Crítica do filme As Aventuras de Peabody & Sherman | Uma aula de história e amor

A gente cresce, amadurece, vive uma vida de adulto, mas lá no fundo ainda somos crianças. Eu, particularmente, sou fascinado por desenhos animados, sejam eles em versão 2D ou 3D. Apesar de gostar muito, nem sempre tenho tempo de conferir todas as animações que pintam no cinema.

Admito que nem sempre dou atenção para todo filme infantil que sai, principalmente porque algumas histórias parecem não ter o mesmo charme de outras tantas que já vi (sabe como é, a gente fica exigente com o passar do tempo). Geralmente, dou preferência para os filmes da Pixar, talvez porque muitos fizeram parte da minha infância.

Felizmente, recentemente, resolvi dar uma chance para um filme diferente e pude voltar a ser criança na companhia de amigos. Me diverti muito com “As Aventuras de Peabody & Sherman”, mesmo este não sendo um filme tão engraçado ou cativante.

pea0

Antes da animação chegar aos cinemas, fiz uma pesquisa e acabei descobrindo que ele é baseado no cartoon “Mr. Peabody”, que foi exibido na TV lá nas décadas de 1950 e 1960. Eu nunca tinha ouvido falar sobre o desenho, mas me amarrei na ideia de viagem no tempo e de um cachorro que é pai de um menino humano. Claro, nem sempre uma boa receita significa o segredo do sucesso, por isso não tirei conclusões precipitadas.

Dois simpáticos personagens

Bom, como o próprio nome sugere, o filme tem dois personagens principais: Peabody (o cachorro) & Sherman (o humano). A história do longa começa lá na infância de Peabody, quando ele ainda era um filhote e ficou um tempão esperando ser adotado. Depois de tanto ser rejeitado, nosso amigo canino resolve levar uma vida de estudos.

Após muitos anos, Peabody já em sua fase adulta — após ganhar prêmios por grandes invenções e já ser reconhecido internacionalmente — resolve virar pai. Acontece que ele não queria se envolver com outros animais de sua espécie e então tenta adotar um filho humano: o Sherman.

pea3

Peabody é um cachorro amigável que mostra respeito e muito carisma. Já Sherman é um menino adorável que dá o tom de diversão e alegria para o filme. Conforme o andar da carruagem, a relação entre eles deixa de ser apenas familiar e vira uma grande amizade.

A verdade é que além da situação inusitada em que um cão é pai de um humano, temos aqui uma dupla que tem uma máquina do tempo e viaja para diversos locais para conhecer celebridades que marcaram época e, às vezes, para mudar um pouco da história.

Debatendo muitos temas complicados

Apesar de “As Aventuras de Peabody & Sherman” tratar das viagens pelo tempo, o filme tem uma história sólida no presente, focando nas primeiras aulas do garotinho e na relação entre os dois protagonistas. As situações da atualidade são o palco perfeito para o filme debater temas como bullying, afetividade, aceitação da sociedade e outras questões.

É engraçado que o filme não tenta criticar diretamente as atitudes de um ou outro personagem (alguns chatos e outros briguentos), sendo que o desenrolar do enredo acaba mostrando que há muita coisa errada em determinadas ações das pessoas e aos poucos tudo é devidamente resolvido.

pea2

Gostei muito de ver que os roteiristas tiveram essa coragem de colocar tais assuntos na película, pois mesmo sendo uma situação impossível de acontecer (já que não existe um cachorro que seja pai de um humano), as mesmas ideias e soluções se aplicam a vida das pessoas do mundo real.

Não é bem para a criançada…

Ainda que estejamos tratando de uma animação engraçadinha e cheia de boas intenções, ela não é totalmente voltada para crianças. Sim, o público infantil vai acabar se identificando com uma série de situações, incluindo o bullying que muitos sofrem, mas há uma grande carga no longa que fica difícil para os pequeninos compreenderem.

As viagens no tempo são muito legais e tudo é bem esmiuçado para que o público não fique boiando na história. Contudo, é preciso considerar que o bombardeio de informações complica o acompanhamento dos eventos.

pea4

Você contar para uma criança que lá em determinada época houve um período chamado Renascimento, em que um grande artista (Da Vinci) tinha ideias brilhantes e fazer uma conexão dessa ocasião com o presente (em que há outros problemas) deixa a criança perdida. E isso não acontece somente uma vez. Há diversas idas e vindas na linha do tempo, com diferentes cenários, personagens, fatos, datas, etc.

Bom, no fim, acredito que quem mais vai aproveitar o filme são os adultos.  Aqui temos a prova de que nem toda animação precisa ser para crianças e que há como falar sobre várias questões sem ter um filme totalmente fantasioso.

Eu, particularmente, gostei muito da ideia e principalmente do bom humor de Sherman. “As Aventuras de Peabody & Sherman” ainda tem uma pitada de drama (que dá direito a lágrimas) e uma grande dosagem de aprendizagem.

Palahniuk, Fincher e uma adaptação que complementa o original

Eu cheguei à obra de Chuck Palahniuk pelo cinema — e aposto que muita gente que hoje vai atrás das coisas que ele escreveu também chegou até ele dessa maneira. Se você não sabe a quem estou me referindo, eu esclareço: Palahniuk é autor de livros como “Cantiga de Ninar”, “No Sufoco” e “Clube da Luta”. Ele já escreveu diversas outras obras além dessas e, duas delas, exatamente “Clube da Luta” e “No Sufoco”, chegaram ao cinema.

Se você não é um entusiasta da obra de Palahniuk, talvez nem se lembre de “Choke - No Sufoco”, a adaptação cinematográfica da obra levada à telona em 2008 pelas mãos de Clark Gregg (que além de dirigir e roteirizar, também atuou na película) e estrelada por Sam Rockwell (“Lunar”) — Gregg é mais conhecido por interpretar o agente Phil Coulson em filmes da Marvel, como “Homem de Ferro” e “Os Vingadores”.

Muita gente não imagina que “Clube da Luta” é a adaptação de um romance, mas provavelmente já ouviu falar na obra que se tornou um verdadeiro clássico do “cinema cult”, se é que podemos dizer assim, no final dos anos 90 — na verdade, se você viu o filme e não sabia disso, é um grande desatento, pois a informação aparece logo nos créditos iniciais.

Chuck Palahniuk

Em 1999, David Fincher (“A Rede Social”) dirigiu a versão cinematográfica desse verdadeiro “soco na mente” de Palahniuk, comandando um elenco de respeito com Brad Pitt (“Entrevista com Vampiro”), Edward Norton (“A Outra História Americana”) e Helena Bonhan Carter (“Alice no País das Maravilhas”),  mostrando que não precisa do marido na direção pra esbanjar talento, diga-se de passagem. No apoio, nomes que dão um toque especial à película, como Meat Loaf (“Tenacious D - Uma Dupla Infernal”) e o agora vencedor do Oscar Jared Leto (“Senhor Ninguém”), completam o time.

Bem, voltando ao início do texto, eu conheci a obra literária de Chuck Palahniuk por meio do filme, que fui assistir somente em 2007. Depois disso, encontrei alguns livros dele para vender, outros eu baixei na internet, mas desde então procuro ler tudo que sai em português. A obra mais fascinante pra mim é, sem dúvida, “Clube da Luta”, e é aí que entra um ponto interessante: a abordagem dada por Fincher e por Jim Uhls, o roteirista, consegue capturar muito bem o espírito do livro de Palahniuk.

David Fincher

Depois de ler o livro e ver o filme algumas vezes, as lembranças de ambos se embaralham e às vezes fica difícil lembrar exatamente de qual obra é determinada fala. O filme tem muito do livro, é óbvio, mas também adiciona algumas coisas novas (como por exemplo a forma como o narrador conheceu Tyler Durden e ainda o fim que ele dá aos problemas com seu chefe), porém sem inventar demais, sem desrespeitar a obra original, digamos assim.

Os responsáveis por adaptar o texto de Palahniuk para o cinema conseguiram capturar o perfil psicológico da obra e de seus personagens de forma excepcional, criando uma atmosfera caótica e bizarra, trabalhando de forma competente o humor ácido e crítico que o autor esbanja no livro.

Enfim, arrisco dizer que os dois “Clubes da Luta” são complementares e podem muito bem ser apreciados em sequência um do outro. Fazer isso várias vezes, aliás, vai deixar aquela sensação de não saber qual é qual na hora de fazer uma citação, como se você estivesse quase imerso na obra e não soubesse quem é Tyler e quem é Narrador.

Crítica do filme Alemão | Porque aqui o papo é reto!

O cinema brasileiro não é lá a coisa que o pessoal que nasceu e mora por essas terras mais gosta de ver nas telonas. Mas o fato é que a produção nacional está em alta e isso já dura um bom tempo. Prova disso são filmes recentes que vêm sendo lançados e que não deixam ninguém com vergonha frente ao que é apresentado. E hoje, o representante dessa nova safra de produções "pós-publicitárias" e pós-Tropa de Elite é nada menos do que Alemão - o novo filme dirigido por José Eduardo Belmonte.

A trama conta a história de cinco policiais infiltrados no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (e sim, é exatamente por isso que a película leva esse nome), cuja missão secreta basicamente consiste em coletar informações vitais para a tomada do conjunto de morros pelas forças pacificadoras da lei. Por isso, é bom lembrar que o filme "apesar" de ser baseado em um acontecimento real, há uma mensagem na tela de apresentação que afirma que a história deve ser encarada como uma obra de ficção.

alemao0

O filme conta com atores de peso como Caio Blat, Milhem Cortaz (o eterno Capitão Fábio de Tropa de Elite), Otávio Müeller, Gabriel Braga Nunes e Marcelo Melo Jr., além das participações especiais de Cauã Reymond (no papel de traficante) e de Antônio Fagundes (o delegado da polícia carioca). E todo esse pessoal consegue estabelecer uma atmosfera sensacional, com interpretações sólidas e principalmente com um esquema de produção muito acertado.

A história foi construída a partir de uma maneira contemporânea, com um roteiro relativamente atemporal, que usa como plano de fundo a guerra do tráfico do Rio de Janeiro. O filme é realmente muito tenso, com câmeras próximas, pontos de fuga próximos, tudo convergindo para uma atmosfera de tensão constante e penumbra. A sensação de claustrofobia acompanha o espectador durante praticamente todos os momentos.

O enredo gira bastante rapidamente, o que confere uma certa rapidez nas transições propostas no decorrer da história. E tudo isso é contado em poucos cenários, com uma maneira que utiliza a "enxutez" de Beckett ao deixar de lado informações e cenas desnecessárias.

Para ser sincero, a temática do filme fala sobre a humanidade da polícia. Sim, essa produção realmente parece se tratar do combate ao tráfico ou da polêmica envolvidas na pacificação de morros, mas tudo acaba girando em torno da polícia. Os combatentes da lei são pessoas, humanos como quaisquer outros, com dúvidas e inquietações assim como qualquer ser "normal" - que não trabalha em favor da lei.

alemao1

Apesar disso, a obra não se posiciona claramente sobre o assunto. Ela apenas coloca vários argumentos juntos, deixando a cargo de cada um o julgamento de valor que acabará inevitavelmente sendo feito ao apagar das luzes. Enfim, se você gostou das produções do Padilha (nos filmes estrelados pelo Capitão Nascimento e pelo policial do futuro), então não há razão para que você não dê uma chance para Alemão.

O cinema brasileiro está de parabéns.

Crítica do filme Namoro ou Liberdade | Um filme sobre brotheragem

Eu preciso admitir que, na primeira vez em que assisti ao trailer de “Namoro ou Liberdade?”, simplesmente achei que esse seria mais um filme de romance.

Você provavelmente sabe do que eu estou falando: aquelas produções cheias de gente bonita, com relacionamentos minimamente problemáticos e que servem para que os atores não caiam no esquecimento e ainda ganhem uma graninha bacana.

Para piorar as minhas expectativas, assim que eu entrei na sala de cinema, uma mulher (CHATA PRA CACETE) sentada logo atrás de mim não parava de reclamar o quanto aquele filme parecia ser chato e de quanto ela já não estava gostando do começo. Eu meio que fui contaminado por ela e já estava preparado para escrever este texto de uma maneira bem mais agressiva, contando a grande bosta que “Namoro ou Liberdade” deveria ser.

Acontece que o filme não é ruim. Ele é espantosamente divertido e agradável de assistir, com um elenco muito bem entrosado e que vai te levar por toda a história de maneira bem suave. E isso é algo muito bom, afinal de contas, você não se cansa e não passa quase duas horas pensando no que poderia ter comprado com o dinheiro do ingresso.

Para deixar a minha opinião mais clara, eu dividi o filme em duas “partes” diferentes, explicando o que eu achei bom nele e o que eu consegui tirar dele. Ou seja, CONTINUE LENDO, amiguinho leitor!

Você e os seus amigos aparecem por lá

namoroliberdade

Logo no início do filme, nós podemos ver o relacionamento entre os 3 protagonistas, que são grandes amigos desde a época do colégio. Isso é algo bem normal em romances, mas “Namoro ou Liberdade” faz isso de um modo muito natural. Os personagens falam sobre todo o tipo de merda e em todos os momentos possíveis, sem importar se uma senhora está escutando uma crítica sobre as habilidades orais de uma moça (se é que você me entende).

Isso é bacana pelo simples fato de que você também deve ter isso na sua vida: amigos que você conhece há tempos, amigos que não precisam cuidar com as palavras, te dão bom dia com uma enxurrada de palavrões e que sempre cagam na sua casa. Esse tipo de coisa é divertido pra cacete na vida real e é retratado muito bem na produção, sendo que isso vai arrancar risadas de você durante todo o tempo, inclusive nas partes que deveriam ser mais dramáticas.

Além disso, a amizade – que eu também chamo respeitosamente de brotheragem – é retratada de diversas maneiras durante o filme, mostrando que você deve ser parceiro durante os problemas dos seus amigos, durante as alegrias e até mesmo durante as brigas. Porque essas pessoas passam a fazer parte da sua família, assim como os protagonistas exemplificam ao resolver seus problemas no final de “Namoro ou Liberdade”.

Até que tudo isso é bonito, né?

A transa VS As transas

img2

Depois de apresentar uma brotheragem que dá ritmo ao filme, o enredo nos apresenta a questão que dá título à produção: e aí, é melhor ter liberdade ou namorar uma pessoa bacana? O engraçado é que praticamente toda pessoa já se perguntou esse tipo de coisa em algum momento da própria vida, o que torna o romance ainda mais próximo dos seus espectadores.

Acontece que essa questão não tem uma resposta certa, porque a vida não é preto e branco. Há uma quantidade de variáveis absurda, como o momento em que você está na vida ou o que você quer para o seu futuro. Afinal de contas, cada indivíduo tem um universo inteiro dentro da cabeça dele, sendo que um relacionamento leva tudo isso em consideração. Parece complicado pra caralho, mas não é tanto assim.

Outra complicação que o filme mostra é o fato de que a vida não tem um manual. Não é porque você comprou um apartamento que o casamento vai dar certo, não é porque você se casou que aquela é a pessoa da sua vida. E a sua namorada (ou namorado) vai mudar com o tempo, sendo que isso é completamente normal. Ou seja: merdas acontecem, meu camarada, não adianta insistir em erros.

“Namoro ou Liberdade” leva tudo isso em consideração e é muito inteligente por conta disso. Isso porque o filme não tenta responder o que é melhor entre essas duas alternativas. Ele mostra que você pode namorar se gosta de alguém e se separar se o relacionamento não é mais saudável – e a escolha é sua, sem regras, apenas respeitando o seu parceiro ou parceira.

Ok, ainda não entendi...

Se você chegou até aqui, mas ainda não entendeu porque o filme é maneiro, eu resumo. “Namoro ou Liberdade?” tem um enredo pé no chão, recheado de humor honesto e com dúvidas que grande parte das pessoas tem. Além disso, a produção não caga regras, já que namorar e ser solteiro são duas coisas boas, mas diferentes.

Por conta de tudo isso, o filme é muito mais um filme sobre brotheragem – com seus amigos e com as suas namoradas – do que apenas um romance. E você ainda pode fazer uma média com o seu parceiro, ver um filme cheio de gente bonita e dar várias risadas.

Crítica Ninfomaníaca Parte 2 | A Tragédia Cômica ou a Comédia Trágica de Ms. Joe

Relato de um ex-usuário de Cocaína:

O vício não se dá por causa da droga, nem pelo efeito que ela causa, muito menos por algum tipo de ‘doença’. Não é uma mentira que alimenta o vício, ou o vício que alimenta uma mentira, não é o mundo diferente que a droga proporciona que mantém alguém dependente. Digo por experiência própria, que o vício existe única e exclusivamente pela compulsividade.

Dizem os especialistas que os comportamentos compulsivos, apesar do objetivo que têm de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, normalmente não se adaptam ao bem estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social. Eles se caracterizam por serem repetitivos e por se apresentarem de forma frequente e excessiva. Um compulsivo se torna uma doença.

Eu, ser-humano, nunca estudei psicologia para tirar uma conclusão mais profunda sobre comportamentos compulsivos, mas acredito entender porque eles ocorrem a ponto de achar atitudes dessa natureza extremamente compreensíveis.

nifo9

Imagine você, realizando a mesma tarefa repetidamente dia após dia, seguindo padrões e regras que você nem sabe quem as criou ou porque existem, e se sentir incomodado com tudo isso. Mas, apesar dessa consciência, acreditar que o errado, no final da história, é você. De repente, por uma obra casual, você se vê diante de pessoas que pensam da mesma maneira, pessoas que acreditam que existe um novo jeito de viver, uma maneira de ser humano, de viver humanamente, que existe uma alternativa. Sem a menor dúvida você embarcaria com essas pessoas e viveriam aqueles sonhos juntos. Porém, começa a se dar conta que essas pessoas que estão do seu lado têm os mesmos preconceitos que elas julgam lutar contra. E, no final das contas, percebe que é o planeta todo que está com uma grande doença, e não existe nenhuma solução aparente para criar o tal “mundo melhor”. O que fazer diante disso? Criar um mundo só pra você. Mentir. Compulsivamente.

O que eu quis dizer com toda essa baboseira é que tudo o que parece estranho, bizarro, absurdo, nojento, tem um porquê, principalmente se há falta de adaptação.

3 para 1

Só pra esclarecer uma coisinha, apesar da crítica ser sobre a parte 2, eu vou falar do filme como uma obra só... Afinal de contas é isso que ele é. Inclusive, essa segunda parte inicia exatamente no mesmo momento onde a outra terminou.

É inegável a habilidade de Lars Von Trier (Diretor de Ninfomaníaca) para criar obras de arte. Claro, a opinião do leitor pode ser bem diferente da minha, porém, tudo, absolutamente tudo, o que ele faz possui a uma identidade nítida. Se você ainda discorda de mim, faça a seguinte experiência: pegue algum filme dirigido por ele depois de “Dançando no Escuro”. Agora, coloque em qualquer cena. Assista alguns minutinhos. Percebeu uns cortes estranhos, onde os atores estão fazendo alguma coisa e de repente, do nada, a cena corta e eles estão fazendo outra como se nada tivesse acontecido? Pois é! Isso se repente em todos os filmes do diretor. Particularmente, acho isso lindo porque é muito sutil, as pessoas raramente percebem e nos lembra que o que estamos vendo é uma obra de ficção, é um filme, nada mais que isso. 

ninfo3

Ninfomaníaca é puramente uma obra de ficção. Não conta uma história real, nem fala de uma possível realidade. É um universo que o autor criou para expor uma ideia, apenas isso. E essa ideia é personificada em Joe, a personagem principal. Uma das coisas mais legais que o autor faz, é não dar uma cara exata para essa personagem. Ao todo são 5 atrizes que interpretam Joe em várias fazes de sua vida, porém são 3 que recebem um destaque maior: Joe de 10 anos (Ananya Berg), a jovem Joe (Stacy Martin) e Joe (Charlotte Gainsbourg). Cada uma dessas atrizes tem uma cara completamente diferente da outra. Por exemplo, a Joe de 10 anos tem olhos muito azuis, já a Joe mais velha tem olhos escuros! Ou seja, não importa quem é a Joe de fato, o ponto chave em questão é o que ela representa.

Eu gosto de trepar

Afinal de contas, sobre o que é o filme? Eu me fiz essa pergunta logo que os créditos finais começaram a subir. Pensei muito no que aquelas 4 horas significam, e a minha conclusão é que o filme não é sobre ninfomania. 

Em uma das cenas, Joe é encaminhada a um grupo de ajuda (igual ao dos Alcólicos Anônimos). Ao se apresentar,

-“ Olá, Meu nome é Joe

- Olá Joe!”,

Ela se declara ninfomaníaca. A psicóloga do grupo diz que não, que ela é viciada em sexo. Nesse momento acontece uma das cenas mais gostosas do filme, onde Joe dá um discurso afirmando que ela é sim ninfomaníaca e se ama muito por isso, mas acima de tudo “amo minha boceta e minha luxúria suja e obcena”. E aquilo tudo é uma polícia moral da sociedade, cujo dever é apagar a obscenidade da terra para que a burguesia não se sinta doente.

Minha conclusão é que Ninfomaníaca é sobre seres humanos, suas doenças, seus medos, seus segredos, seus nojos, sua violência e, acima de tudo, sobre humanidade. Joe não é apenas 3 atrizes, Joe é o ser humano. Aquele que luta pra satisfazer o seu desejo, para se adaptar na sociedade e diante da falha de adaptação, desenvolve uma compulsividade colaborando com a doença do mundo.

ninfo8

Dica importante: se for matar alguém, engatilhe sua arma

A quantidade e a qualidade de referências que Lars coloca em seu filme é algo que me deixou bastante satisfeito. De onde menos se espera surge uma alusão a algo que ilustra a história de Joe de maneira surpreendente. A gama de cartas na manga, para essa estratégia, vai desde matemática e música clássica à James Bond e montanhismo. 

O que é mais interessante, é que para cada nova temática introduzida há um começo, um meio e um fim. Toda nova história apresentada pelas personagens se desenrola junto com o roteiro principal, acrescenta muita informação valiosa (que na maioria das vezes, pela quantidade de novas informações, acabamos deixando escapar alguma coisa), e tem um desfecho. Eis algo de tirar o chapéu para o roteiro, pois nada é desperdiçado, tudo fica amarrado o que torna a história ainda mais rica.

Para um primeiro olhar o roteiro é bem previsível. Tudo o que ali é contado, alguns instantes antes é possível adivinhar. Porém, isso, como é bem executado, não torna a história maçante ou ruim. Principalmente pelo teor do filme não se tratar da historinha tragicômica de Joe, mas sim desse algo mais profundo que já falei anteriormente.

E não é que nessa história de adaptação na sociedade o ser humano acaba dando um jeito de se virar!? As vezes de uma maneira que leva a outra atitude tão grotesca quanto à compulsividade. Joe nos surpreende, e no momento mais obvio toma a atitude mais inesperada, pondo fim a história que ela começou a contar.

Escolha o seu lado da força

É surpreendente a repercussão que o filme tomou! Há muito tempo eu não via um filme “não hollywoodiano” ganhar tanto destaque em jornais, revistas, internet, redes sociais, enfim, a porra toda! Mesmo os outros filmes de Lars, que foram talvez mais polêmicos que esse (Dogville e Anticristo), não tiveram o mesmo destaque. Por exemplo, no cinema em que estreou Ninfomaníaca Parte I o ingresso era 40 reais. Mesmo assim precisei ir 3 vezes para conseguir um lugar no cinema!

Claro que esse em especial tem uma fator que contribui muito para o interesse do público. A quantidade de pica, boceta e metelança que aparece, é algo que não estamos acostumados a presenciar em um filme não-pornô. E, apesar de chamar muito público, é por esse exato motivo que o público não está tendo uma excelente aceitação.

ninfo10

Entre meus amigos “adoradores e estudantes de cinema”, fui um dos únicos que gostei da obra completa. De todo o teor do filme. Vale ressaltar que quando terminou a Parte I, eu achei o filme bem comum. Porém, ao contemplar as 4 horas da obra finalmente compreendi o que era aquilo e fiquei absorto.

Quer assistir? Vá preparado. O filme é excepcional e garante uma imersão profunda naquela história. Se você não gostar do que viu, pelo menos excitado eu garanto que você fica. Delite-se!

Crítica do filme Need for Speed | Vruuummmm

Vruuummmm... você vai escutar muito isso em "Need for Speed", filme que adapta a consagrada série de jogos de corrida para as telonas. Nada mais justo para um filme sobre carros e corridas, não é?

O responsável por isso – amantes das quatro rodas vão curtir – é um Mustang Shelby, mas não qualquer um. É o Mustang Shelby original, desenhado pelo próprio Carroll Shelby. A poderosa máquina é um dos astros principais do longa!

O responsável por dirigi-la é o protagonista Tobey Marshall, interpretado por Aaron Paul, nosso inesquecível Jesse Pinkman. Falando nisso, este é o primeiro trabalho de Paul depois do término de Breaking Bad, e o fantasma da série ainda paira sobre o ator.

Confesso que assisti o filme esperando a todo o momento que ele soltasse um “bitch”, mas não foi dessa vez. Saudosismo à parte, Paul dessa vez sai da necessidade de usar metanfetamina para a “necessidade de velocidade” (há, viram o que eu fiz aqui?). 

Voltando a resenha, existem dois modos de se analisar Need for Speed: O Filme. Primeiro, ele é fiel à franquia de corrida da Electronic Arts? Podemos dizer que sim, mesmo porque os jogos não tem uma história definida. O interessante foi encontrar alguns elementos dos games na película, como os diversos supercarros (óbvio né).

Aparecem no racha o Koenigsegg Agera R, Lamborghini Sesto Elemento, GTA Spano, Saleen S7, Bugatti Veyron e McLaren P-1 – mais de 7 milhões de dólares em carros! Além disso, para aqueles que são fãs da série, vão gostar de ver as perseguições policiais ao estilo most wanted e as belas paisagens que formam as pistas de corrida. 

nfs3

A segunda forma é olhar para Need for Speed como um filme de corrida. A comparação com Velozes e Furiosos é meio que automática, porém NFS se diferencia. Não foca tanto na ação e carros tunados, e suas corridas são mais naturais, do tipo, você sabe que o carro bateu e pegou fogo de verdade. O posicionamento de câmeras do diretor Scott Waugh ajuda nessas horas. Eu gostei do que vi, talvez porque estivesse com a expectativa lá em baixo, mas o longa tem suas qualidades. Apesar disso, não tem como não comentar sobre suas partes ruins. 

Esse é o tipo de história que, após cinco minutos, você já consegue prever tudo que vai acontecer. Já sabe quem vai morrer, já sabe que o herói vai para a cadeia por um crime que não cometeu, e que quando sair vai atrás de vingança. Já sabe que ele vai ficar com a bela moça no final – palmas para a bela atriz Imogen Poots – e que, depois de mil e uma confusões, ele vai ganhar a última corrida e vencer o mal.  

nfs4

Mesmo sendo um filme de puro clichê, "Need for Speed" consegue divertir, tanto nas piadinhas à la Praça é Nossa, quanto na aceleração dos carros. Vruumm Vruuumm.