Crítica do filme O Teorema Zero | Crise existencial em loop infinito

Há pouco mais de um mês (no dia 10 de julho), o filme “O Teorema Zero” chegou aos cinemas do Brasil. Quer dizer, ele foi lançado em algumas salas, mas, por se tratar de um filme independente, é provável que você não o tenha visto em lugar algum.

Eu estava ansioso para conferir a nova obra de Terry Gilliam e, felizmente, encontrei uma sala em que o filme estava em exibição. Quero adiantar que o longa não atendeu às minhas expectativas, algo que comentarei depois.

Para você que chegou aqui por acaso e não faz ideia sobre o que trata o filme, vamos a uma pequena introdução. “O Teorema Zero” conta a história de Qohen Leth (interpretado por Christoph Waltz), um hacker que é convocado por uma misteriosa empresa para resolver o Teorema Zero, uma fórmula capaz de determinar o verdadeiro sentido da vida.

Lendo esta breve sinopse, você pode ter noção de que o filme vai abordar questões de física e tratar de assuntos existenciais, o que pode ser muito interessante, ainda mais se no fim tivermos uma resposta ou algumas conjecturas que nos coloquem pra pensar.

Ao ver o trailer, você possivelmente vai ficar ainda mais ansioso para conferir a obra, já que o vídeo nos passa a ideia do panorama do filme e impressiona pelas cores. Juntando tudo isso, temos a noção de que o filme pode ser genial. Infelizmente, não é tudo isso, mas também não é de todo ruim. Vamos entrar em detalhes.

Desconforto constante

A história de “O Teorema Zero” é focada em Qohen Leth, sujeito bizarro que fala constantemente no plural — fazendo a referência a ele mesmo como “nós” — e que aguarda por um telefonema misterioso. Ele age de forma estranha, não se comunica muito bem e aparenta ser totalmente fora da casinha.

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Ele trabalha em uma grande corporação realizando cálculos (mas parece que ele está jogando video game) para um propósito maior e desconhecido. Quando não está na empresa, Qohen está em casa (que, na verdade, parece mais uma igreja enorme) esperando pela tal ligação urgente que ele está para receber a qualquer momento.

Devido a tal chamada telefônica, este sujeito bizarro pede afastamento da empresa, dizendo ao seu patrão (Matt Damon) que ele está disposto a trabalhar em casa, onde vai produzir mais e melhor. Assim, ele é incumbido de resolver o tal Teorema Zero.

Todavia, o trabalho em questão é algo impossível de se resolver, o que leva Qohen a surtar. Algo que vale comentar aqui é a atuação de Christoph Waltz. Como já vimos em outras obras, esse cara tem o dom e pode nos surpreender. Ele deixa a loucura dominá-lo, de tal forma que você vai ficar irritado e, ao mesmo tempo, conseguirá amar o personagem.

Toda essa parte (que é quase metade do filme) em que acontece o desenvolver do personagem, o filme consegue ser cansativo e muito confuso. São tantas coisas sem explicações, que dá até vontade de sair da sala de cinema ou de puxar um ronco. Entretanto, há uma dualidade de sensações. É confuso, mas é curioso. E você vai querer descobrir o que vem a seguir.

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Aos poucos, a história vai ficando mais interessante, tanto pelas respostas quanto pela adição de personagens que dão uma chacoalhada na película. Os destaques ficam para Bainsley (Mélanie Thierry), que tenta ajudar Qohen o levando a conhecer o mundo sexual virtual — uma tendência óbvia do futuro —, e Bob (Lucas Hedges), filho do gerente que nos dá algumas explicações.

Tudo faz sentido — ou não

A história de “O Teorema Zero” pode parecer apenas uma grande piração, mas há muita coisa plausível e é bem fácil traçar um paralelo direto com a realidade. Todo mundo alguma vez (e muito provavelmente várias vezes) já se perguntou qual é o sentido da vida. As crises de existencialismo não surgiram agora e não vão simplesmente acabar.

As indagações impostas no filme são lógicas, sendo que é bem fácil uma pessoa enlouquecer se ela realmente ficar batendo nessa mesma tecla. Considerando ainda todo o plano de fundo da história (com um sistema capitalista ainda mais evoluído, pessoas poderosas, toda a superficialidade do mundo, todas as reviravoltas da vida e a falta de respostas), não é tão complicado entender o personagem e o enredo proposto.

Talvez, algumas pequenas modificações no roteiro deixassem a história mais fácil de processar, ainda mais que nem todo mundo vai parar e se questionar se existe um porquê por trás disso tudo, sendo que nem mesmo é possível ter a certeza do que o escritor e o diretor queriam passar com a obra. No fim, esse é o mesmo problema que existe em todo e qualquer filme que exige raciocínio, afinal, há um bocado de subjetividade.

Bom, entre tantos cineastas, Gilliam, de fato, é um dos poucos que poderia assumir e levar um filme tão bizarro como “O Teorema Zero” adiante. É notável a mão do cara aqui, ainda mais para quem já conferiu “Os 12 Macacos” — dá até pra cruzar um pouco as ideias — e outros filmes inteligentes deste gênio.

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O mundo de “O Teorema Zero” é um charme à parte. Todo o colorido e a imaginação dos cenários e dos objetos nos levam a um futuro muito convincente e cheio de elementos curiosos. A trilha sonora  foi devidamente trabalhada para casar com cada situação. Ela serve tanto para levar a plateia ao mundo confuso de Qohen quanto para dar o impulso necessário nas cenas dos mais variados tipos.

Ainda que não seja brilhante ou esclarecedora, esta película consegue despertar a curiosidade e levar o espectador a refletir sobre inúmeras questões. O filme poderia ser mais direto e menos confuso em algumas partes, mas obras desse tipo não são elaboradas para entregar uma história mastigada. Se você gosta do trabalho de Terry Gilliam ou se quer um filme bem diferente, a ida ao cinema pode valer a pena!

Crítica do filme Lucy | Ficção científica com uma pequena dose de filosofia

Estudos apontam que os humanos utilizam apenas 10% de sua capacidade cerebral. Mas o que aconteceria se fosse possível usar 20%, ou 100%? Ainda que essa teoria esteja sendo revista, é interessante considerar essas hipóteses. A premissa do filme é essa, onde Lucy (Scarlett Johansson) acaba sendo cobaia involuntária de uma droga experimental, adquirindo a capacidade de acessar areas do cérebro ainda inexploradas. Basicamente ela ganha superpoderes maneiros, e podemos acompanhar o progresso das capacidades cerebrais de uma forma bem visual. 

O filme tenta ser um tanto quanto conceitual, estilo "A Árvore da Vida". Por exemplo, logo no começo quando Lucy está sendo obviamente enganada para uma armadilha, aparece uma ratoeira com um queijo no meio da cena, e várias cenas seguintes são referênciadas dessa forma. É claro que Luc Besson quis adicionar isso como narrativa, mas acaba sendo meio desnecessário em determinadas cenas. Mas quando Lucy está descobrindo seu novo potencial, paralelamente vemos uma palestra do sempre genial Morgan Freeman, explicando em porcentagens o que seríamos capazes de fazer com o potencial completo de nossos cérebros, e apesar de ser tudo meio literal, não ficamos com a dúvida do que está acontecendo. O elenco conta ainda com Min-sik Choi, ator conhecido pelo genial Oldboy.

Scarlett está fazendo seu papel tradicional, de moça sensual que bate em todo mundo, mas até que ela combina bem com o papel. Em vários momentos podemos ver Lucy olhando pro além, com a boca entreaberta e os olhos brilhantes, enquanto tenta entender suas novas capacidades. Esse não é o retrato perfeito da Scarlett?

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As música que compõem a trilha são perfeitas para o andamento da história, combinando perfeitamente com cada cena, inclusive contando com momentos selecionados de silêncio. 

O ritmo do filme é bem desenvolvido, sem muita enrolação. Basicamente é uma grande demostração de superpoderes possíveis utilizando apenas a mente. Diversas explicações científicas são apresentadas, mas nada que faça sua cabeça explodir ou qualquer ideia revoLucyonária. Podemos relacionar as ideias apresentadas com filmes como "Transcendence" e "Sem Limites". 

É possível se entreter, ainda que os clichês hollywodianos estejam presentes, como perseguições de carros em alta velocidade, e deixar o vilão zoar todo mundo até finalmente vencê-lo, mas "Lucy" deve agradar aos fãs de ficção científica e ideias malucas.

Crítica do filme O que será de nozes? | Animação sobre esquilos buscando comida

"O que será de nozes?" (No original "The Nut Job" ou "O Trabalho das Nozes", que pode ser traduzido também como "Trabalho de Maluco"), é uma animação canadense sobre esquilos e outros animais semelhantes procurando comida para o inverno. A brincadeira no título sugere muita diversão e doidera, mas não é isso que vemos.

A história é bem simples, o esquilo Max mora em uma comunidade em um parque no meio da cidade grande. Mas Max é teimoso e sempre pensa em si mesmo antes dos seus amigos. Após um acidente infeliz, Max é culpado de acabar com todos os alimentos armazenados para o inverno. Sem opções, ele é expulso do parque e precisa aprender a sobreviver na cidade grande. 

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Então ele encontra a Maury's Nut Store, uma loja repleta de nozes, castanhas, amêndoas e coisas assim. Mas sabendo que não é capaz de saquear a loja sozinho, ele conta com a ajuda de alguns de seus antigos amigos do parque. O problema é que a loja é apenas uma fachada para criminosos cavarem um túnel e assaltarem o banco que fica logo ao lado. Então vemos os planos dos esquilos em paralelo aos humanos.  

A animação é excelente, sendo o ponto alto do filme. Os animais, mesmo falando e agindo como humanos, tem uma modelagem muito fiel aos bichos de verdade, fazendo com que tudo pareça muito natural. Obviamente, cada personagem se destaca em algumas características, mas a diferença fica mais nas raças do que na personalidade em si. E alguns animais não falam! Por que alguns animais conseguem falar e agir como humanos e outros não? Será que eles são mais burros, por acaso? Gostaria de entender.

A trilha sonora não convence muito, contando com figuras como Psy e seu famoso Gangam Style, mas durante o filme as músicas não parecem encaixadas com as cenas.

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A dublagem original conta com nomes famosos como Will Arnett, Brendan Fraser e Liam Neeson, e a dublagem adaptada para o público brasileiro ficou bem decente. Até mesmo os nomes dos personagens foram modificados, mas respeitando os nomes originais. Por exemplo, o ratinho "Buddy" é chamado de "Mano", uma tradução bem aproximada da palavra em inglês. E todos os nomes são bem óbvios, como o Guaxinim que se chama Racoon (que é guaxinim em inglês). As piadas são bem forçadas e não tem muita loucura nessa animação. É possível que nem as crianças de divirtam assistindo. 

Ainda que seja uma opção pro público infantil, tem muita coisa melhor pra elas verem.

Crítica do filme Amantes Eternos | Cê tá pensando que eu sou Loki, bicho?

Tilda Swilton e Tom Hiddleston não são dois dos nomes mais conhecidos de Hollywood, mas sem dúvida alcançaram um grande destaque com diversas produções bem avaliadas pelo público ou pela crítica — ou por ambos. Ela já presenteou os fãs com belíssimas atuações em películas como “Constantine”, “Precisamos Falar Sobre Kevin” e “A Praia”; ele alcançou o estrelado encarnando o vilão-deus nórdico Loki nos filmes “Thor”, “Thor: O Mundo Sombrio” e “Os Vingadores”, mas a parceria de dois bons atores em “Amantes Eternos” não consegue salvar um filme trágico.

Histórias de vampiro nunca vão sair de moda, o que é bem positivo. Seja com tom mais sério e dramático, como em “Entrevista Com Vampiro”, seja com uma pegada mais trash e galhofa. como em “Garotos Perdidos”, ou ainda com amores adolescentes, como na Saga Crepúsculo, os bebedores de sangue são tema recorrente no mundo do cinema. Em “Amantes Eternos”, uma série de clichês sobre os filhos de Conde Drácula e a falta de um roteiro consistente elimina logo de cara a possibilidade de uma boa obra.

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Dirigido e escrito por Jim Jarmusch (Daunbailó), esta película trata da vida de vampiros eruditos no mundo contemporâneo. No caso, Adam (Hiddleston) e Eve (Swilton) são um casal apaixonado e com séculos de vida, com ambos vivendo em locais distantes do globo terrestre: ele em Detroit, Estados Unidos, ela em Tânger, Marrocos. Ele é um músico recluso e, segundo a trama, verdadeiro autor de diveros temas consagrados por compositores famosos, além de ter sido amigo de figuras como Lord Byron e Mary Shelley; ela faz sabe-se lá o que, pois isso não é tratado em nenhum momento. Durante uma visita nada agradával da irmã de Eve, Ava (Mia Wasikowska), a situação começa a desandar e tudo se encaminha para o final do filme.

Primeiro de tudo, não dá para entender qual a proposta da película de Jarmusch. Lógico que nem sempre a impossibilidade de classificar uma produção como drama, comédia ou aventura é um problema, mas, neste caso, isso prejudica até mesmo as expectativas do espectador. Quem leu a sinopse vai esperando uma espécie de romance abalado por problemas familiares, mas isso não se confirma e, de fato, nem dá conta daquilo que “Amantes Eternos” pretende contar.

Uma montagem sem sentido

O grande problema de "Amantes Eternos" é que seu roteiro mais parece uma colagem de histórias sem qualquer ápice, sem contar nada, sem levar a lugar algum. Os personagens são fracos e expostos de forma bastante superficial, sem qualquer aprofundamento maior em suas personalidades. Não há qualquer motivo para tudo que acontece ali e os demais personagens que orbitam o trio principal não passa de acessório bizarro, todos ainda mais sem personalidade e explicações.

Os clichês no roteiro também deixam a obra mais pedante e cansativa. O grande exemplo é esse lance de um vampiro ser na verdade um gênio oculto, autor de várias obras marcantes da história da humanidade e tudo mais. O “ápice” do filme, que acontece logo depois do aparecimento de Ava na tela, também soa totalmente sem sentido e nem isso consegue deixar a película mais intensa ou atraente, sendo mais um elemento que arrasta a obra por mais de duas horas.

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O personagem principal da obra é Adam — e, se você não reparou, os protagonistas se chamam Adão e Eva, uma “coincidência” que pode até sugerir algo, mas que não é trabalhada de forma nenhuma em “Amantes Eternos” —, e a ele é dedicado muito mais tempo na tela, mas mesmo suas peculiaridades se mantêm soltas dentro da obra. A única coisa que é explorada de sobra é a melancolia desse personagem e também a preguiça que ele tem da humanidade, outros detalhes que deixam o filme "bobinho", simples demais e totalmente previsível.

Enfim, “Amantes Eternos” não consegue ser um bom filme de vampiro e até mesmo desperdiça atuações talentosas. O filme tenta criar um drama, mas não consegue, força algumas piadinhas, é bastante previsível e deixa uma porção de pontas soltas, como se tivesse sido cortado para caber em um espaço de tempo menor do que aquele para o qual foi feito inicialmente. Pensando bem, se fosse maior, talvez fosse ainda difícil de assitir a ele até o final.

PS: para quem não sacou, o título desta crítica é um trocadilho emprestado de uma música do genial Arnaldo Baptista.

Crítica de The Rover - A Caçada | Road Movie Australiano bem visceral

Dez anos após um colapso econômico global, um homem (Guy Pearce) sem piedade persegue a gangue que roubou seu carro no interior da Autralia. Durante a perseguição, ele consegue capturar o irmão (Robert Pattinson) de um dos bandidos. Agora, os dois, de forma inesperada, vão se unir em uma jornada perigosa para todos. Essa é a proposta de  The Rover - A Caçada, um filme com muita poeira, sol na cara, suor e sujeira em geral. 

A história é mostrada lentamente, porém de forma bem intensa, similar ao clima do deserto. Aliás, o filme consegue transmitir exatamente a sensação de cada personagem. É possível sentir tudo que eles estão passando, o que é de certa forma agoniante.  

Pouquissímos diálogos são apresentados, sendo mais focado nas ações para desenvolver a trama. Tiros são disparados sem pensar muito, sangue e sujeira são comuns, e os protagonistas só querem seguir em frente e atingir seus objetivos, sem pensar muito em suas ações. Mas sem jamais esquecer uma morte, pois esse é o preço que se paga. The Rover não é um filme de ação desenfreada, você vai sentir cada tiro e saber exatamente onde ele acertou. E aqui não existem heróis, apenas pessoas sem esperança buscando apenas sobreviver.

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A relação entre o solitário Eric (Guy Pearce) e o estranho ingênuo Rey (Robert Pattinson) é bem intrigante. Ambos fizeram um excelente trabalho, Pearce é amargurado, grosseiro e de poucas palavras, porém determinado. E Pattinson parece um mendigo viciado em crack, se mexendo de um jeito estranho, olhando do jeito Edward Cullen, mas parecendo um ser totalmente diferente e muito inocente.

Se você desconsiderar todas as pessoas bizarras que aparecem durante o filme, vai notar que é tudo muito realista, ainda que cruel. O clima de crueldade e alienação se misturam com medo e vulnerabilidade. A civilização como conhecemos não existe mais, agora só restou a sobrevivência.  

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Todas os cenários são incrivelmente bem escolhidos, em determinados momentos contrapondo a atmosfera áspera do filme, e em outros servindo como moldura para enfatizar ainda mais o sofrimento dos personagens. E falando em ênfase, a trilha sonora é absurdamente incômoda, como uma agulha embaixo da sua unha enquanto você arranha um quadro negro. E as músicas ajudam muito a transmitir a atmosfera desejada pelo diretor David Michôd.

Após o filme acabar, você ainda terá que lidar com essa realidade dura. Várias perguntas permanecem sem respostas, como o que causou o tal colapso. The Rover não é um filme para qualquer público, mas aqueles que buscam algo pós-apocalíptico focado mais na realidade, essa é uma ótima opção.

Crítica de Não Pare na Pista | Nem magia salva a cinebiografia de Paulo Coelho

Confesso que descobri há pouco tempo que haveria uma cinebiografia sobre Paulo Coelho, o que, devido ao alto grau de controvérsia que gira em torno do escritor, compositor e mago carioca, torna a obra bastante suspeita.

Pessoalmente, não tenho nada contra Coelho, pois nunca li nenhum de seus livros e gosto muito de diversas das músicas que ele e o baiano Raul Seixas compuseram em parceria, então, ver "Não Pare na Pista" parecia uma boa pedida, mas não foi bem assim.

No geral, a obra peca pela superficialidade, pois tenta dar conta de um período de tempo muito grande da vida de Paulo Coelho  (Ravel Andrade e Júlio Andrade intepretam o escritor quando adolescente e adulto, respectivamente).

Ele vai da adolescência conturbada, passa pela adultice criativa e regada a buscas, sexo, misticismo, drogas e rock’n’roll, e, por fim, chega ao tempo presente de sucesso mundial e único autor vivo mais traduzido do que Shakespeare, mas o passo acabou sendo maior do que as pernas e a empreitada não obteve sucesso. Falar de muita coisa acaba tornando o filme arrastado demais e deixa de se aprofundar em questões que poderiam agregar mais à película.

Um ponto que poderia ter sido muito mais explorado, por exemplo, foi a relação dele com Raul Seixas. Não sei se pela grandeza da personalidade de Raul ele se tornou um mero acessório temporário por ali, mas faltou esmiuçar mais o que levou ao rompimento dos dois, algo exibido de forma totalmente banalizada na tela. Dá para dizer, porém, que a aparição do Maluco Beleza (interpretado por Lucci Ferreira) é uma das coisas que salva a obra, pois é quando a música acontece para dar uma animada no filme.

"Não Pare na Pista"

O filme se passa em três épocas diferentes: os anos 60, de Paulo Coelho adolescente, os anos 70, com ele já adulto, e ainda o ano de 2013, quando ele repete o Caminho de Santiago e já é sucesso absoluto em uma porrada de países. As partes mais recentes, quando Coelho é representado por Júlio Andrade com uma maquiagem péssima, são completamente desnecessárias e acrescentam pouco ao filme, servindo apenas para prolongar a história sem qualquer motivo. Essa adição soma diversos minutos e deixa “Não Pare na Pista” longo demais para o pouco que ele conta.

Talvez o filme tivesse saído mais competente e divertido se tivesse se focado no período que vai da adolescência de Paulo Coelho, quando ele tem uma relação pesada e cheia de atritos com o pai, é antissocial e até mesmo tenta suicídio, até a publicação de “O Alquimista”, livro que alçou o autor ao sucesso. A parte técnica do filme não decepciona, como a montagem, a cargo de Leticia Giffoni e Daniel Augusto, e a produção musical, feita pelo excelente Berna Ceppas.

Se você é fã de Paulo Coelho, talvez seja uma experiência interessante ver um pouco mais de seu ídolo ali na tela. Apesar das falhas de roteiro e até mesmo da falta de ritmo do filme, as atuações de Júlio Andrade e Ravel Andrade como o protagonista também merecem destaque e ajudam a compensar os problemas. Mas pensando a obra como um todo, falta muito para “Não Pare na Pista” ser um bom filme.