Crítica do filme Moonfall - Ameaça Lunar | Seria trágico se não fosse engraçado
O que os filmes Independence Day, Godzilla, 2012 e O Dia Depois de Amanhã têm em comum? Bom, fora o fato de que todos tratam de possíveis catástrofes em nível global – muitas vezes com direito a sequências de tsunamis e cenas desenfreadas de surto coletivo –, todos esses filmes foram dirigidos e idealizados por um cineasta chamado Roland Emmerich.
Emmerich é especialista nesse tipo de obra que retrata o fim do mundo, algo que se provou uma receita de sucesso, haja visto o tanto de filmes que ele co-roteirizou nas últimas décadas e a recente investida dele em um longa-metragem que parece seguir uma premissa similar, talvez não tão exagerada quanto um lagarto gigante ou quanto uma invasão de aliens, mas quem sabe muito mais viajada.
Em “Moonfall – Ameaça Lunar”, como o próprio nome do filme sugere, o planeta Terra está prestes a presenciar a “Queda da Lua” (literalmente a tradução de Moonfall). Por razões que ninguém sabe explicar exatamente, a Lua começa a desviar de sua órbita e vem em direção à Terra, o que pode resultar em uma colisão e a extinção da humanidade.
Obviamente, como todo filme de ficção desse tipo, há uma possível solução para salvar o planeta, mas a NASA talvez seja a última a acreditar nessa história, uma vez que já duvidaram anteriormente dos relatos de um astronauta (Patrick Wilson) que presenciou eventos misteriosos na Lua uma década antes dos eventos atuais.
Combinando uma overdose de teoria maluca com cenas eletrizantes de ação, que são obviamente recheadas de efeitos altamente mirabolantes, o filme “Moonfall – Ameaça Lunar” tenta fugir do óbvio, mas ele acaba tropeçando na gravidade de suas maluquices e abraçando sequências irrelevantes para uma trama de perigo tão iminente.
Trata-se de um filme que atrai pela curiosidade, mantém pelo exagero e cenas de desastres extremamente bem elaboradas, mas que pode decepcionar pelo rumo em direção ao vazio do espaço. Um bom filme para não se levar a sério, graças também ao humor fora de órbita, mas um longa-metragem muito longo para contar pouco do que realmente importa.
A vastidão do espaço desprezada pela trivialidade
Se você já viu qualquer um dos filmes de Roland Emmerich, é possível que você tenha tido a impressão de que obras sobre fins do mundo podem facilmente derivadas para sagas cinematográficas ou mesmo para séries televisivas, afinal é quase impossível retratar uma catástrofe de nível global em uma obra de duas ou três horas sem deixar pontas soltas.
No caso de “Moonfall”, o roteiro não faz questão de manter o foco em eventos importantes. Quer dizer, a história vai por um caminho dramático, que visa dar vez aos personagens, muitos dos quais sequer têm relevância para o roteiro, o que vai completamente na contramão de uma situação de eventos catastróficos que são justamente o cerne do filme.
Essa é uma decisão funcional para um título que a gente classifica como “filme pipoca”, ou seja, um longa-metragem que não faz questão de ser levado tão a sério e que prefere caprichar nas cenas com efeitos especiais, do que focar em criar arcos dramáticos que realmente façam sentido dentro do contexto.
Felizmente, o filme não se perde em meio a galhofa (mas é por pouco), que, reforçando, funciona para alívios cômicos, mas é algo que pode ser exagerado numa obra que podia ter mais ficção científica. Sim, às vezes, o problema é a expectativa do público (ou deste crítico que vos escreve), afinal o que esperar do diretor que sempre fez filmes desse tipo, né?
Outro aspecto que merece ser altamente criticado são as propagandas, sim, eu estou falando de propagandas no meio do filme, encaixadas de certa forma no contexto. Há cenas em que fica claro que o filme dá voltas simplesmente para mostrar algum produto que não teria qualquer relevância no andamento da história.
É o caso de uma perseguição com um Lexus — que pode ser um carro bonito e moderno, mas que não tem qualquer serventia para evitar que a Lua caia sobre o planeta Terra! Isto é tema para um longo debate, porém vale o adendo, porque o filme se alonga pelo simples fato de perder tempo com besteira. Ótimo para o anunciante, péssimo para o espectador pagante.
Uma verdadeira viagem (na maionese)
Apesar de ficar claro que “Moonfall” não é um filme para ser levado tão a sério, a plateia está ali para entender o que está acontecendo e argumentos para causas minimamente factíveis são esperados. É claro que num mundo onde achamos perfeitamente normal um lagarto gigante sair do oceano e atacar as cidades ou que aceitamos os alienígenas sempre invadindo Nova York, quase toda história pode ser contada sem que a gente possa reclamar muito.
De certo modo, Emmerich consegue trazer algum ineditismo para a telona e, ainda que as decisões de roteiro sejam muito questionáveis, esta é a parte sólida do filme, que realmente vale a pena e conecta toda a trama. Se a explicação não convencer muito, ao menos ela serve para introduzir cenas que fazem a gente ficar no mundo da Lua.
No fim das contas, “Moonfall – Ameaça Lunar” é um misto de sensações: cômico em várias ocasiões, tosco em algumas decisões, surpreendente pela ousadia da ideia central do filme, porém ele não consegue se decidir em que pretende focar. Os atores até bem gabaritados tentam dar seu melhor e ficam perdidos nesse amontado de ideias.
Portanto, se você vai ver o filme no cinema, esteja ciente que este é um filme pipoca, não dá para levar a sério e pode divertir se você não for pensar muito nas teorias. Contudo, se você é do tipo que ama obras como “Interestelar” e ficções de renome similares, então “Moonfall” não é para você – fora que é um filme bem longo.