Crítica do filme O Espelho | Não acredite nos seus olhos

Eu sou fascinado por filmes de terror. É curioso como imagens em sequência e determinados sons (mesmo aqueles mais clichês) enganam nossa mente, fazendo com que muita gente fique realmente amedrontado com algo que não é real.

É justamente por isso que sempre que sai um novo filme desse tipo, eu não perco tempo e corro para os cinemas. Dessa vez, tive o prazer de conferir o longa-metragem “O Espelho”, que, no Brasil, será distribuído para as principais salas de cinema pela Play Arte.

A história aqui é sobre os irmãos Tim (Brenton Thwaites, o príncipe Phillip de “Malévola”) e Kaylie (Karen Gillan, a Nebula de “Guardiões da Galáxia”) que cresceram com traumas após presenciarem a morte de seus pais, algo que eles acreditam ter relação com um antigo espelho.

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Agora, quando adultos, os dois resolvem voltar para a casa onde tudo aconteceu e fazer um experimento com o espelho. Uma ótima ideia, não é mesmo? A ideia é de Kaylie, que resolveu colocar várias câmeras na casa para provar ao mundo que o culpado dos assassinatos é o espelho.

O roteiro se desenvolve sobre a premissa de que os dois vão conseguir registrar em vídeo toda a malandragem do espelho e provar ao mundo que este objeto é amaldiçoado. Se você não quer spoilers, já adianto aqui que o filme cumpre bem seu papel como um longa de terror e pode ser uma ótima opção para quem gosta de ficar com medo.

Uma história bem construída

Apesar de o roteiro do filme ser relativamente simples (e você ter uma boa ideia do todo antes que as imagens apareçam), a forma como ele é apresentado é algo que torna “O Espelho” diferente do habitual. Ao mesmo tempo em que vemos Tim e Kaylie fazendo as gravações do espelho, o filme intercala cenas do passado, revelando o que aconteceu com os pais dos dois.

O modo como isso é feito é algo que ajuda a deixar o espectador sempre ligado, pois, como estamos tratando do mesmo cenário, apenas os personagens que são apresentados é que mudam na telona. Em um momento, vemos os dois adultos divagando, noutro já nos deparamos com alguma memória de quando eles eram crianças e estavam vendo alguma ação maligna do tal espelho.

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Para ser sincero, a história do passado é ainda mais interessante do que a do presente, já que temos mais personagens e um contexto maior para entender o caso. O filme tem um jogo de câmeras bem legal, sendo que muitas cenas são construídas de forma contínua, evitando cortes e garantindo uma fluidez que garante que o espectador não pisque.

É no decorrer da história do passado que compreendemos o que o espelho realmente pode fazer e isso fica cada vez mais legal, já que, aos poucos, dá pra ver que o objeto misterioso não perdeu seus poderes e é ainda mais malandro no presente.

A ideia de usar aparelhos tecnológicos para driblar os truques do espelho é bem legal, pois, além de ser um diferencial, garante que o público consiga ver o que realmente está acontecendo. Isso é muito importante, visto que depois de alguns minutos de filme você já não vai saber o que é ilusão e  o que é realidade. De fato, não dá pra confiar nos seus olhos.

Poucos sustos, mas tensão constante

Como todo filme de terror, a graça da coisa está nas cenas que dão medo, algo que geralmente é construído com o uso de algumas técnicas já manjadas — como aquelas cenas em que um demônio pula na tela e o som faz a sua parte em fazer a galera pular da poltrona.

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Entretanto, para a felicidade geral da nação, “O Espelho” não fica apelando para esse tipo de recurso. O filme tem sim suas assombrações e eles vão aparecer em momentos propícios, mas são poucas as situações em que você vai realmente ficar amedrontado.

A tática usada no filme é muito mais de suspense do que de terror, o que, na verdade, é perfeito para fugir do clichê. Enquanto todo mundo espera para ter as mesmas surpresas quando a câmera dá aquela guinada, o filme surpreende ao evitar isso e manter o espectador sempre esperando pelo pior.

O clima de tensão é constante, ainda mais com as excelentes ideias na parte sonora. Há muitas cenas que não tem um único barulho de fundo, mas há momentos específicos em que recursos de áudio sinistros são utilizados para fazer você ficar de olho em toda parte da tela.

As atuações de Thwaites e Gillan cabem na medida, sendo que os dois representam bem tanto nas cenas de raciocínio quanto nos momentos de desespero. Não vamos colocar aqui em discussão a questão das personalidades, já que o uso de personagens bobinhos (que resolvem mexer com o que não devem) é algo de praxe em filmes do gênero.

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Os atores mirins (Annalise Basso e Garrett Ryan) é que surpreendem, já que lidam com situações apavorantes e conseguem demonstrar desespero. A mãe (Katee Sackhoff) e o pai (Rory Cochrane) das crianças aparecem em boa parte do filme. Cochrane não é lá um grande ator, mas Sackhoff ganha destaque por sua atuação.

Mesmo sendo uma produção de baixo orçamento, “O Espelho” se sai muito melhor do que outros filmes de terror que têm aparecido nos cinemas. Você não vai levar muitos sustos, mas também não vai ficar decepcionado, pois há sim uma grande quantidade de coisas sinistras para impressionar sua mente. Se puder, veja o filme no cinema, pois o clima de medo é ainda maior.

Crítica do filme Não Aceitamos Devoluções | Mexicano à la Adam Sandler

Nos últimos anos, o cinema mexicano tem ganhado destaque internacional especialmente por dois diretores que costumam arrebatar bons públicos, Alejandro Iñarritu (21 Gramas) e Alfonso Cuarón (Gravidade) são seus nomes, sendo este último o primeiro latino-americano a receber um Oscar.

Pelo menos no grande circuíto, outros filmes mexicanos nem sempre chegam por aqui, especialmente comédias mexicanas, como é o caso de "Não Aceitamos Devoluções", uma obra que se define como "comédia dramática". O grande nome da película é Eugênio Derbez, que, além de atuar e dirigir, também divide o roteiro com Guillermo Ríos e Leticia López Margalli.

Na tela, o espectador vê Valentin, um fanfarrão mulherengo que insiste em não "levar uma vida de adulto" e se diverte tendo inúmeros casos relâmpagos com as turistas que visitam a praia de Acapulco, México. Acontece que um desses affairs resulta em algo totalmente inesperado: um bebê. A mãe, uma estadunidense, volta ao país vizinho quase dois anos depois para deixar a pequena Maggie sob os cuidados do pai. Assustado e nada disposto a assumir a bronca, Valentin pega a estrada rumo à Los Angeles para devolver a criança para a Julie, sua mãe.

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A história começa assim e Valentin acaba nunca retornando de sua viagem aos Estados Unidos, arrumando um emprego como dublê de ação para manter sua filha. Seis anos depois, Julie retorna e quer sua rebenta de volta, o que coloca a trama nos eixos, digamos assim, fazendo jus ao nome e à sinopse da película.

Acontece que até isso acontecer, "Não Aceitamos Devoluções" arrasta o espectador por muitas outras paranças. A impressão é que o roteiro perde tempo demais com miudezas, levando o filme para quase duas horas de duração e forçando algumas piadas sem graça nesse meio tempo. O humor mais escrachado, estilo filme do Adam Sandler — ele até é citado no filme, diga-se de passagem — consegue emplacar algumas boas piadas, tanto do protagonista quanto de outros personagens que não passam de figurantes de luxo.

Na parte acertada do humor, "Não Aceitamos Devoluções" não traz apenas Acapulco como semelhança com Chaves. Intencionalmente ou não, algumas situações presenciadas por Valentin lembra bastante o programa de humor mexicano mais famoso em todo o mundo — especialmente o personagem que conversa com o protagonista em um quiosque à beira-mar no final do filme.

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A obra não é um primor, mas é descontraída, tendo como seu ponto alto a parte final, carregada de emoções e surpresas que vão deixar você pensativo. Visualmente, o destaque fica pelas animações que dão vida às histórias narradas pela pequena Maggie quando ela lê as cartas de sua mãe. Falando em termo de personagens, é recompensador ver o coração grande do protagonista, sempre disposto a perdoar e a fazer de tudo para manter sua filha perto de si, outro ponto da trama que torna a película um pouco mais agradável.

A conclusão: este é um filme água com açúcar que não fará você rolar de rir, pois força a amizade em alguns momentos, mas que pode ser capaz de arrancar algumas risadas — e quem sabe até algumas lágrimas. "Não Aceitamos Devoluções" chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3).

Crítica do filme Oldboy (2013) | Remake com o peso do original levado nas costas

A primeira adaptação de Oldboy, de 2003, foi impactante. O homônimo coreano, dirigido por Park Chan-wook e baseado no mangá japonês de mesmo nome, trouxe às telonas cenas recheadas de ultraviolência, imagens sufocantes permeadas por uma fotografia escura e cheia de contrastes, e, principalmente, um enredo sinistro que deixou todos com aquele UOW ao seu final.

Dez anos depois, Spike Lee nos presenteia com um remake hollywoodiano da obra oriental, trazendo junto com ele, todos os aspectos positivos do seu predecessor, porém, com um elemento a mais: a necessidade de se construir um remake norte-americano.

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Não há como assistir a “Oldboy – Dias de Vingança” (a versão brasileira ganhou esse subtítulo super inovador) sem olhar para seu irmão mais velho. Além de ser uma refilmagem, Spike Lee faz questão de colocar aos créditos iniciais que seu longa é baseado na versão coreana, e não diretamente no mangá escrito por Nobuaki Minegishi e Garon Tsuchiya. Isso automaticamente nos leva a comparar a todo momento os dois filmes, tanto pelas personagens, quanto pela história e as cenas icônicas.

Nesta nova versão, Josh Brolin faz o papel do sequestrado. O personagem Joe Doucett é mantido preso (desta vez por 20 anos), sem saber o porquê de seu rapto, e irá, ao longo desse tempo, fazer exercícios pra ficar bombado, escrever cartas para sua filha de apenas três anos, da qual foi separado, e, planejar subitamente sua vingança para quando sair de sua reclusão, matar todo mundo. Basicamente, a mesma treta do anterior.

Josh Brolin, foi de adolescente aventureiro em “Os Goonies” para cowboy fora-da-lei em “Onde os Fracos Não Tem Vez”, conquistando a simpatia de todos nós. Em Oldboy, cumpre seu papel. Começa com uma personalidade escrota, fica duas décadas trancado em um quarto de hotel lutando contra seus demônios interiores e vai atrás de seu destino após a “liberdade”. De alguma forma, sua própria atuação é um remake daquela de Choi Min-sik, o que acaba diminuindo a empolgação do telespectador.

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Não apenas a atuação, mas também as cenas de ação e sintonia do filme rementem à todo momento ao longa antigo. A incrível luta em plano sequência com o martelo, que neste não é totalmente em sequência, é um exemplo disso.

Outro fator que incomoda, é a pressa pela qual Dias de Vingança tem em chegar a sua conclusão. Muitos elementos novos que poderiam ser melhor aproveitados, são praticamente descartados em fator da necessidade de chegarmos ao final da película. São alguns deles: a ligação entre Joe e a sua parceira, desta vez interpretada pela linda Elizabeth Olsen, e, a treta entre ele e o gerente da prisão, feito por ninguém menos que Samuel L. Jackson (sim, ele está nesse filme também).

Jackson, por sinal, sempre agrega ao camarote filme. Mesmo não sendo o centro da encrenca, um simples motherfucker seu (sim, ele fala isso nesse filme também), traz sempre momentos de tensão. No mínimo, engraçado.

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Ao comparar os dois filmes, o de Spike Lee fica para trás. Como explicado no início, a necessidade de se fazer um remake traz toda uma responsabilidade ao longa que talvez sem o original coreano, ele se tornaria uma verdadeira obra memorável. Apesar de uma boa produção, ficamos sem aquelas cenas claustrofóbicas e final surpreendente (que por sinal, é diferente do antigo).

Infelizmente — ou felizmente, porque “Oldboy – Dias de Vingança” não é um filme ruim (afinal, estamos falando de Spike Lee) —, esse remake vai ter que andar para sempre levando o peso do original em suas costas.

Crítica do filme O Céu É de Verdade | Colocando a fé em xeque

O cristianismo já foi usado como pauta em inúmeros filmes, mas muitos roteiros apelam para personagens bíblicos ou contos clichês. “O Céu É de Verdade” aproveita o tema central ao abordar a fé de um homem, mas se diferencia por contar uma história recente e baseada em fatos.

Criado com base no livro de mesmo nome, o filme conta a história de Todd Burpo, um pai (que é o pastor de uma igreja de uma pequena cidade) que tem sua fé questionada quando seu filho, Colton Burpo, passa por uma experiência inusitada, em que ele relata ter visto o paraíso.

O garotinho conta com detalhes como foi sua jornada e revela a seu pai coisas que ele, sendo apenas uma criança inocente, não teria como saber. Essa situação improvável acaba colocando Todd e sua família em uma situação complicada, o que acaba sendo a trama principal do longa.

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Antes de entrar nos pormenores da coisa, quero adiantar que “O Céu É de Verdade” não é um filme que tenta pregar a “Palavra do Senhor”. O filme é sobre uma religião e acaba apresentando algumas ideias da doutrina em questão, mas não há uma mensagem de “conversão” ao público.

Os conflitos de um homem de fé

A história apresentada em "O Céu É de Verdade" é muito bonita e comovente. O pastor Todd Burpo (Greg Kinnear) é o tipo da pessoa esforçada que faz de tudo para fazer o bem ao próximo. Acontece que a vida (ou, já que estamos falando em fé, será que Deus teria algo a ver com isso?) é bem sacana, sendo que este homem vai passar por maus bocados.

Os problemas são inúmeros. Sejam as contas, a saúde, a paz familiar ou qualquer outro inconveniente, todo mundo passa por coisas parecidas, mas são poucos que sabem lidar com a carga emocional, ainda mais quando há questões que não têm respostas.

É numa dessas adversidades que o pastor acaba se preocupando além da conta, indagando sua fé e duvidando dos propósitos do seu criador. Como você já deve saber, o pequeno Colton (Connor Corum) passa por uma cirurgia. Durante essa operação, o menino visita o céu. Uma viagem que vai dar o que falar.

Kinnear se sai incrivelmente bem, conseguindo transparecer as preocupações com o filho e mostrar vários ângulos da angústia de um homem que tem sua fé colocada em xeque. O ator principal da película mostra sua versatilidade em uma série de momentos, algo que deixa a obra interessante. A bela Kelly Reilly (que faz a esposa Sonja Burpo) segura bem as pontas, mostrando força e emocionando o público conforme a necessidade.

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Apesar de este ser o primeiro trabalho de Connor Corum, podemos dizer que o garotinho se saiu muito bem. Ele é convincente e consegue persuadir o espectador, isso sem exagerar muito nas expressões. A mensagem é passada de forma correta e a inocência do menino é ideal para dar o tom de veracidade necessário.

A visita ao céu não é tão espetacular, porém, é de se imaginar que o que foi mostrado no filme é a visão mais próxima possível daquela que foi descrita no livro. Algo que pode incomodar um pouco são os efeitos visuais um tanto quanto simples. O paraíso aqui é um monte de luz, com um bocado de fumaça em meio a nuvens. Não é feio, mas poderia rolar mais capricho.

Batendo na mesma tecla

Bom, a história de Colton vai ganhando mais e mais detalhes, sendo que o menino relata coisas inimagináveis e, aos poucos, dá inúmeras “provas” sobre sua visita ao Paraíso. As informações sobre o Céu vêm aos poucos e há vários diálogos e outras situações intercaladas na narrativa, o que deixa a história mais leve e agradável.

É notável uma insistência em determinadas visões de Colton, o que deixa o filme um pouco cansativo. O roteiro patina sobre a mesma coisa, mostrando Todd querendo acreditar em seu filho, mas tendo uma multidão para julgar a história do garotinho.

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Essas dúvidas são cabíveis principalmente para quem compactua da mesma crença do filme. Assim como Todd, é possível que alguns cristãos se identifiquem com as mesmas dúvidas, o que leva a um debate interessante. Afinal, as pessoas não podem aceitar que um garotinho visitou o céu? A fé não serve para acreditar no impossível?

No fim, toda a experiência pela qual Colton passou e a própria conclusão do pastor Todd nos levam a lugar nenhum. Como você pode imaginar, por se tratar de um filme embasado na religião, acreditar nessa história vai depender pura e simplesmente das suas crenças.

O filme “O Céu É de Verdade” é bem feito (a fotografia é perfeita) e o final tem algo de interessante, mas não dá pra dizer que ele é imperdível. Se você se identifica com o assunto, vale o ingresso.

Crítica do filme O Homem Duplicado | Nem tudo é o que parece

Semana passada, o filme canadense/espanhol baseado no livro “O Homem Duplicado”, de José Saramago, chegou aos cinemas brasileiros. Originalmente, o longa-metragem leva o nome de “Enemy” (Inimigo), mas, por aqui, ele recebeu o mesmo nome da obra de Saramago.

Com direção de Denis Villeneuve (o mesmo de “Os Suspeitos”) e roteiro de Javier Gullón, o filme conta a história de Adam Bell (Jake Gyllenhaal), um professor de história que, ao assistir a um filme, descobre que existe um ator chamado Anthony Claire que é exatamente igual a ele.

Devido a extrema coincidência, Adam resolve ir atrás de Anthony, mas, se aproveitando da semelhança, o professor decide se passar pelo sósia e espionar a vida do ator de perto. A partir disso, as tretas começam a rolar e muitas reviravoltas garantem que o filme prenda a atenção do espectador com muito suspense.

Que história maluca

Se você já viu o trailer e leu a sinopse de “O Homem Duplicado” você tem uma boa noção do miolo da história, mas é claro que o filme não fica apenas nisso – aliás, há diversos detalhes que são adicionados e deixam o espectador bem em dúvida sobre o que está acontecendo.

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O filme começa de forma curiosa, mostrando algumas cenas bem sensuais e que parecem não ter ligação alguma com o todo. Intercalando imagens de mulheres nuas, um clube secreto, uma moça grávida e o próprio Jake Gyllenhall (nesse momento não dá pra saber qual dos personagens está sendo mostrado), o filme deixa o espectador curioso para saber o que isso tem a ver com a trama.

Após esta divagação (que depois é explicada), o foco é voltado para Adam, que tem pouca emoção em sua vida. Alternando entre sua carreira (com aulas que tratam sobre o totalitarismo, assunto abordado no roteiro) e muitas transas com sua namorada (Mélanie Laurent, que fez Shosanna em “Bastardos Inglórios”), o rapaz parece triste e insatisfeito — e não dá pra sacar o porquê, já que ele é lindão e tem uma namorada lindíssima.

Seguindo a sugestão de um colega, Adam acabou vendo um filme (algo que ele dificilmente faria, visto que não gosta de cinema) e, por um acaso do destino, havia um ator bem parecido com ele. Esta simples semelhança foi suficiente para mexer com o rapaz, já que isto não é algo comum.

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Além disso, a ideia de uma perseguição soa interessante para alguém que leva uma vida pacata. Claro, antes de procurar o ator, Adam (e o espectador também) pensa em inúmeras possibilidades, afinal, este homem pode ser um irmão gêmeo, uma confusão da mente do rapaz, uma coincidência quase impossível ou até mesmo algo que esteja relacionado a universos paralelos.

Muito suspense

Depois de entrar em contato com o ator, o professor de história acredita que a ideia não foi muito boa. Anthony, que é o ator, em um primeiro momento, fica confuso e até emputecido com toda essa história, principalmente porque isso acaba causando problemas no relacionamento com sua esposa (a formosa Sarah Gadon).

Acontece que, essa semelhança tão improvável acaba realmente mexendo com todo mundo e geral surta. Depois de muitas reviravoltas, Adam fica numa situação complicada, Anthony também e o filme fica ainda melhor do que o desenrolar da história. Toda essa angústia, ansiedade e confusão dos personagens é bem retratada com uma série de tomadas planejadas e inseridas na hora certa. Há muitos ângulos de câmeras e cenas que ajudam na construção do filme.

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Evidentemente, algo que ajuda muito é a atuação de Jake Gyllenhall. Ele manda muito bem na dualidade de personalidades, fingindo muito bem ser um homem depressivo e também fazendo o papel de ator. As mocinhas (namorada de um e eposa de outro) também atuam de forma convincente e ajudam a construir o drama da história.

Pode ser que o público acabe não sacando muita coisa no começo e que algumas coisas fiquem soltas no ar. Destoando do livro e sem dar qualquer explicação, o roteirista aposta na ideia de colocar umas aranhas no meio da película (e, se você ainda não viu o filme, dá pra perceber que a história tem algo de esquisito já ao olhar atentamente o cartaz do longa).

Há algumas teorias a respeito do porquê disso, mas, independente do motivo, dá pra dizer que elas (as aranhas) acrescentam muito ao mistério que há por trás de todo esse emaranhado de ideias. No fundo, as dúvidas vão aumentar para os personagens e para quem está assistindo. A falta de explicação pode frustrar algumas pessoas, mas eu, particularmente, gostei desse vazio, já que isso dá espaço para inúmeras interpretações.

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A tonalidade de suspense de “O Homem Duplicado” foi adequadamente pensada para funcionar com uma trilha (composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans) que deixa o público apreensivo até mesmo em momentos que nada de extraordinário acontece. A ideia é até válida, pois, se o expectador estivesse no lugar do protagonista, ele provavelmente ficaria tenso e com medo de tomar algumas decisões.

O final é realmente surpreendente (e dá até pra fazer um longo debate sobre) e me agrada muito ver que uma produção canadense/espanhola tenha ficado muito mais interessante do que o monte de “mais do mesmo” que temos visto de Hollywood. O filme é excitante, curioso e muito inteligente. Vale conferir no cinema!

Antes de acabar, quero dizer que, no Brasil, “O Homem Duplicado” poderia ter seu título fiel ao original (depois de ver, você vai entender).

Crítica do filme Jersey Boys: Em Busca da Música | Uma boa história musicada

Musical não é o meu estilo de filme favorito, pois vi poucos e gostei de um número menor ainda. “Jersey Boys: Em Busca da Música” não é um musical de fato, apesar de tratar de música, aí sim um tema sobre o qual eu me interesso bastante, e consegue dar embalo à história de uma das bandas mais famosas das décadas de 60 e 70 em todo o mundo.

Inspirado no musical da Broadway de mesmo nome, a película é dirigida e produzida por ninguém menos do que Clint Eastwood e conta a história do grupo The Four Seasons, focando especialmente em seu vocalista, Frankie Valli (John Lloyd Young). O filme começa destacando as origens de Valli e Tommy DeVito (Vincent Piazza), seu amigo e futuro parceiro de banda, em meados dos anos 1950.

DeVito é um vigarista envolvido com a máfia e praticante de inúmeros delitos, o que acaba tendo influência direta no futuro do grupo. A dupla se junta a Nick Massi (Michael Lomenda) em um trio que, diante da decadência desse formato de banda, se vê obrigada a ir atrás de um quarto membro, é quando aparece Bob Gaudio (Erich Bergen) e a sorte dos quatro rapazes de Nova Jersey começa a mudar.

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A música, obviamente, é tema constante da película, e o filme está repleto de boas apresentações, o que ajuda a dar um bom ritmo à história. O roteiro, a cargo de Marshall Brickman e Rick Elice (também autores do livro no qual o musical é baseado), falha ao tratar de forma superficial da vida particular de seus dois principais personagens (Valli e Gaudio), deixando algumas lacunas que acabam “forçando” a emoção em certos momentos — por exemplo, quando Gaudio apresenta a Valli composição de “Can’t take my eyes off you”.

As atuações são muito competentes e ver o quarteto sobre o palco ou diante das câmeras convence o espectador de que ali estão mesmo os The Four Season, especialmente pela reprodução das dancinhas típicas do grupo. Nesse ponto, destaque para a ponta de Christopher Walken em Jersey Boys, no papel do padrino mafioso Gyp DeCarlo. Suas aparições são raras, mas marcantes, dando um toque de comédia séria à produção de Eastwood.

Aliás, o trabalho de Clint Eastwood por trás das câmeras na direção é também um dos destaques do filme. Isso porque ele consegue transpor um musical sem deixá-lo cansativo, criando um filme interessante, leve e gostoso de se assistir, equilibrando bem os momentos de comédia, drama e tensão. Jersey Boys mistura bem os atos musicais, as sacadas de composição de Bob Gaudio e capta também as tensões envolvendo o dia a dia de uma banda, com problemas de ego, ganância, inveja e, é claro, a convivência de um grupo em turnê. Eis aqui o ponto alto do roteiro.

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O figurino do filme é outro destaque, especialmente porque os trajes utilizados pelo grupo  mudam bastante conforme a sua ascensão, indo do paletó e calça social típicos da máfia ítalo-americana aos blazers clássicos dos quartetos que povoaram a cena pop-rock dos anos 60 e 70. Para se ter uma ideia da variedade, John Lloyd Young teria trocado de roupa 60 vezes durante as gravações de Jersey Boys.

Enfim, uma excelente direção e boas apresentações musicais acabam compensando a pobreza de detalhes do roteiro na hora de construir uma vida no plano de fundo da banda para cada um dos personagens ali descritos. Sem dúvida, o filme é uma boa opção para aquele dia em que o ingresso do cinema está mais barato, mas nada além disso.