Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa | Brota no telão pro desespero do seu ex!
Depois de um começo infeliz, com a trindade da imbecilidade — Batman Vs Superman, Esquadrão Suicida e Liga da Justiça — a Warner parece ter encontrado a maneira adequada para trazer os heróis da DC para o cinema. Mesmo que ainda não esteja claro qual será o futuro do DCEU, o sucesso de Mulher Maravilha, Aquaman e Shazam! recuperaram a fé dos fãs, que encontraram em Aves de Rapina algo mais equilibrado e coerente, muito maior do que o "filme da muié do Coringa”.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, também conhecido como “Arlequina em Aves de Rapina” ou ainda pelo título não oficial, “como podemos colocar a única coisa realmente boa de Esquadrão Suicida em mais filmes para alavancar as bilheterias”, consegue equilibrar o tom, mesmo carregando o fardo de adaptar uma personagem incrivelmente complexa. Christina Hodson e Cathy Yan, que assinam o roteiro e a direção, respectivamente, criam um filme ágil e divertido que não compromete a visão dos fãs de quadrinho, ao mesmo tempo em que se mostra acessível para novatos da franquia.
A história simples, mas eficiente, dá espaço suficiente para o elenco brincar com seus personagens, mesmo que todos deem um passo para trás na presença marcante de Margot Robbie. Aves de Rapina pode parecer como um grande palanque para a Warner exibir a personagem título, mas não é só isso. Divertido e consistente, a produção entrega o que promete, muita ação e humor, com um temperinho de empoderamento.
É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
Sem entrar em detalhes cronológicos, mas evidentemente após os eventos de Esquadrão Suicida, o relacionamento tóxico do Coringa com Arlequina finalmente chega ao fim. Sozinha e disposta a provar sua independência, financeira e sentimental, a vilã muda o visual, adota uma mascote — uma carinhosa hiena (batizada de Bruce Wayne) — entra para um time de roller derby e manda um grande recado para o seu ex explodindo a "Ace Chemicals", o lugar onde o relacionamento dos dois começou.
Causando pela cidade, a Arlequina conquista uma série de desafetos que, por medo de uma retaliação de seu, até então consorte, nunca levantaram um dedo contra a moça. Mas agora, com o anúncio catártico do término com o Sr. C, Harleen Quinzel coloca um grande alvo em suas costas e agora todo mundo está atrás dela, e é aqui que as coisas começam a ficar interessantes.
Quando a história parece pronta para se prender totalmente na jornada de auto-descoberta de Arlequina, o filme abre espaço para as outras estrelas da produção, as verdadeiras Aves de Rapina. Com a ajuda da própria Harleen Quinzel que conta a história de diferentes ângulos, somos apresentados a Caçadora, a Canário Negro, a Detetive Montoya e Cassandra Cain (que nos quadrinhos já assumiu o manto da Batgirl) e descobrimos como cada uma também busca o seu espaço.
Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok...
Margot Robbie segue brilhante como a Arlequina. Se destacando como único ponto redentor do pífio Esquadrão Suicida, a atriz conseguiu transformar a vilã ensandecida em uma anti-heroína carismática e empoderada. Ao lado de um elenco igualmente impactante, a história reforça a luta das mulheres para marcar seu território em um mundo real ou fictício controlado por homens (heróis ou vilões).
Mary Elizabeth Winsted insere a dose certa de humor na perturbada Caçadora, enquanto Rosie Perez, na pele da frustrada Det. Renee Montoya, representa uma ancora de realismo dentro do universo fantástico de vingadoras mascaradas e superseres. Ella Jay Basco traz uma boa diversidade ao elenco como a pequena Cassandra Cain, que inadvertidamente se torna o MacGuffin da trama, que também conta com Ewan MacGregor em excelente forma na pele do deliciosamente odioso Máscara Negra.
Vale também um destaque muito especial para Jurnee Smollett-Bell que completa a equipe das Aves de Rapina como a heroína Canário Negro (famosa por seus poderes advindos da sua voz). A atriz canta (de verdade) e encanta com uma versão suave do clássico de James Brown, "It's a Man's Man's Man's World”, além de dar chutes bem altos.
Tudo Ok
Sem sombra de dúvida, o grande feito de Aves de Rapina é o de dar espaço suficiente para todas as personagens. Mesmo que Arlequina seja a protagonista e narradora, o filme sabe que a luta não é só dela. Mesmo com as liberdades poéticas da anti-heroina ensandecida, a história de cada uma dessas mulheres tem seu espaço na tela, conferindo muito dinamismo ao roteiro que, apesar de simplório, é muito eficiente.
Cathy Yan não perde o foco, mesmo tendo que acompanhar várias histórias ao mesmo tempo, e ainda entrega cenas de ação de alta qualidade. Com ótimas coreografias, que remetem diretamente ao excelente John Wick: De Volta ao Jogo — muito por conta da participação do próprio Chad Stahelski e sua companhia de dublês 87eleven —, a diretora equilibra bem a violência variando o estilo entre o puro exagero, a comicidade e momentos de alta tensão.
Os aspectos técnicos de Aves de Rapina são bem executados. A fotografia é suficientemente criativa para misturar o já característico clima sombrio metropolitano de Gothan City com uma explosão de cores, confete e purpurina próprios da cabeça da Arlequina. A extravagância visual da personagem se contrapõe aos cenários lúgubres, desfilando com figurinos exagerados e disparando tiros de confete, a Arlequina define seu lugar em um mundo normativo que tanto tenta enquadrá-la.
Se ele te trombar vai se arrepender
Apesar da ótima ideia de mostrar heroínas empoderadas, fica evidente que tudo começou como plataforma para a excepcional Arlequina de Margot Robbie. O acerto vem na construção do filme que, graças aos esforços de Christina Hodson e Cathy Yan, fortalecem o elenco como um todo e não se prendem somente a personagem titulo.
Diferentemente do que alguns podem pensar, não se trata do filme da “muié do Coringa”. As Aves de rapina se sustentam por si só, não dependem de ninguém, mas reconhecem a força na sororidade da equipe, e essa é toda a premissa do filme, mesmo que o conceito de mulheres fortes e independentes ainda pareça como pura fantasia para alguns.
Aves de Rapina não é o "filme da muié do Coringa", é filme de todas mulheres que tem que lutar pelo seu lugar no mundo
Sem cair em um grande rompante feminista, o filme entrega uma mensagem e de quebra um bom filme de ação. Mesmo com o futuro incerto do universo cinematográfico da DC, Aves de Rapina consegue se posicionar dentro da franquia e mostra algumas possibilidades do que está por vir, especialmente porque Christina Hodson, roteirista do filme também está atrelada ao filme do Flash, previsto para 2022, lembrando ainda que em 2020 já temos confirmados os lançamentos de Mulher-Maravilha 1984 e para o ano que vem estão engatilhados a nova iteração do Batman, do Esquadrão Suicida e o derivado de Shazam!, Adão Negro (focado no tradicional vilão do herói mágico).