Crítica do filme Sem Escalas | Busca implacável… Agora no avião!

Não vou dizer que fiquei muito empolgado quando vi que Liam Neeson voltaria às telonas. Não que eu não goste dele, muito pelo contrário, acho que ele é um cara bem versátil no que faz. O problema é que o ator vem fazendo muitos filmes iguais, o que me deixa receoso, afinal, não quero ver mais do mesmo.

Apesar disso, não deixei de ter esperanças de que “Sem Escalas” poderia entregar algo a mais. O trailer, pelo menos, apresenta uma trama curiosa e isso motivou a conferir a película no cinema. Entrei na sala com baixas expectativas e, no fim, o filme conseguiu me deixar tenso. Fato é que acabei gostando do que vi.

O avião decola e essa seria apenas mais uma viagem tranquila para o agente oficial de voo Bill Marks (Liam Neeson). Agora, pensa que loucura. Depois de alguns minutos que o avião sai do chão, Marks recebe uma mensagem dizendo que um passageiro vai morrer a cada 20 minutos se a companhia aérea não depositar US$ 150 milhões em uma determinada conta-corrente. O sequestro está armado e claro que tudo só tende a piorar.

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A história aqui não tem grandes novidades. Um avião sequestrado, poucas formas de reagir e uma situação danada que fica difícil de ser solucionada. Contudo, a grande sacada da história são os detalhes que diferenciam o filme de outros que já apelaram para essa temática. Não se trata apenas de uma bomba, mas de um plano bem elaborado que não permite uma reação precisa.

O longa-metragem trabalha bem com o suspense. O protagonista não tem como saber quem está mandando as mensagens (pode ser qualquer um dos 150 passageiros) e, dessa forma, não consegue deter o criminoso. Logo, o que poderia ser resolvido com uma simples transferência bancária se torna uma paranoia e Marks fica cada vez mais perdido.

Toda essa tramoia é bolada com o uso da tecnologia. O roteiro apela para umas coisas que talvez até possam acontecer, mas que deixam o espectador com aquela cara de cu do tipo “ai meu Deus, lá vem os hackers malditos querendo salvar o dia”. Tirando esse detalhe e um ou outro clichê, o longa acaba tendo sucesso em sua maior parte.

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Sem Escalas até tem um ou outro personagem adicional, mas nenhum ganha destaque algum para que possamos dizer que temos aqui coadjuvantes de peso que fazem a diferença. Julianne Moore, por exemplo, tem um papel bem secundário e não chega a fazer grande diferença. Trocar ela por qualquer outra pessoa daria no mesmo. Bom, pelo menos Moore é conhecida e ajuda a promover o filme.

Esse Jedi manja dos paranauê aéreo

Liam Neeson é tipo o Steven Seagal da atualidade, só que talvez um pouco melhor (na atuação, claro, porque nas artes marciais ninguém bate o mestre Seagal) e com menos cara de robô. Ele é porradeiro (inclusive já foi um mestre Jedi), tem voz de locutor (aliás, ele já dublou o Aslam e fez o papel de Zeus, então o cara tem um portfólio dos bons!), paga de galã, nunca tem mais de um corte no rosto e sempre salva o dia.

Os trejeitos, as falas, as cenas em câmera lenta e todo o restante da atuação de Neeson são parte carimbada de seu jeito único. Apesar de todo esse clichê, temos que admitir que o cara manda muito bem. E é claro que não é isso que estraga o filme.

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A verdade é que muitos filmes que ele faz acabam ficando com essa mesma cara de que tudo está na pior e vai acabar bem (é óbvio, Hollywood não tem filmes de desastre para mostrar todo mundo morrendo). A gente sabe disso antes mesmo de entrar no cinema, mas é sempre bom assistir para descobrir quem irritou Liam Neeson e como ele vai resolver mais uma treta furiosa.

Mais do mesmo, mas isso pode ser bom!

Não vem ao caso revelar como Sem Escalas termina, mas o que é importante comentar é que quase tudo que acontece entre o começo do caso e o fim da história é bem do jeito que a gente imagina. O filme tem boas surpresas, mas ninguém consegue deter o herói da história, o que acaba deixando a película um tanto monótona.

Felizmente, houve um certo cuidado para colocar uma ou outra cena que surpreende o público. Há um momento em específico no meio do longa que faz todos pularem da cadeira. No entanto, na maior parte do tempo, você vai acabar pensando que está assistindo a “Busca Implacável” em um avião.

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Sem Escalas” realmente não tem escalas, mas tem um monte de furos e pequenos detalhes que vão incomodar os espectadores mais atenciosos. Se você quer apenas se divertir e ver muita pancada e suspense com Liam Neeson, não tenha dúvidas que este é o filme perfeito. Todavia, não vá esperando ser surpreendido.

Crítica do filme 300: A Ascensão de um Império | Cabeças vão rolar

“Nos campos, os corpos queimando, enquanto a máquina de guerra continua girando”. Quem escreveu essa frase foi nada mais e nada menos que o terror dos morcegos, Ozzy Osbourne. War Pigs, é o nome da canção, que leva a frase a cima, embalada pelos afiados e cortantes riffs da guitarra de Tony Lommi, o que torna a música ainda mais sombria. A canção fala dos donos do poder que instigam guerras absurdas, banhando de sangue os campos de batalha. No fim, entretanto, os tais porcos da guerra (War Pigs) acabam recebendo o castigo merecido.

Além da obvia relação da história da letra com a guerra retratada no filme "300: A Ascensão de um Império", o que me fez escrever sobre essa música, é o fato de, no primeiro contato que tive com o filme, num trailer que vi num intervalo comercial da TV, essa canção começou imediatamente com a imagem de corpos sendo dilacerados e cabeças decapitadas, na característica câmera lenta do primeiro filme.

O trailer me arrepiou imediatamente! E no mesmo instante que meu pelo da nuca se levantou, eu saí correndo do sofá e fui direto pro cinema pra conferir de perto, e ter uma sensação prolongada daquilo que senti vendo os 3 minutos do vídeo promocional.

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A adaptação de uma história inacabada

Deus sabe o quanto sou apaixonado por quadrinhos, sangue, rock pesado e muito exagero! Se for contar esses elementos separados, todos são apresentados com muita perícia e de uma maneira extremamente elegante, o que é bom. Porém, um filme é constituído da união de vários elementos separados, e um filme sublime se faz com a junção perfeita de cada um desses componentes conjugados no segundo exato. E é nesse ponto que o filme peca.

O longa tomou por ponto de partida o quadrinho de Frank Miller, “Xerxes”. Só que Miller simplesmente não terminou a história do Deus-rei de três metros de altura e deixou o estúdio na mão. O resultado ganha forma nesse roteiro, obviamente modificado, escrito pelo diretor do primeiro “300”, Zack Snyder.

Ou seja, o filme deveria contar a história de Xerxes (Rodrigo Santoro), porém a tal biografia do Deus-rei vira praticamente uma “nota de rodapé” no filme, e as atenções se concentram em uma guerra que se resume ao duelo de Temístocles (Sullivan Stapleton) e Artemísia (Eva Green).

Onde isso nos leva?

Nessa segunda história, as terras de Termópilas, cenário onde se passa o primeiro filme, dão lugar às águas do estreito que separa Salamina da África, onde as frotas navais dos gregos, liderados pelo belo Temístocles, enfrentam as naus dos persas, sob o comando da encantadora, mas mortal, Artemísia.

Apesar de o elemento que desenrola a história ser muito semelhante ao do título que deu origem à série (um herói que luta com estratégias geniais e perspicácia contra o império bélico do mal, numa sucessão de atos grandiosos que vão alimentando a sequência da trama), o roteiro aqui é, no mínimo, mais cuidadoso que o seu antecessor.

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Assim como Leônidas é a personificação de Esparta, Temístocles é a de Atenas. Este representa um General que luta pela liberdade de todas as cidades do estado, um uma busca implacável pela unificação da Grécia e, bem como o rei espartano, diante de sua arrogância e cegueira pelo poder acaba desenvolvendo um ódio mortal por Artemísia conforme as batalhas se desenrolam.

Eva Green faz uma personagem clichê de vilãs de filmes de ação: ela é bonita, inteligente e violenta e seu ódio se explica pelo que sofreu na infância (mas com uma interpretação impecável). A batalha entre a liberdade (Grécia) e a vingança (Persa) está travada.

O desenrolar da história acontece paralelamente com a do filme original, e para esclarecer e conectar os pontos entre as duas, cenas de “explicação” acontecem periodicamente, sempre com um eixo que está presente nos dois filmes, que é a esposa de Leônidas, a Rainha Gorgo (Lena Headey) falando monólogos para dar continuidade e sentido à história.

Verde e amarelo num cenário preto e branco

Sinceramente, o que deu um pouco de cor ao filme foi Rodrigo Santoro. O ator brasileiro que interpretou Xerxes, o Deus-rei persa, foi um dos únicos com diferentes expressões no rosto e com um inglês com mais variações de intenção do que os atores que tem essa como a língua materna. Infelizmente Santoro é pouco aproveitado no filme. E aparece pouco. Pouquíssimo.

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Ascensão de que mesmo?

"300: A Ascensão de um Império" não trata de Xerxes, não trata do império persa e nem nada que faça referência a qualquer ascensão. A história é sobre o embate entre dois generais em lados opostos de uma guerra, cenas de combate digital empolgantes, sangue, membros e cabeças cortadas fora e Eva Green, que realmente compõe uma personagem capaz de encantar com sua beleza e suas espadas bem afiadas.

Se o filme vale a pena? Claro que vale... São coisas de Hollywood. Coisas bem-feitas recheadas de efeitos especiais, imagens bonitas, trilha sonora impactante, tudo o que não exige que você pense muito. Mas recomendo que vá em um dia que o ingresso do cinema esteja em promoção.

Blackfish | O Sea World que ninguém vê

Acabei de assistir a Blackfish, documentário que me deixou com o coração na mão. Como dizem, foi um soco no estômago. Desde criança gosto de mar, peixe, baleia, tubarão, vida marinha em geral, cheguei até a pensar em cursar oceanografia na faculdade, mas por n motivos acabei desistindo...

Sempre tive vontade de visitar o SeaWorld, e ainda tenho para falar a verdade, mas depois de assistir a esse documentário, se um dia for visitar, irei com outra visão.

“Blackfish” narra todo o processo de captura, treinamento e cativeiro da baleia orca Tilikum. Não vou dar muitos detalhes sobre o longa, pois realmente vale muito assistir, mas acompanhando o documentário, pude notar que a culpa da morte da treinadora Dawn Brancheau (em fevereiro de 2010) não foi da baleia, não foi da treinadora e não foi uma fatalidade, como dito no filme, era uma tragédia anunciada.

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Para explicar todo esse processo pelo qual Tilikum passou, o documentário volta no tempo e mostra de que forma as orcas são capturadas ainda filhotes, como são separadas de suas famílias e como são treinadas. A dinâmica de “Blackfish” conta com depoimentos de ex-treinadores do SeaWorld, pessoas que participaram do processo de captura das orcas e outros envolvidos na vida marinha.

Fiquei curiosa para assistir “Blackfish” porque ouvi comentários sobre o filme, recomendando que assistisse justamente pelo “soco no estômago” que ele dá. E realmente, é quase físico o incomodo que esse filme me provocou. Terminei de assistir e fiquei com um milhão de questionamentos na minha cabeça e estou até agora tentando entender o porquê de fazer tudo isso.

Uma cena que me chamou muito a atenção é uma em que um dos depoentes argumenta que o mundo não viveria se não houvesse parques como o SeaWorld, pois as pessoas precisam se informar e conhecer a vida desses mamíferos. E eu penso: se não existissem parques deste tipo, o mundo continuaria sendo mundo, pois não teríamos a curiosidade de presenciar a vida marinha de perto.

 

E não estou aqui para criticar o SeaWorld ou qualquer outro parque desta natureza, mas acho realmente que o que eles fazem lá não é ensinar a população sobre a vida dos mamíferos, é apenas ganhar dinheiro com aqueles bichos que não nasceram para isso.

Enfim, meu intuito com esse texto não é defender os animais nem condenar o SeaWorld, é apenas recomendar o documentário. “Blackfish” vem com um único objetivo — que, por sinal, é cumprido com muito louvor: denunciar os maus-tratos sofridos pelas orcas nos aquários, tendo como embasamento o histórico dos animais e os locais onde são mantidos.

Para quem se interessou, o documentário está disponível no Netflix!

Crítica do filme Walt nos Bastidores de Mary Poppins | Não é o que parece...

Confesso que assim que soube que de alguma forma Mary Poppins seria lembrada no cinema, já fiquei ansiosa para conferir o filme. Não pude assistir ao filme original na estreia (já que ele é de 1964 e eu sou de 1986), mas esses 22 anos que me separam da estreia do filme, não me fizeram sentir menos emoção por ter que assisti-lo em casa.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins” conta a história real da acirrada queda de braço entre Walt Disney e a escritora P. L. Travers — autora do livro Mary Poppins — para que a história saísse do papel e fosse para as telonas.

A jornada de Walt Disney pelo direito de filmar Mary Poppins começou no momento em que suas filhas pediram para que seu livro favorito virasse um longa-metragem. No decorrer dessa história que durou 20 longos anos, Disney tenta convencer Mrs. Travers a vender os direitos autorais do livro para cumprir a promessa que fez as suas filhas.

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A premissa principal do filme é justamente mostrar a dificuldade do relacionamento entre Walt Disney e Mrs. Travers e como esse relacionamento originou o aclamado Mary Poppins, campeão de bilheteria na época e ganhador de 5 Oscars.

Quem em sã consciência não gosta da Disney?

Antes de tudo, devo começar falando especialmente de Mrs. Travers. Sim, chamo-a dessa forma, pois em diversas cenas a autora de Mary Poppins exige respeito para aqueles que não são próximos. Essa mesma característica ela exercita para com os outros ao não se direcionar a desconhecidos pelo primeiro nome.

Mrs. Travers, interpretada por Emma Thompson, chega a ser chata, quase irritante. É sisuda, quase não sorri, intolerante e oscila o filme todo entre a arrogância e a fragilidade. Esse jeito reservado transparece até em suas vestimentas, que geralmente são terninhos bem alinhados e com cores escuras. Não faz questão de gostar de nada e de ninguém, tampouco que gostem dela.

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Após um tempo de indecisão a escritora resolve ir a Disney. Chegando lá temos claros sinais de que ela tem uma aversão ao universo do Mickey e seus colegas. Notamos o quão chata ela é, ao impor algumas condições para ceder os direitos de sua personagem, tais como a ausência de canções e animações no filme — que são a alma dos filmes da Disney.

Um filme para fãs

A primeira cena já começa com a versão instrumental da música Chim Chim Cher-ee, e assim que tocou, voltei à minha infância e me deixei levar completamente pelo filme. Por várias vezes fiquei com os olhos marejados e a cada música que tocava, que reconhecia ser da trilha de Mary Poppins, as lembranças de quando assisti ao filme original voltavam a mente.

O longa foca na vida da escritora, acompanhando duas histórias paralelas, que ajudam o espectador a entender melhor a carreira e o jeito de Mrs. Travers. Não só isso, os fatos apresentados no enredo vão se entrelaçando e aos poucos é possível compreender muitos mais sobre Mary Poppins.

Em algumas cenas, viajamos para a Austrália e somos apresentados ao drama da família Goff. Dentre os membros da família, o filme foca especificamente, no patriarca, interpretado por Collin Farrell e a garotinha Ginty, vivida por Annie Rose Buckley, a loirinha de apenas 11 anos manda muito bem, sendo destaque por diversas vezes e tem tudo para dar certo no mundo do cinema.

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Nas tomadas que se passam na Austrália, a fotografia é linda, os cenários, as cores usadas, figurino, tudo está impecável. O capricho com que as cenas foram feitas, me dão a mesma impressão quando assisto à Mary Poppins, cada cena foi cuidadosamente feita, para que nada saísse errado.

Apesar de não ser uma pessoa muito fácil, P. L. Travers acaba vendendo o direito de seu livro à Disney, mas isso não é nenhuma surpresa, afinal o filme original vai completar 50 anos. O curioso é que apesar de o longa tratar sobre a Mary Poppins e a Mrs. Travers o desfecho do filme tem uma surpresa inusitada, totalmente relacionada ao título original.

Prepare a caixa de lenços

Apenas por curiosidade, “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” foi o terceiro filme autorizado filmado na Disneylandia, e apesar de a Disney lançar inúmeros filmes, este foi o primeiro a retratar o empresário Walt Disney.

Eu como fã de Mary Poppins que sempre fui, já estou contando os dias para que seja lançado a versão especial de 50 anos e também no aguardo do Blu-ray deste que fui assistir hoje, pois tudo que se refere a Mary Poppins e a Disney me atraem bastante. 

Para os que não são fãs ou que não conhecem a história de Mary Poppins, talvez seja um tanto maçante aguentar a chatice da escritora, porém o filme pode ter umas sacadas e reviravoltas que surpreendem. Vale pelo espetáculo, visual e a visita aos estúdios Disney.

Crítica do filme RoboCop | Não é o filme que você espera. Ele é melhor!

O que você espera ao assistir um filme do policial robô mais famoso do mundo? É muito provável que a resposta seja ação, tecnologia, bordoada, tiro, sangue e gente bonita — afinal de contas, todo filme de Hollywood conta com atores bonitos. A boa notícia é que "RoboCop" tem um pouco de tudo que acabei de citar.

Por conta de tudo isso, vamos começar pelo óbvio. Os efeitos especiais são realmente muito bons, com texturas e efeitos de luzes extremamente convincentes, de maneira que você não vai se sentir assistindo a uma produção dos anos 80. Além disso, a realidade do filme é bastante próxima da atual, com aparelhos eletrônicos semelhantes aos que usamos hoje em dia.

Dessa maneira, é fácil de você ser absorvido pela história de Robocop. Um exemplo disso são as cenas de ação, em que a câmera acompanha de maneira dinâmica os movimentos, os robôs se mexem rapidamente e realmente há muita energia nestes momentos. Acontece que já era de se esperar que essas qualidades estivessem presentes, pois esse é um filme de ficção policial de orçamento milionário.

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E é pensando no gênero de Robocop que eu comecei a me surpreender.

Você admira, mas esse não é o herói que você gostaria de ser

Logo no começo, é possível entender que Padilha, o diretor do filme, não se limitou apenas a contar novamente a criação do Robocop. Tanto que a história passa rapidamente pelo acidente e pela reconstrução do novo corpo utilizado pelo detetive Alex Murphy — e acredite em mim, do jeito como as coisas são contadas, você nem vai sentir falta disso.

Contudo, Padilha foca a trama em diversos pontos, como o drama de você estar preso em um corpo que não é mais o seu e quem nem é mais exatamente um corpo. Ponha-se no lugar do policial. Você não é mais um humano, você não é exatamente uma máquina, você não é mais a pessoa que sempre foi e não há nada que possa ser feito em relação a isso.

É de uma agonia imensa, tanto que Alex pede para morrer. Um tanto quanto difícil de imaginar, não é? Mas o filme mostra isso de maneira bem satisfatória. E, para melhorar, a trama nem mesmo bate nessa tecla repetidamente, pelo simples fato de que o policial também precisa encarar o fato de ele ainda ter uma família.

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O problema é que ele não pode sentir direito os abraços do seu filho ou o “calor” da sua esposa. Para piorar tudo isso, a família do robozão sente esses mesmos problemas e o relacionamento deles acaba sendo uma grande bosta, afinal de contas, nenhum deles pode seguir em frente de um modo pacífico, por assim dizer.

Levando em consideração tudo isso, posso dizer que Robocop é um filme relativamente profundo. É lógico que ele não faz você refletir como um drama, mas também não é uma porradaria cheia de efeitos que deslumbram crianças, já que ninguém quer ser um policial todo amputado — contudo, é claro que você vai admirar esse herói, a determinação e a vontade de viver dele.

Não paga pau pros Estados Unidos

Além de tudo isso que eu já expliquei, Robocop tem uma qualidade bastante política. Padilha não carrega o filme com um tema patriota, coisa que seria fácil de se encaixar por conta do personagem principal ser um policial. Pelo contrário, o diretor mostra que os Estados Unidos é um país violento e com a mania de enfiar o “dedo” nos problemas de outros países. E sempre com supostas boas intenções.

E o motivo de tudo isso ser feito? Porque a segurança dos norte-americanos deve ser protegida a qualquer custo, assim como o personagem de Samuel L Jackson deixa implícito em uma de suas falas. Outra crítica feita é do papel inescrupuloso das empresas (algo bem atual), que não enxergam problemas ao fatiar um homem e praticamente destruir uma família, apenas para acessar um novo mercado lucrativo.

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Com isso, você acaba se perguntando o papel de grandes empresas do mundo da tecnologia de hoje em dia, como Apple e Samsung. Tudo isso mostra que Padilha fez um filme com características dele. Tem muita ação, mas faz você pensar sobre várias questões diferentes. É Hollywood, mas sem ser exatamente Hollywood (e, sim, isso é bom).

Por conta de todos esses motivos, "RoboCop" vale a pena. Nem que seja para experimentar mais um filme de herói, você com certeza vai acabar recebendo mais do que esperava em um primeiro momento. Aproveite!

Crítica do filme Clube de Compras Dallas | Lidar com a adversidade é difícil

Ah... A vida. Essa cretina que nos prega algumas peças e nos coloca em cada cilada. A verdade é que mesmo sabendo dos infortúnios, vez ou outra, acabamos caindo nos encantos da vida e nos dando mal. O filme "Clube de Compras Dallas" vem justamente para contar o caso dramático de um homem que acabou abusando demais da sorte.

Baseado na história real de Ron Woodroof, um eletricista texano que é diagnosticado com o vírus da AIDS, o longa dirigido por Jean-Marc Vallée vem para mostrar a difícil aceitação e os problemas que permeiam este complicado quadro clínico. O tema não é novo, mas as situações no decorrer dão ineditismo à proposta. Adianto que a obra é espetacular!

Conheça o Ron

Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é o típico machista que vive sua vida de eletricista, drogado, beberrão, pilantra e comedor. Tudo vai quase bem, mas é perceptível que a saúde dele vai de mal a pior. Logo, o protagonista descobre que é soro positivo e o filme que poderia ter um viés festivo acaba virando um drama daqueles.

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O primeiro choque vem quando ele recebe a notícia sobre a doença. Como outras tantas pessoas, o protagonista da história se recusa a acreditar e logo cogita que houve algum engano médico, ainda mais porque — estamos na década de 1980 e — isso era coisa de homossexual. A coisa piora quando ele recebe a perspectiva de que tem apenas mais trinta dias de vida.

Em uma época em que os tratamentos ainda estavam em testes, a mente de um paciente com esse tipo de condição fica turva e logo o desespero bate à porta. É interessante que Clube de Compras Dallas vem também para mostrar — e abrir espaço para discussão sobre — a questão da influência do governo, da medicina e da indústria farmacêutica na vida das pessoas.

É interessante que, presumo eu que, poucas pessoas de fato têm contato com esse tipo de situação, o que deixa o filme mais curioso. Mesmo tendo visto e ouvido coisas sobre a AIDS, o público talvez não tenha noção sobre os pormenores (ajuda médica ineficiente, amigos que não apoiam, o preconceito, as crises, as infelicidades) que dificultam a vida do portador.

É pra aplaudir de pé!

Matthew McConaughey está em seu melhor momento. Quer dizer, o currículo do ator texano é bem diversificado, mas parece que, de uns tempos para cá, McConaughey acertou em tudo que fez. Bom, mesmo que eles não levem o Oscar, é bom lembrar que a dupla protagonista deste filme (McConaughey e Leto) já faturou os prêmios no SAGA e no Globo de Ouro.

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Depois de participar em “O Lobo de Wall Street” (Hum hum...) e dar alma à série True Detective, ele conseguiu se superar e ir muito além do esperado. Sério. É difícil assistir ao filme sem pensar o quanto o cara teve de incorporar e aprender para conseguir se colocar na pele de um personagem de tamanha complexidade.

A começar pela aparência, que evidencia o quanto McConaughey teve de se esforçar para entrar “em forma” para fazer uma representação fiel e convincente. Quanto à atuação, não tenho a menor dúvida de que o ator tenha se superado e esteja apto a conseguir a estatueta da Academia — o problema é que o páreo está complicado com DiCaprio e Ejiofor na parada.

As primeiras cenas não são tão difíceis, mas ao descobrir sobre sua condição McConaughey nos convence de que estamos acompanhando um caso real. Ele consegue passar o drama, a tensão, as incertezas, o medo, a inconstância e a coragem de alguém que está na pior. Mesmo sendo um personagem dramático, o ator consegue tirar risadas dos espectadores.

Ainda que não conduza a maior parte das cenas, Jared Leto rouba a atenção em diversos momentos do filme. Interpretando o homossexual Rayon (amigo e parceiro de negócios de Woodroof), Leto abraça a causa de tal forma que é difícil acreditar que estamos tratando de uma atuação para um longa-metragem.

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A maquiagem e as roupas de Rayon são perfeitas, mas o que deixa o personagem chamativo é a incrível versatilidade de Leto em encenar e mudar sua voz para combinar com o papel. Ele está quase irreconhecível de tão convincente e dedicado. Não há dúvidas de que os prêmios concedidos foram merecidos e não fique surpreso se ele ganhar o Oscar.

O improvável deixa a história ainda melhor

A justificativa para o nome do filme só vem depois de um bom tempo, quando Ron Woodroof resolve abrir um Clube para ajudar (pela modesta quantia de 400 dólares mensais) a outros milhares de portadores do HIV. O nome do local é apenas uma faixada para que ninguém desconfie dos negócios de Ron e Rayon.

É engraçado pensar que não se trata de um filme, mas sim da história de alguém que fez muitos trambiques na vida real para conseguir drogas ilícitas. Contrabando de remédios provenientes do México, negociação com médicos de outros países, falsificação de prescrições e outras ideias malucas deixam o filme inusitado e divertido.

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Toda a trama é acompanhada de boas músicas. A trilha foca mais nas canções comerciais, portanto não há realmente qualquer razão para que o filme seja indicado em alguma categoria do tipo. Em alguns casos, aquele silêncio absoluto fala tudo e deixa a película dramática.

Quanto à direção, devo dizer que gostei de ver a variação de efeitos e tomadas que deixam o ritmo do filme diversificado. A escolha de alguns ângulos de câmera mais ousados também são bem-vindos, pois eles não causam estranheza e dão identidade própria ao longa. O figurino é fantástico. Jeans apertados, saias abaixo dos peitos, chapéus e outros elementos foram bem aproveitados e deixam o filme de acordo com a época.

É difícil comparar filmes e não é meu intuito dizer que um é melhor que outro. Assim, posso dizer que Clube de Compras Dallas é tão bom quanto outros títulos aclamados que estão nos cinemas. Ele é diferente e muito convincente.

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Temos aqui uma obra que é impactante e muito bem executada. Novamente, os elogios são para Matthew McConaughey e Jared Leto que dão vida ao filme. "Clube de Compras Dallas" é altamente recomendado para quem está cansado das porcarias comuns de Hollywood e quer ver o drama pelo qual muitas pessoas ainda passam.