Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa | Brota no telão pro desespero do seu ex!

Depois de um começo infeliz, com a trindade da imbecilidade — Batman Vs SupermanEsquadrão Suicida e Liga da Justiça — a Warner parece ter encontrado a maneira adequada para trazer os heróis da DC para o cinema. Mesmo que ainda não esteja claro qual será o futuro do DCEU, o sucesso de Mulher Maravilha, Aquaman e Shazam! recuperaram a fé dos fãs, que encontraram em Aves de Rapina algo mais equilibrado e coerente, muito maior do que o "filme da muié do Coringa”.

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, também conhecido como “Arlequina em Aves de Rapina” ou ainda pelo título não oficial, “como podemos colocar a única coisa realmente boa de Esquadrão Suicida em mais filmes para alavancar as bilheterias”, consegue equilibrar o tom, mesmo carregando o fardo de adaptar uma personagem incrivelmente complexa. Christina Hodson e Cathy Yan, que assinam o roteiro e a direção, respectivamente, criam um filme ágil e divertido que não compromete a visão dos fãs de quadrinho, ao mesmo tempo em que se mostra acessível para novatos da franquia.

A história simples, mas eficiente, dá espaço suficiente para o elenco brincar com seus personagens, mesmo que todos deem um passo para trás na presença marcante de Margot Robbie. Aves de Rapina pode parecer como um grande palanque para a Warner exibir a personagem título, mas não é só isso. Divertido e consistente, a produção entrega o que promete, muita ação e humor, com um temperinho de empoderamento.

É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez

Sem entrar em detalhes cronológicos, mas evidentemente após os eventos de Esquadrão Suicida, o relacionamento tóxico do Coringa com Arlequina finalmente chega ao fim. Sozinha e disposta a provar sua independência, financeira e sentimental, a vilã muda o visual, adota uma mascote — uma carinhosa hiena (batizada de Bruce Wayne) — entra para um time de roller derby e manda um grande recado para o seu ex explodindo a "Ace Chemicals", o lugar onde o relacionamento dos dois começou.

Causando pela cidade, a Arlequina conquista uma série de desafetos que, por medo de uma retaliação de seu, até então consorte, nunca levantaram um dedo contra a moça. Mas agora, com o anúncio catártico do término com o Sr. C, Harleen Quinzel coloca um grande alvo em suas costas e agora todo mundo está atrás dela, e é aqui que as coisas começam a ficar interessantes.

Quando a história parece pronta para se prender totalmente na jornada de auto-descoberta de Arlequina, o filme abre espaço para as outras estrelas da produção, as verdadeiras Aves de Rapina. Com a ajuda da própria Harleen Quinzel que conta a história de diferentes ângulos, somos apresentados a Caçadora, a Canário Negro, a Detetive Montoya e Cassandra Cain (que nos quadrinhos já assumiu o manto da Batgirl) e descobrimos como cada uma também busca o seu espaço.

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Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok...

Margot Robbie segue brilhante como a Arlequina. Se destacando como único ponto redentor do pífio Esquadrão Suicida, a atriz conseguiu transformar a vilã ensandecida em uma anti-heroína carismática e empoderada. Ao lado de um elenco igualmente impactante, a história reforça a luta das mulheres para marcar seu território em um mundo real ou fictício controlado por homens (heróis ou vilões).

Mary Elizabeth Winsted insere a dose certa de humor na perturbada Caçadora, enquanto Rosie Perez, na pele da frustrada Det. Renee Montoya, representa uma ancora de realismo dentro do universo fantástico de vingadoras mascaradas e superseres. Ella Jay Basco traz uma boa diversidade ao elenco como a pequena Cassandra Cain, que inadvertidamente se torna o MacGuffin da trama, que também conta com Ewan MacGregor em excelente forma na pele do deliciosamente odioso Máscara Negra.

Vale também um destaque muito especial para Jurnee Smollett-Bell que completa a equipe das Aves de Rapina como a heroína Canário Negro (famosa por seus poderes advindos da sua voz). A atriz canta (de verdade) e encanta com uma versão suave do clássico de James Brown, "It's a Man's Man's Man's World”, além de dar chutes bem altos.

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Tudo Ok

Sem sombra de dúvida, o grande feito de Aves de Rapina é o de dar espaço suficiente para todas as personagens. Mesmo que Arlequina seja a protagonista e narradora, o filme sabe que a luta não é só dela. Mesmo com as liberdades poéticas da anti-heroina ensandecida, a história de cada uma dessas mulheres tem seu espaço na tela, conferindo muito dinamismo ao roteiro que, apesar de simplório, é muito eficiente.

Cathy Yan não perde o foco, mesmo tendo que acompanhar várias histórias ao mesmo tempo, e ainda entrega cenas de ação de alta qualidade. Com ótimas coreografias, que remetem diretamente ao excelente John Wick: De Volta ao Jogo — muito por conta da participação do próprio Chad Stahelski e sua companhia de dublês 87eleven —, a diretora equilibra bem a violência variando o estilo entre o puro exagero, a comicidade e momentos de alta tensão.

Os aspectos técnicos de Aves de Rapina são bem executados. A fotografia é suficientemente criativa para misturar o já característico clima sombrio metropolitano de Gothan City com uma explosão de cores, confete e purpurina próprios da cabeça da Arlequina. A extravagância visual da personagem se contrapõe aos cenários lúgubres, desfilando com figurinos exagerados e disparando tiros de confete, a Arlequina define seu lugar em um mundo normativo que tanto tenta enquadrá-la.

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Se ele te trombar vai se arrepender

Apesar da ótima ideia de mostrar heroínas empoderadas, fica evidente que tudo começou como plataforma para a excepcional Arlequina de Margot Robbie. O acerto vem na construção do filme que, graças aos esforços de Christina Hodson e Cathy Yan, fortalecem o elenco como um todo e não se prendem somente a personagem titulo.

Diferentemente do que alguns podem pensar, não se trata do filme da “muié do Coringa”. As Aves de rapina se sustentam por si só, não dependem de ninguém, mas reconhecem a força na sororidade da equipe, e essa é toda a premissa do filme,  mesmo que o conceito de mulheres fortes e independentes ainda pareça como pura fantasia para alguns.

Aves de Rapina não é o "filme da muié do Coringa", é filme de todas mulheres que tem que lutar pelo seu lugar no mundo

Sem cair em um grande rompante feminista, o filme entrega uma mensagem e de quebra um bom filme de ação. Mesmo com o futuro incerto do universo cinematográfico da DC, Aves de Rapina consegue se posicionar dentro da franquia e mostra algumas possibilidades do que está por vir, especialmente porque Christina Hodson, roteirista do filme também está atrelada ao filme do Flash, previsto para 2022, lembrando ainda que em 2020 já temos confirmados os lançamentos de Mulher-Maravilha 1984 e para o ano que vem estão engatilhados a nova iteração do Batman, do Esquadrão Suicida e o derivado de Shazam!, Adão Negro (focado no tradicional vilão do herói mágico).

Crítica do filme O Grito | Os fantasmas se divertem, a plateia não!

Há quase duas décadas, o cinema japonês ganhou projeção mundial com alguns títulos de terror que traziam inovação em um cenário que até então era dominado pelos clichês americanos. Nomes como “O Chamado”, “O Grito” e “Água Negra” marcaram época e se destacaram ao apresentar uma série de maldições bizarras, mas também muito assustadoras — algo impulsionado pelo próprio estilo japonês de trabalhar com o medo.

As versões originais desses filmes, no entanto, ficaram restritas aos canais de TV por assinatura (lembro de ter assistido todas essas pérolas no Cinemax) e a poucas cópias em locadoras selecionadas. Assim, as produtoras e distribuidoras americanas tiveram a brilhante ideia de fazer versões inspiradas nas originais, mas com elenco, efeitos e o estilo americanos, ou seja, pegando uma história e adaptando ela para caber nos moldes de Hollywood.

De lá para cá, a gente já teve ao menos uma versão de cada um desses filmes, mas os caras não cansam de ganhar dinheiro e resolveram refazer “O Grito” mais uma vez. E você poderia se perguntar: mas por que mais um remake? E a Sony certamente responderia: e por que não? Pois é, aparentemente, qualquer projeto que apareça de bandeja, os produtores estão aceitando, então o negócio é aceitar que algumas companhias já não tem mais fitros.

Bom, dito isso, a dúvida que fica é: o que a nova versão de “O Grito” tem para contar? Em teoria, nada de novo, mas a história mais recente tem alguns personagens diferentes e também uma nova condução da maldição, mas isso não significa que ela consegue fugir do básico: uma casa assombrada por um espírito vingativo que condena todos que ali entrarem com uma morte violenta. E isso é uma coisa boa, afinal um remake não pode desvirtuar completamente.

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Todavia, o que torna esta nova pegada de “O Grito” muito ruim é o roteiro mal pensado, a execução simplista e a péssima construção dos momentos de tensão. Contado de forma não linear, o filme vira uma verdadeira bagunça após alguns poucos minutos de projeção e tudo só tende a ir por água baixo com personagens rasos que nem mesmo um elenco capacitado (que está presente aqui) consegue salvar. Vamos falar mais do filme, mas já fica o alerta: poupe sem tempo e dinheiro.

De boas intenções o inferno está cheio!

Antes de continuar falando sobre os defeitos do filme, eu acho válido apontar que “O Grito” não é uma sucessão de erros, mas apenas um projeto montado de forma errada e com uma trama que não consegue impressionar a audiência. Há que se apontar as qualidades do filme, que são notáveis na questão da fotografia, do design de produção e também da trilha sonora.

Sim, a equipe de arte do filme acertou bem nesses detalhes, sendo que o longa consegue ser bastante persuasivo em seu tom sombrio. Até mesmo nos momentos diurnos durante a história, é possível perceber o clima amaldiçoado do filme. Com uma boa ajuda de edição pra remover a saturação e uma montagem adequada de cenários mais antigos, o resultado é coerente para um script de terror.

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Importante pontuar que, particularmente, eu sempre fico me perguntando o motivo pelo qual os americanos gostam tanto de locais mal iluminados, ambientes tão escuros e situações tão desconfortáveis. Sim, é óbvio que isso é proposital num filme de terror, mas a má vontade de tentar criar um clima de suspense e tensão em outras condições é uma regra em títulos do gênero.

Da mesma forma, toda a parte sonora do filme foi muito bem pensada, sendo que todos os pontos favorecem as cenas mais assustadoras do longa-metragem — que são poucas, previsíveis e quase inofensivas, mas elas existem. Assim, certamente “O Grito” não é uma falha na parte de desenho do projeto, mas da execução mesmo.

Queimando uma franquia de terror sem dó!

O problema principal para “O Grito” ser considerado uma falha é que ele não é um filme isolado. Não se trata de um projeto qualquer, mas de uma nova abordagem de uma história já conhecida. Assim, é perfeitamente natural que os fãs de terror irão ao cinema já com uma certa expectativa — e até com uma base de comparação, que pode não ser de um patamar muito elevado, mas os filmes antigos (principalmente o japonês) são satisfatórios em suas propostas.

Assim, temos uma série de erros de Nicolas Pesce, diretor e roteirista do filme, que até faz um trabalho competente como cineasta, mas que peca terrivelmente como escritor. O idealizador da película consegue criar situações bem interessantes para os momentos mais tensos do filme, o jogo de câmeras, os ângulos apertados dentro da casa e as cenas com close são adequadas para um terror.

Todavia, de nada adianta saber controlar a câmera, quando temos uma trama confusa, totalmente desordenada e até anticlímax. Com diálogos rasos, personagens totalmente irrelevantes e situações previsíveis desde o momento zero, o filme não apresenta surpresas e fica cansativo com apenas trinta minutos de projeção. O clichê aqui é o ingrediente principal!

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Eu tenho dó do elenco, que inclui nomes relevantes como Lin Shaye (que não parece ter aprendido nada em “Sobrenatural”), John Cho (que certamente estava no filme errado), Andrea Riseborough (que fica igual uma barata tonta tentando conectar os pontos de uma história sem propósito) e Demián Bichir, o qual não agrega em nada à trama. Poderíamos trocar todos eles por vários desconhecidos, que não mudaria em nada o resultado do produto, pois eles são mal aproveitados.

Ao menos, Pesce teve a dignidade de fechar todas as pontas, mas ele provavelmente não será chamado para mais filmes de terror. Sem tentar dar explicações ou apresentar novidades na forma de criar terror, o novo “O Grito” é um desperdício de tempo e certamente foi um bom exemplo de como não recomeçar uma franquia. Se a ideia era pensar em uma possível sequência, a produtora vai desistir rapidinho.

Crítica do filme A Possessão de Mary | Bons marujos afogados num mar de clichês

Às vezes, eu fico me perguntando como alguns produtores, diretores e roteiristas têm emprego, porque é simplesmente incompreensível ver certos projetos chegando aos cinemas. Todavia, o mais difícil de compreender é como atores gabaritados que até já ganharam o Oscar (como é o caso de Gary Oldman) topam embarcar em ideias furadas como as que temos no filme “A Possessão de Mary”.

E sim, eu já prefiro começar esse texto expondo os furos no bote, porque é complicado a gente ir ao cinema pensando que vai velejar rumo ao medo (até porque, como sempre, o trailer é enganoso) e ao sair da sala ter a impressão de ter sido engolido por um tsunami de cenas aleatórias e ondas de clichês – isso sem falar no tempo e dinheiro que perdemos nessas aventuras.

O ponto é que, conforme já comentei em tantas outras críticas do gênero, as mentes por trás dos projetos de horror e suspense parecem estar cada vez mais presas aos óbvio, o que resulta em roteiros rasos e cenas de terror que já não conseguem mais nos impressionar. Eu até achei a temática de “A Possessão de Mary” poderia ter algumas novidades nas amplas águas do gênero, mas tudo não passou de uma cilada.

O filme nos conta a história de David (Gary Oldman), um pescador já cansado de sua rotina que vê na compra de um barco uma oportunidade para virar capitão – dos sete mares e também de sua própria vida. Após a aquisição da embarcação, ele e família decidem fazer uma viagem de inauguração, mas parece que o navio guarda segredos tenebrosos, que serão revelados em alto mar.

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Nada mal, né? Se tem filmes de carro assassino, pneu demoníaco, geladeira possuída e outros objetos inanimados que são dominados pelo capeta, a história de um navio sinistro não é ruim. Só que muitas vezes não adianta ter uma ideia boa e não saber dar continuidade, daí o fracasso profundo de “A Possessão de Mary”. Se você não quer ir adiante, a dica é: poupe seu tempo, pois este filme não vale o ingresso.

Tsunami de clichês

O interessante é que você não precisa mais do que o resumo acima para entender o rumo da história, pois o roteiro não tem nada de ousado. Basicamente, o roteiro de Anthony Jaswinski (que você talvez conheça de “Águas Rasas” – que ironia esse título citado aqui) tem apenas dois elementos: o ponto de partida (a sinopse) e um monte de cenas aleatórias de susto pra mostrar os segredos tenebrosos da embarcação.

Para ser justo, o roteirista até tenta uma abordagem diferente na hora de montar a trama, mas é tudo feito tão sem qualquer vontade que não conseguimos engajar com a protagonista da história. O resultado é que temos uma história já óbvia contada nos primeiros minutos de filme (sério, os personagens já ditam tudo que vai acontecer) e aí só temos que aguardar pacientemente para ver a desgraça acontecer.

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O mais bizarro é ver que ao tentar se esforçar para criar uma conexão histórica para a embarcação, o roteiro só se complica por não conseguir levar a gente ao passado e por se atolar num loop de falas repetidas. O mais engraçado são as conexões forçadas que são feitas fora de tempo, de modo que vemos claramente que o filme não tenta sequer convencer o público de que esta poderia ser uma história real.

Por fim e o pior de tudo: as cenas de terror. Sem saber se o mal está na embarcação ou nas pessoas, o filme brinca com ondas de susto de todos os tipos e intercala as famosas cenas de jump scare em momentos inoportunos, o que só cria barulhos e takes que não se conectam ao roteiro. Dá até a impressão de que alguns desses truques foram adicionados posteriormente.

Marinheiros de talento

E como eu disse no começo do texto, é muito mais difícil de conseguir compreender como Gary Oldman, Emily Mortimer e Owen Teague toparam participar dessa aventura marítima. Os atores são muito esforçados, mas os diálogos são tão secos e as situações já estão tão submersas nas ondas de clichês que não há qualquer chance de eles conseguirem prender a atenção dos espectadores.

O ponto alto são as raras cenas em que alguns personagens são possuídos, mas até mesmo atores menos gabaritados poderiam dar conta desse tipo de ocasião. O resultado é que todo o elenco só conseguiu se afogar junto com o filme, porque eles não conseguem sair desse atoleiro.

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E para ser justo, acho válido comentar que a direção do filme não é ruim. Muito pelo contrário, temos aqui uma boa execução das cenas em alto mar, ainda mais considerando o espaço limitado da embarcação e algumas situações que esbanjam água – e que são bem complicadas de capturar.

Todavia, não importa o quanto o diretor faça um bom trabalho e o elenco esteja pronto, pois com um roteiro à deriva, o público só acaba presenciando um grande naufrágio de um filme de terror. Eu acho que ele só não perde mesmo para os filmes russos de terror. É uma pena que a barca tenha seguido nessa rota, mas sem querer ser maldoso, mas verdade seja dita: pra ficar ruim, “A Possessão de Mary” ainda tem que melhorar.

Crítica do filme Star Wars - A Ascenção Skywalker | A derradeira conclusão da saga épica!

É difícil analisar qualquer filme Star Wars sem considerar todo o universo expandido, isso sem falar das inúmeras obras transmídia como quadrinhos, livros e jogos. A franquia tornou-se tão grandiosa que dificilmente você vai encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar sobre a Força.

Acredito que esse seja o fator principal de tanta controvérsia a respeito de cada episódio novo. É impossível agradar todo mundo, e considerando que grande parte do planeta vai assistir esperando ter suas expectativas satisfeitas, pelo menos metade vai detestar.

É claro que “Só um Sith lida em absolutos”, mas tentando agradar a todos, o diretor J.J Abrams desagradou muita gente. Já deixo claro que eu não fui uma delas, saí extasiado do cinema e por mais que concorde que muitas escolhas não foram acertadas, a conclusão da saga de nove filmes episódicos foi bastante satisfatória.

Desde George Lucas, os temas abordados são descomplicados para criar um laço emocional direto com o público. O Bem contra o Mal, amor, redenção, amizade, esperança. Muitos podem considerar os filmes uma novela espacial e é disso que se trata mesmo.

Enfrentar o medo é o destino do Jedi

Contextualizações a parte, esse texto terá spoilers e por isso é recomendado assistir o filme antes de ler. “A Ascensão Skywalker” é o nono filme de uma saga de 40 anos e os Skywalkers são o elo condutor de toda essa bagunça cósmica, e carregar o fardo de concluir essa longa jornada estelar não é uma tarefa simples. 

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Pautada fortemente na nostalgia, o roteiro de Chris Terrio e J.J Abrams escolhe se opor a nova visão proposta por Rian Johnson em “Os Últimos Jedi” e continuar o que foi iniciado em “O Despertar da Força”. Esses dois filmes são os melhores exemplos sobre as expectativas e a base de fãs. “Os Últimos Jedi” quebra totalmente as expectativas e ousa abandonar muitas ideias antigas para focar numa base de fãs nova, mas em uma franquia com fãs tão chatos quanto exigentes, as expectativas precisam ser satisfeitas ou eles vão xingar muito na internet.

É para esse público que “Ascensão Skywalker” foi feito, surpreendendo em nada, entregando exatamente o que todo mundo já esperava e mesmo assim desagradando muitos. Particularmente eu gosto das duas visões, ainda que prefira coisas novas e não recicladas, se eu sou fã eu quero serviço.

Abrams renega quase que totalmente as escolhas de Johnson, mantendo apenas alguns elementos, como a conexão entre Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver), ampliando e muito seus poderes e os possíveis usos da Força. Essa necessidade de “corrigir” seu antecessor faz com que o filme seja insuficiente para o curto período de 2 horas e 20 minutos com explicações apressadas e soluções simplistas como “A Força nos uniu”, com muitos personagens e cenas apressados.

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Vale destacar a lamentável subutilização de Rose Tico (Kelly Marie Tran) que aparece por pouco mais de um minuto. A justificativa de que ela originalmente deveria interagir com a General Leia (Carrie Fisher) e isso demandaria cenas complexas em computação gráfica é totalmente insatisfatória, já que todas as cenas foram pensadas a partir de filmagens não utilizadas e complementadas com computação gráfica. Apesar de tudo, a morte da atriz foi contornada com muita sensibilidade, com cenas tristes mas respeitosas.

Por outro lado, adicionar duas atrizes para “complementar” Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac) e resumir suas histórias em “um passado distante algo aconteceu” é bastante simplista e sem graça. Jannah (Naomi Ackie) aparece apenas como uma manobra de combate boba e como easter egg de ser a filha de Lando Calrissian (Billy Dee Williams).

Já Zorii Bliss (Keri Russell) é apenas uma personagem com um design interessante e sem muita participação efetiva, muito semelhante ao “lendário” Boba Fett, mas ainda menos expressiva. Tudo isso é fácil de relevar, já que o foco da trama são os protagonistas Jedi/Sith e o equilíbrio entre o lado da luz e o sombrio.

Aliás, o grande desafio da nova trilogia foi criar novos personagens tão bons quanto os antigos e gerar a conexão emocional que os originais carregam. Em “A Ascensão Skywalker” esse objetivo se concretiza em parte, não por serem personagens icônicos mas por terem espaço em cena para finalmente demonstrar suas próprias características, intercalando os personagens da antiga e nova geração e dando o tom de aventura tão próprio de Star Wars. 

Eu tenho um mau pressentimento sobre isso

O retorno do Imperador Palpatine é bastante forçado e possivelmente a única escolha sem sentido, além da sua nunca antes mencionada família. Toda a aura de mistério em torno da origem de Rey foi fracamente construída e a conclusão foi ainda menos aceitável. Pessoalmente eu preferia a ideia de que ela não era filha de ninguém importante, apenas alguém que tem uma conexão com a Força, potencialmente qualquer ser do universo podendo ser um grande Jedi.

Mas sabemos que Star Wars é sempre sobre os Skywalker e isso não poderia ser deixado de lado no último filme. Essa tentativa de amarrar todas as pontas é o que desagradou muitos fãs. Apesar de tudo, nenhuma dessas escolhas controvérsias diminuam o entretenimento.

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O desfecho é deduzível, o que não significa que seja insatisfatório. São cenas monumentais e emocionantes carregadas de intensidade com Daisy Ridley e Adam Driver entregando tudo que poderia ser extraído dos papéis maniqueístas impostos a eles. Eu amo muito a Rey e vou protegê-la até o final, além de que o boneco Babu Frik é pura diversão e o desafio é não rir com essa criatura!

Muitas lacunas são preenchidas pela inigualável trilha do genial John Williams e qualquer coisa que eu tente usar para descrever não será o suficiente, então ouça aqui.

Considerando a jornada de anos de formação de um imaginário compartilhado sobre o símbolo Star Wars, a necessidade de concluir uma saga de anos conciliando tudo para agradar a maioria sem fechar as possibilidades para o futuro, foi difícil para “A Ascensão Skywalker” inovar e ser uma obra fechada em si mesma.

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Desde sempre as mesmas falhas podem ser apontadas para qualquer filme da saga. Roteiro esburacado, coincidências FORÇAdas, momentos bregas e fanservice até dizer chega, exatamente tudo que Star Wars é e sempre foi. E nada disso torna a experiência menos grandiosa, ao contrário, continua a despertar grandes emoções em todos os fãs. É o fim de uma era e não da franquia, espero que o futuro traga novas e diferentes aventuras para que Star Wars seja tão plural que não precise de apenas um filme para satisfazer a todos.

Crítica do filme Frozen 2 | Mais beleza, complexidade e amadurecimento

Difícil encontrar uma criança que não conheça “Frozen”. O sucesso, e pesadelo dos pais, de Let it Go/Livre Estou ainda é lembrado depois de anos. Ao reimaginar o conto de fadas de Hans Christian Andersen “A Rainha da Neve”, a Disney conseguiu resgatar o encanto de suas princesas atualizadas para os dias atuais, algo que vem sendo trabalhado aos poucos a cada filme.

Por mais que a história pudesse se encerrar com o primeiro filme, os números da bilheteria demandaram uma sequência e felizmente a oportunidade de amadurecer e tornar a história mais complexa não foi desperdiçada.

Sem perder a magia e tentando agradar tanto as crianças que viveram o primeiro lerigo quanto as que vão conhecer e cantar repetidamente a música “Minha Intuição”, “Frozen 2” deve agradar com facilidade até quem tem preconceito com quem gosta de brincar na neve.

O gelo que não derrete

Após os eventos de “Frozen”, Anna (Erika Menezes/Kristen Bell) e Elsa (Taryn Szpilman/Idina Menzel) estão vivendo felizes em Arendelle, com brincadeiras e jogos em família junto com o namorado de Anna, Kristoff (Raphael Rossatto/Jonathan Groff) e sua fiel rena Sven, assim como o boneco de neves que adora abraços quentinhos Olaf (Fábio Porchat/Josh Gad).

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Porém, Elsa começa a ouvir uma voz vinda do norte, chamando por ela e quando espíritos mágicos arrancam os moradores de Arendelle de suas casas, Anna, Elsa e seus amigos decidem partir em direção a voz para resolver o mistério, chegando até uma floresta encantada cercada por uma névoa mística impenetrável.

Para salvar Arendelle e seu povo, as irmãs terão que reaprender a confiar uma na outra e em si mesmas para entender a verdade a respeito dos poderes de Elsa e a história sombria de Arendelle.

Você ainda quer brincar na neve?

A direção fica por conta de Chris Buck e Jennifer Lee mas o sucesso se deve ao roteiro de Jennifer e Allison Schroeder. “Frozen 2” encontra uma forma equilibrada de continuar a história das irmãs, com Anna focada em proteger Elsa, enquanto ela continua procurando seu lugar no mundo.

Há um esforço em dar a cada um dos personagens um arco de história paralelas que convergem na história geral. É surpreendente que um filme infantil de tanto destaque como “Frozen 2” abordo temas tão complexos e até “sombrios”, algo que é muito bem vindo e que espero que se torne cada vez mais recorrente, pois sabemos que filmes infantis não precisam (e nem devem) ser bobos e rasos e filmes que abordam temas complexos podem servir como um mapa para as crianças aprenderem a lidar com suas emoções e pensamentos.

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É interessante notar que a estrutura tradicional não é seguida, sem nem ao menos haver um vilão na história. Ao invés disso, “Frozen 2” arrisca e busca uma forma mais madura de abordar o enredo, algo que pode incomodar a princípio, mas que encontra maneiras interessantes de manter o público atento.

Tem cantoria?

Quebrar a estrutura tudo bem, mas as músicas não podem ficar de fora, certo? Não há nenhum momento tão catártico quanto “Let it Go”, mas no geral as músicas estão encaixadas na trama para apresentar o sentimento de cada personagem em seu respectivo arco.

Elsa canta “Minha Intuição/ Into the Unknown“ antes do chamado para a aventura de descobrimento e Anna tenta entender qual sua próxima ação em um momento chave com a música  “Fazer O Que É Melhor / The Next Right Thing”. Difícil esquecer o curioso e divertido momento “clipe dos anos 90” de Kristoff e as renas, com “Não Sei Onde Estou/ Lost in the Woods” ao questionar sua importância na relação com Anna.

Desnecessário dizer que a animação está no seu auge, e mesmo as escolhas de estilização dos personagens dão um ar incrivelmente realista em algumas sequências. O nível de detalhes adicionados aos visuais complementam os temas abordados no filme de forma muito sofisticada.

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Apesar de todos os elogios merecidos, a sensação é de que a trama poderia ter sido ainda mais ampliada e que algumas escolhas narrativas poderiam ter sido melhor abordadas, como a origem dos poderes da Elsa. Provavelmente esse sentimento é proposital, deixando aquela vontade de ver mais para que novas sequências aconteçam.

Enfim, “Frozen 2” é um retorno mágico ao mundo de Anna e Elsa, visualmente e sonoramente mais complexos para agradar aos fãs originais. É deslumbrante e divertido para toda a família, embora talvez seja “sombrio” demais para as crianças menores entenderem, mas que pode servir bem para que elas entendam mais sobre elas mesmas. Todos que gostaram de “Frozen” vão achar algo a mais para se encantar nesse filme.

Crítica do filme Playmobil - O Filme | Uma brincadeira sem graça

Se já existem tantos filmes sobre Lego, por que não um de Playmobil? Talvez seja uma animação decepcionante para quem busca a mesma energia que agrada tanto adultos quanto crianças que vemos nos filmes Lego. De qualquer maneira, o público alvo são os pequenos, e ser um filme bem infantil tem seus méritos.

Infelizmente, é difícil não comparar com Lego. Talvez faça parte da própria estrutura dos brinquedos: enquanto Lego não limita a criatividade com as peças e bonecos, Playmobil é mais rígido em suas próprias criações. Essa comparação também serve para as animações.

O longa é dirigido por Lino DiSalvo, que já trabalhou em animações de sucesso como “Frozen” e “Enrolados”, mas “Playmobil - O Filme” é sua estreia como diretor. O desafio é conseguir entreter o público durante uma hora e meia sem que pareça apenas um comercial sem fim, mas será que o desafio cumprido?

Comprem meus produtos

Seguindo a fórmula de sucesso de filmes de animação, o longa aposta de cara em uma sequência cheia de cantoria e danças. Marla (Anya Taylor-Joy) acabou de terminar o colegial e está pronta para viajar pelo mundo antes de entrar na vida adulta, com faculdade, trabalho e responsabilidades. Ela vive com seus pais e seu amado irmão Charlie (Gabriel Bateman) e aparenta ter uma vida perfeita nos subúrbios de Nova York.

Após um trágico evento, Marla e Charlie acabam tornando-se ainda mais próximos do que gostariam ou esperavam. Alguns anos no futuro, Charlie foge de casa para se encontrar com um amigo em uma convenção fictícia de brinquedos em Manhattan, Marla se preocupa e vai atrás dele.

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Toda essa introdução é com os atores de fato e só após algum evento cósmico os irmãos são transportados para o universo de Playmobil e a aventura começa. Indo na contramão da maioria das animações, os personagens não tem nada a ver com suas contrapartes humanas.

A seguir, vemos uma sequência frenética de diversos “temas” do universo de Playmobil. Em um segundo os personagens se encontram no Velho Oeste, em seguida estão em uma rodovia cheia de carros que contorna um mundo jurássico com dinossauros e vulcões. A completa falta de coerência dos cenários não é um problema, já que se assemelha a uma criança mostrando todos os brinquedos que possui, mas depois de um tempo essa dinâmica fica cansativa.

Essa forma de apresentar a trama parece acertada, pois sempre alguma coisa diferente está acontecendo na tela, o que pode manter a atenção das crianças, mas acaba parecendo só uma distração até a brincadeira chegar ao ápice e os brinquedos voltarem para a caixa. Não há nenhuma consequência ou senso de urgência, o que torna o filme bem leve para todos os públicos.

Tão aleatório quanto uma caixa de brinquedos

Enquanto Marla é apenas uma personagem genérica no mundo de Playmobil, Charlie se torna um forte guerreiro viking, aclamado como herói. Porém, ele é raptado pelo maníaco imperador romano Maximus (Adam Lambert), que está reunindo os maiores heróis de cada “tema” para lutarem em sua arena.

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Piratas, amazonas, caçadores de recompensa futuristas, homens-das-cavernas e até um agente estilo 007 chamado Rex Dasher (Daniel Radcliffe) fazem parte da aventura e podem demonstrar suas particularidades em breves momentos. Marla precisa encontrar seu irmão e salvar todos, contando apenas com a ajuda de um malandro food-trucker chamado Del (Jim Gaffigan), tudo isso regado a canções não muito melódicas.

Enfim, há apenas uma breve piada sobre a estranheza do formato dos corpos dos Playmobil, para em seguida ser esquecida e o filme se tornar apenas mais uma animação qualquer. É preciso reconhecer toda o esforço de DiSalvo para tornar a animação fluída, mas talvez uma pequena amostra de stopmotion com os brinquedos tornaria tudo mais agradável.

Provavelmente “Playmobil: O Filme” não se destaque dentro do gênero, servindo apenas como uma opção fraca para as crianças que só querem dar umas risadas e se encantar com um mundo mágico colorido, mas para quem tem curiosidade vale a pena conferir.