquer forma, é um filme muito melhor aproveitado nas salas de cinema do que em casa, principalmente pela atmosfera grandiosa que o filme tenta passar, pela trilha sonora e sons de batalha que te fazem sentir dentro do filme. Enfim, é melhor do que eu esperava, vale a pena assistir.

Crítica do filme Se Eu Ficar | Sobre violoncelo, memórias e perdas.

"Se Eu Ficar" é um drama romântico dirigido por R. J. Cutler, baseado no livro homônimo de Gayle Forman. A trama gira em torno de Mia Hall (Chloë Grace Moretz), uma garota com problemas para se relacionar, que se sente uma alienígena em sua própria família. Seu pai, Denny (Joshua Leonard),  era integrante de uma banda de punk-rock, e sua mãe, Kat (Mireille Enos), era groupie. 

Mia estava crescendo para ser uma verdadeira rockeira, mas ao contrário, se apaixonou por música clássica e começou a aprender a tocar violoncelo logo cedo. Segundo Mia, assim que seu irmão mais novo, Teddy (Jakob Davies) nasceu, seus pais se acalmaram. Denny virou professor e Kat agente de viagens.

Como em dias de neve as atividades escolares são canceladas, Kat quer aproveitar o dia para viajar com sua famíla para visitar os avós que moram na fazenda. No carro, fica clara a paixão de Mia por música clássica, e também que ela namorou um garoto popular que tinha uma banda de rock chamado Adam Wilde (Jamie Blackley), e que eles terminaram um tempo atrás.

As vezes você faz escolhas na vida, e as vezes as escolhas é que fazem você.

Então acontece um acidente no trânsito, resultando na morte de todos. Mas Mia permanece ali, em uma experiência de quase morte, meio fantasma e em coma. Então ela começa a lembrar de todos os momentos marcantes de sua vida, procurando razões para permanecer viva e sair do coma, mesmo sem sua família.

O filme é divido entre o tempo presente e as lembranças de Mia, e toda a sua história vai sendo revelada ao público dessa forma. As memórias são sempre relevantes, com todos os momentos em família e amigos, mas principalmente sua paixão em tocar violoncelo e como ela conheceu e se apaixonou por Adam, e todas as complicações e escolhas que fizeram os dois se separarem. 

Todas as cenas são muito bem pensadas, desde o posicionamento dos atores, a iluminação e os movimentos de câmera. Até mesmo o figurino merece ser mencionado, que por mais simples e discreto, combinou perfeitamente com cada personagem.

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Mas o destaque não poderia ser outro além de Chloë Grace Moretz. A garotinha que interpretou a Hit-Girl em Kick Ass não deixa de surpreender. Sua atuação está cada vez mais convincente, e mesmo esse sendo seu primeiro filme “romântico”, ela encarna totalmente a Mia, uma adolescente isolada, mas muito determinada em suas vontades. 

Chloë praticou duas horas por dia durante sete meses para tocar o violoncelo perfeitamente nas telas, mas acabou precisando de uma dublê corporal. O desafio era manter o corpo totalmente imóvel enquanto interpretava apenas com a cabeça. Porém, o resultado ficou ótimo, e é impossível perceber que são duas pessoas diferentes tocando.

Falando nisso, a trilha sonora não é composta apenas por música clássica, indo do rock a canções melosas, sempre dando o ritmo para cada cena e sentimento de Mia.

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A cena final é extremamente emocionante, e é bem possível que se você tiver o mínimo de sentimentos humanos, vai chorar em vários momentos.

Gattaca | Muito mais real do que parece

“Gattaca”, um filme de 1997, mostra um futuro alternativo em que a profissão e toda a vida das pessoas é definida pela perfeição genética. Problemas no coração, miopia, constituição fraca. Detalhes supostamente negativos como esses simplesmente obrigam você a viver uma vida de teto baixo, com poucas opções de trabalho, de lazer e sem nem mesmo poder ir a certos lugares. É o preconceito pautado pelos genes, simples assim.

Por conta de tudo isso, o imperfeito Vicent (Ethan Hawke) engana a todos e toma a identidade do praticamente perfeito Jerome (Jude Law), um nadador que tentou se matar e acabou paraplégico. O filme é muito bom, tem uma história bastante rica e um final com vários momentos dignos de arrepios. No entanto, o interessante aqui é o simples fato de que “Gattaca” é um filme muito mais real do que muita gente pode pensar.

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Afinal de contas, a facilidade da vida às vezes é determinada pela sorte que você teve ao nascer, pelo seu pacote genético. Um exemplo bastante claro do que estou tentando explicar é o racismo centenário e estúpido em relação aos negros. Ou aos portadores de alguma excepcionalidade. Pessoas que, no ponto de vista de alguns, acabaram tendo o azar de nascer pior e com características que não são dignas de respeito ou consideração.

Acontece que não é preciso falar do mais conhecido. Em uma sociedade em que a aparência tem um espaço cada vez maior e relevante, os considerados bonitos têm as portas abertas com uma facilidade bem maior. Tanto é que a primeira impressão é a que fica, não é mesmo? Há empregos para pessoas de “determinado perfil”, a moda é feita para os magros, clientes são escolhidos em portas de bares e até o shopping é restrito a certas pessoas. Enfim, o mundo parece ser reservado para uma certa elite que teve a sorte de contar com a genética certa.

Talvez seja um pouco filosófico ou até mesmo forçado concluir tudo isso de um filme, mas a produção me deixou pensando um bom tempo sobre este assunto. Isso é bom, é um exercício de cidadania tentar racionalizar sobre essas diferenças e tentar tirá-las de nossas ações. E esse é um dos motivos pelos quais indico fortemente que vocês assistam a essa história. É mais bacana do que parece com a minha explicação. Prometo!