Crítica do filme Taxi Driver

A vida desperdiçada de Travis

por
Edelson Werlish

05 de Junho de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/Sony Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Nesta minha curta vida como palpiteiro cinéfilo, até o momento não tinha escrito nenhuma resenha sobre filmes antigos – daqueles em preto-e-branco ou da era de ouro hollywoodiana. Com o anúncio de que o Cinemark iria passar alguns clássicos em sessões especiais novamente, eu soube na hora que essa era a oportunidade perfeita para fazer minha estreia na área.

Bem que tive a sorte de o primeiro lançamento ser Taxi Driver, um que há muitos anos não via e que estava mofando na minha lista de “assista depois” da Netflix. Praticamente foi a mesma sensação de ver de forma inédita, e melhor ainda, na grande tela. 

Para começar, uma sinopse básica: Taxi Driver, de 1976, é considerado um dos maiores filmes norte-americano já feitos. Atrás das câmeras, nada menos do que Martin Scorsese, aquele cara que tem 50 milhões de prêmios e nomeação a prêmios.

Na parte dianteira, quem puxa as rédeas da atuação é o bom e velho mestre Robert De Niro, que na época era apenas um jovem começando sua brilhante carreira. Outra incrível performance é a da pequena Jodie Foster, que possuía apenas 12 anos e fez um trabalho monstro interpretando uma prostituta nova-iorquina. O filme pode ser considerado um marco para essas três peças principais.

A atuação de De Niro é impecável. Logo ao início do longa, apenas por uma movimentação de olhares filmados pelo retrovisor do seu taxi, dá para se medir a magnitude de seu trabalho. O treino na frente do espelho com as armas recém compradas, com a memorável frase “Você está falando comigo?” se tornou um ícone do cinema, sendo reinterpretada ou parodiada por muitos outros longas ou seriados.

Uma cidade que precisa ser dada a descarga

Na trama, De Niro faz o papel de Travis Bickle, um rapaz de 26 anos frustrado e alienado pela vida que leva, que sofre de insônia e de uma falta de objetivo para viver. Os problemas para dormir levam o jovem a trabalhar como taxista em Nova Iorque, no turno da madrugada.

Dentro de seu taxi, Travis observa, critica, foge e vive toda a violência, solidão e escória que está impregnada na cidade. São bandidos, mafiosos, meretrizes, estupradores, maníacos, políticos e tudo o que há de ruim. Porém, após a pequena prostituta Iris (papel de Foster) entrar em seu taxi tentando fugir de seu cafetão, a vida de Travis dá aquela guinada, e tudo começa a mudar. 

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Travis também faz em algumas partes a narração em off, em sintonia com escrita em seu diário. O personagem escreve o dia a dia, tentando sair de sociedade quebrada e de uma rotina frustrante. Porém, a cada parágrafo escrito, mais parte daquele mundo ele faz. Tudo acaba sendo metáforas ou conceitos de uma própria vida miserável. Nova Iorque, de acordo com Travis, precisa ser limpada, precisa que sua descarga seja dada. Mas como fazer isso se a cada minuto o homem se torna mais parte daquilo?

Uma teoria tarantinesca

Rever Taxi Driver foi uma grande experiência para a parte de crítica cinematográfica. A cada momento, eu conseguia compará-lo com diversos outros filmes subsequentes, de diversos outros diretores. Ele se encaixa perfeitamente na transição de duas fases distintas do cinema estado-unidense. 

Antes, Alfred Hitchcock. Taxi Driver é uma evolução – com todo respeito ao mestre do suspense – de filmes como “Um Corpo Que Cai”. Evolução no sentido temporal e de trazer uma maior realidade ao longa. Porém, Hitchcock está em Taxi Driver como nenhum outro diretor.

Um dos principais responsáveis por isso é Bernard Herrmann, responsável pelas trilhas sonoras dos filmes de Alfred e que compôs para Scorsese neste longa. Impossível também não reconhecer o padrão do velho diretor com a escuridão e jogadas de câmeras utilizadas. Scorsese é mestre. Soube de onde tirar inspiração, e isso levou o cara ao que temos hoje. 

Depois, Quentin Tarantino. Eu não poderia falar sobre Taxi Drive sem falar de Tarantino. Desde os créditos iniciais, àquela boa e velha ironia nas cenas de ação. As coisas dão certo, as coisas dão errado. E dão mais errado do que certo, ao melhor estilo “Cães de Aluguel”.

Falando nos cães, deixa eu te contar que o ator Harvey Keitel, que faz o papel de Mr. White, tá antes lá em Taxi Driver, interpretando aquele cafetão que citei em alguns parágrafos acima. Tarantino também é mestre. Aprendeu muito com Taxi Driver, e isso levou o cara ao que temos hoje. 

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Depois dessa comparação temporal entre os diretores, ainda posso fazer mais uma. O título dessa resenha não é gratuito. Para um bom entendedor, já deve ter feito a ligação com Clube da Luta. Chuck Palahniuk, autor do romance homônimo que originou o filme de mesmo nome, também deve ser fã do filme de Scorsese. De Niro nada mais é do que um perdedor, assim como o personagem de Edward Norton em Fight Club. Mas para o azar ou sorte (mais para a sorte) Travis Bickle não tem um Tyler Durden em sua vida. 

Outro ponto a se falar é o amadurecimento do próprio Scorsese. Para quem viu O Lobo de Wall Street há duas semana, e agora assistiu a Taxi Driver, parece que viu filmes de dois diretores diferentes. Mas isso se dá ao fato de Martin se adaptar, tanto aos seus roteiros, quanto a época que os dirige.

Se fosse filmado nos dias de hoje, Taxi Driver seria uma película totalmente diferente. Parece meio óbvio, mas não é. O que é óbvio é que teríamos uma grande obra de qualquer forma. Scorsese é mestre.

Fonte das imagens: Divulgação/Sony Pictures

Taxi Driver - Motorista de Táxi (1976)

Você está falando comigo?

Diretor: Martin Scorsese
Duração: 113 min
Estreia: 22 / mar / 1976
Edelson Werlish

Andou na prancha, cuidado Godzilla vai te pegar!